sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Por que não mais ouvimos panelas batendo contra a corrupção?


El País - Luiz Ruffato
Desde que assumiu o governo, o presidente não eleito Michel Temer vem demonstrando verdadeiro desprezo pela moralidade pública.
Colocando-se acima das leis — ele, que se autointitula jurista! —, ignora as claras manifestações de irregularidades cometidas por seus subordinados, além de as consumar ele próprio, elevando a prática da corrupção, que infelizmente sempre existiu neste país, a mero acidente de percurso.
Temer se fortalece com o silêncio das ruas, alimentando-se da hipocrisia e do cinismo daqueles que, exatamente em nome do combate à corrupção, derrubaram a presidenta Dilma Rousseff, democraticamente eleita e contra quem não se produziu até hoje uma mínima prova de ilegalidade.
O episódio mais recente talvez seja emblemático da maneira como Michel Temer age — ou melhor, não age. Não se trata de denúncia da imprensa — aliás, a grande mídia brasileira há muito blindou o governo Temer — nem queixa de adversários, mas de acusação de um ministro a outro, ambos nomeados por ele e que, portanto, comungam de suas ideias. O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero disse, com todas as letras, ter sido pressionado pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, a, contrariando parecer do Iphan, aprovar a construção de um prédio de 31 pavimentos em uma área tombada de Salvador, onde por acaso Geddel possui um apartamento avaliado em 2,5 milhões de reais. Confrontado, o ministro admitiu ter advogado em causa própria, afirmando, com sarcasmo, que sua preocupação, no caso, era com a retomada do crescimento econômico.

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