Por Luiz Inácio Lula da Silva, em seu Facebook -
A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de
carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela
recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A
família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos
órgãos.
Relembre texto postado pela jornalista Hildegard Angel em homenagem à ex-primeira-dama:
Hildegard Angel, em seu blog
"Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de
deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes,
críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas.
Jamais foi chamada de "a Cara" por ninguém, nem teve a imprensa
internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e
partidários fizeram sua defesa. À "companheira" número 1 da República,
muito osso, afagos poucos. Ah, dirão os de sempre, e as mordomias? As
facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa
sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as
hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que
foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da
mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes
provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos
infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o
casal, a família? Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva
precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de
maledicências e ataques. E ela teve.
Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido
nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel
tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade. Depois,
implicaram com o silêncio dela, a "mudez", a maneira quieta de ser. Na
verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê,
quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é
profissão? Ah, mas tudo que "eles" queriam era ver dona Marisa Letícia
se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade
venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso,
com seu colar poderoso de doutorados e mestrados. Agora, me digam,
quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter
um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no
Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e
reservada, como tem Marisa Letícia. E não são também em grande número
aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o
respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre
feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente
manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom?
Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero
o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade. Foi
um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido
presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A
mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias,
celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e
as brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a
simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso
solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula
colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes
causasse desconforto. Imprensa colonizada e tola, metida a chique.
Fazem lembrar "emergentes" metidos a sebo que jamais poderiam entender a
beleza de um pau de sebo "arrodeado" de fitinhas coloridas. Jornalistas
mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio,
levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida,
nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João
Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de
Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos,
onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de
Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir,
no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde
antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo.
Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os
Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.
Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio
às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da
Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os
abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram
os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada
dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada. No poder, ao lado
do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas
visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento
percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma
preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o
gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do
Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando,
desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais
elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até,
nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita.
Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade,
não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma
injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos
cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor!
Cobraram de Marisa Letícia um "trabalho social nacional", um
projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura
malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das
mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.
Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube
fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e,
se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso,
segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas
em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas,
sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira
do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões
dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi
companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo. Foi amável e
cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de
episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como
primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta,
se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma,
com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais
escasseiam.
Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado
por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo
isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder
para lhe fazer a Justiça que merece."