Na semana passada, as grandes atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg se beijaram na novela das nove. As duas têm 85 anos e interpretam um casal de senhoras que vivem juntas, como acontece em muitos lares brasileiros.
Um deputado do PSDB, o pastor João Campos, descreveu a cena como um "estupro moral" destinado a "afrontar os cristãos". Líder da Frente Parlamentar Evangélica, ele pediu aos fiéis que boicotem a novela e seus anunciantes. Se for obedecido, milhões de donas de casa terão que mudar de canal e marca de xampu.
Nesta terça, a Comissão de Educação da Câmara fará uma audiência pública para discutir a "doutrinação política e ideológica nas escolas".
Um deputado do PSDB, Izalci Ferreira, marcou a sessão. Por telefone, ele explicou que o governo tem usado professores e livros didáticos para pregar o homossexualismo e "transformar o Brasil na Venezuela". Perguntei que ideologia o preocupava tanto. "Não sei se é comunista, anarquista ou socialista. É uma mistura", ele respondeu, antes de citar a sobrinha de 5 anos como vítima da doutrinação. "Outro dia, ela pegou um livro para colorir e estava cheio de estrelinhas. Quando vi, ela tinha colorido todas de vermelho", contou o tucano, dizendo-se indignado.
No último dia 13, parlamentares discursaram sobre as manifestações marcadas para o domingo seguinte.
Um deputado do PSDB, Delegado Waldir, acusou o governo de censurar um artigo de Arnaldo Jabor. Passou a ler um texto primário, falsamente atribuído ao cineasta. "Tudo fica ridículo diante da ditadura, ditadura mesmo, do lulopetismo, a maior ditadura do mundo", esbravejou, na tribuna. "O Brasil é uma ditadura!", bradou outras quatro vezes.
Uma direita tacanha está sequestrando o partido de Covas, Montoro e FHC. Se Aécio Neves não explicar aos colegas que o Estado é laico e que a Guerra Fria acabou, corre o risco de disputar as próximas eleições em um Tea Party tupiniquim.
Por Bernardo Mello Franco - Na coluna da Folha