Do blog da cidadania
Segundo o jornal Folha de São Paulo, o banco Santander demitiu quatro
pessoas por terem participado de um conluio que resultou em propaganda
política enviada ilegalmente pela instituição aos seus correntistas
“seletos”, ou seja, pessoas cuja renda ultrapassa 10 mil reais por mês.
Na matéria “Santander demitiu quatro por informe que irritou petistas”,
o jornal chama de “informe” texto que figurou em extratos de
conta-corrente que o banco enviou pelo correio aos seus correntistas
mais abastados, e qualifica como “agressiva” a reação do PT pelo que o
partido considera crime eleitoral.
A matéria ainda “acusa” o PT de ter “pressionado” o banco para que
demitisse os envolvidos no envio do texto acima. Todavia, o
vice-presidente de Comunicação do Santander, Marcos Madureira, nega:
“Não recebemos, e nem aceitaríamos, qualquer tipo de pressão externa
para adotar as medidas que tomamos”.
Vale comentar que a Folha não explica que tipo de benefício o governo
Dilma auferiu com a demissão dos funcionários responsáveis pela
propaganda política ilegal. Na verdade, quem se beneficia pelas
demissões é o banco, pois podem ajudá-lo a evitar problemas com a
Justiça Eleitoral, já que é ilegal fazer propaganda política por esse
meio.
A propaganda política ilegal foi redigida pela agora
ex-superintendente de investimentos do Santander Sinara Polycarpo. Além
dela, três outras pessoas que poderiam ter impedido que cometesse o
crime eleitoral por terem posições hierárquicas superiores também foram
demitidas por não terem agido como deveriam.
Mas o mais interessante é que, ao visitar o perfil de Sinara no
Facebook, descobre-se que, muito provavelmente, ela transformou suas
idiossincrasias político-eleitorais em “analise” para os clientes de seu
empregador.
O perfil da ex-superintendente de investimentos naquela rede social é
“fechado”, ou seja, só os seus “amigos” virtuais podem ler o que ela
escreve, mas, por alguma falha do Facebook, é possível acessar suas
mensagens antigas.
Em 7 de abril do ano passado, por exemplo, Sinara compartilhou no
Facebook reportagem da mesma Folha de São Paulo que afirmava que a
presidente Dilma seria “leniente com a inflação”. Nesse
compartilhamento, a ex-funcionária do Santander pôs um comentário:
“Aécio para presidente”.
À época, a candidatura Aécio Neves não passava de especulação, mas
Sinara já integrava o contingente de simpatizantes do PSDB que advogavam
por sua candidatura. Como se sabe, sua preferência foi vencedora.
Parece bem provável que Sinara tenha feito muitas outras apologias ao
ex-governador de Minas, o que sendo feito em seu perfil em uma rede
social é absolutamente legítimo. Contudo, vender suas preferências
políticas como “análise” aos clientes de seu empregador, não é.
Em entrevista
que concedeu à revista Exame e que foi comentada pelo blogueiro do UOL
Josias de Souza, a autodeclarada eleitora de Aécio diz que sua
trajetória profissional é “impecável e bem-sucedida” e que “jamais
poderia estar associada a qualquer polêmica”. E decretou que “o assunto
já se esgotou”.
Assim como o blogueiro do UOL especula que o vice-presidente de
Comunicação do Santander mentiu ao dizer que o governo não pressionou o
banco a demitir os funcionários responsáveis pelo crime eleitoral em
questão, este blogueiro especula que Sinara pode ter feito um acordo com
seu ex-empregador.
Talvez o banco lhe tenha conseguido outra posição em alguma empresa
amiga ou coligada, talvez lhe tenha oferecido uma bela compensação
monetária.
Sinara, nem de longe demonstra estar contrariada com a demissão.
Muito pelo contrário, parece muito segura. Inclusive, afirma que irá
viajar “até o dia 25”. Pelas fotos em seu perfil no Facebook, parece
gostar da Europa.
Ao contrário do que o Santander alega, portanto, pode-se dar uma de
Josias de Souza ou Ali Kamel e fazer um “teste de hipóteses”: será que o
banco não compactou com a propaganda eleitoral nos extratos de seus
clientes e encenou uma farsa com essas demissões?
Aliás, quando é que a Justiça Eleitoral vai se pronunciar sobre esse episódio?