Por Ayrton Maciel, do Jornal do Commercio, especial para o Blog de Jamildo
Fim de festa. Carnaval é página virada. Começa 2013. Traz nos meandros e
nas entrelinhas da política uma pergunta irrespondível, hoje: quem será
o candidato da direita, em 2014? Véspera de ano presidencial, no País
está colocada uma candidatura – supostamente sólida, exceto que lhe caia
uma hecatombe econômica –, enraizada socialmente e consolidada
politicamente, embora em base heterodoxa, em parte frágil e a mercê de
interesses restritos: a da presidente Dilma Rousseff.
A pergunta é, então: quem vai lhe opor? Desde a redemocratização – um
quarto de século se foi –, não há renovação. Os quadros políticos são os
mesmos. Apenas estão mais velhos.
Na ausência de conceitos ideológicos e preceitos doutrinários dos
partidos brasileiros, há hoje um espaço aberto. Indefinido. Um vazio de
nomes que, movido por essa indefinição, estimula ambições pessoais,
suspeitas entre aliados, especulações sobre conspiração, infidelidade,
oportunismo. Um processo que prioriza a ‘má política’, que desconsidera
projetos coletivos e as relações ditadas por regras de convivência, como
a lealdade. A dificuldade de renovação tem, na década mais recente,
influência do misto de ‘comodismo com conformismo’, em razão dos
indicadores de progresso e da sensação de maior partilha e bem estar
social, aspectos da concreta ascensão de parcela significativa da
população.
A ideia despolitizada de que, numa economia crescente e de fundamentos
estáveis, que supera tempestades – como as da prolongada crise mundial
–, a oposição não cresce ou, absurdamente, não é necessária (como no
caso de alguns Estados da federação), acabou prevalecendo. A oposição
brasileira não formou quadros. É neste contexto que hoje a direita está
se consumindo. Tem propósito, mas não tem nomes.
O projeto nacional da direita resume-se a retirar, a qualquer custo
político, o PT do poder. Um partido que nasceu sob bandeiras reclamadas
pelos brasileiros, apropriou-se e tornou-se referencial desse discurso –
até desconsiderando legendas ideológicas próximas – e que, acabou
atingido e combalido pela perda da presumida exclusividade da lisura na
coisa pública. Desde o “mensalão”, essas bandeiras foram recolhidas das
campanhas eleitorais, o que não impediu a permanência do PT no poder,
pela boa governança da economia e pela teia de instrumentos de
assistência social.
A direita está órfã. Traduz-se pelo que é reproduzido pela grande mídia
do sudeste, encabeçada pelo triângulo São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro. Órfã de líderes e de candidato. A direita formadora (de
opinião) nacional, aflita com o vazio para o ano presidencial de 14,
busca - desesperadamente – um nome “para chamar de seu”.
A angústia deixada pelos sucessivos fracassos do PSDB,
ex-centro-esquerda, maior partido de oposição, revela a inexistência de
alternativa. Irá apostar no senador e ex-governador de Minas, Aécio
Neves? Separado, adepto da vida noturna, flagrado pela lei seca, bon
vivant, mas que, em dois anos, não conseguiu sequer marcar sua presença
no Senado. Irá, o PSDB, ressuscitar José Serra, depois da derrota
humilhante à Prefeitura de São Paulo? Um esperto apostador, neste
momento, não apostará na bolsa de apostas. Vai esperar, na esperança de
um novo nome. Não, necessariamente, um novo político, com novas
práticas.
Plagiando o ditado, a direita poderá dizer: “se não posso com o
adversário, vou buscar seu opositor dentro dele”. Acreditar que alguém,
no conjunto das forças governistas, vai se colocar na disputa para
derrotar o PT e desalojá-lo do poder é a posição mais viável para a
direita nacional. Aécio, por falta de entusiasmo e pelo que até então
não disse, poderá ser rifado, facilmente.
Não sem motivo, os petistas estão divididos. De barbas de molho, o alto
comando - diga-se, a cúpula nacional – bate cabeça para encontrar a
melhor posição momentânea. E a melhor forma de enfrentamento, se o nome
alternativo da direita for o governador de Pernambuco, Eduardo Campos
(PSB). Metade da cúpula, majoritariamente paulista, quer começar a
bater; a outra metade, puxada e fiel a Lula, acredita que o
ex-presidente – por amizade sólida – convencerá o aliado socialista a
adiar o projeto. Como o PT tende a ir aonde Lula vai, deve prevalecer o
pragmatismo ‘lulista’, que conterá tanto os que queiram ir ao confronto e
quanto os projetos infieis. Como velho sindicalista, Lula deve
acreditar que conseguiu dar mais rasteira do que levou.