O presidente Bolsonaro e o ministro Moro - Foto Orlando Brito
O estilo Bolsonaro de fritar ministros alterna o fogo alto da frigideira com momentos em banho-maria. Depois de quase reduzir seu ministro da Justiça a pó, mandando demitir o presidente do Coaf, tirando a prioridade do pacote anti-crime no Congresso e afirmando que Sergio Moro não decide mais as coisas “com uma caneta”, Jair Bolsonaro pegou o ministro e levou-o para sua “live” desta quinta e para o café da manhã de hoje no Alvorada.
Lado a Lado, Bolsonaro e Moro conversaram com os jornalistas embaixo da mangueira que fica na entrada do Palácio. Pareciam estar em total afinidade e congraçamento. Mas não é bem assim. A imagem e as declarações mostraram que o nome do filme ali era “O
enquadramento do superministro”.
Perguntado sobre o Coaf, Bolsonaro confirmou, sim, o propósito de subordinar o órgão ao Banco Central – “para despolitizá-lo” – , o que, segundo ele, colocará nas mãos de Campos Neto a prerrogativa de nomear para sua direção um funcionário de carreira do órgão. Em outras palavras: cai fora mesmo o amigo de Moro, Roberto Leonel, que criticou a decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, de exigir autorização judicial para acesso do Ministério Público a dados do Coaf – medida que beneficiou Flávio Bolsonaro.
Ao lado de Moro, o presidente foi um pouco mais polido do que na véspera ao falar sobre a não-prioridade do pacote anticrime. Mas não mudou de posição e defendeu a primazia da Previdência e da Tributária na pauta parlamentar.
Acima de tudo, o que ficou nítido ali na entrevista, talvez pela primeira vez, é quem manda e quem obedece nesses novos tempos. Moro, que na véspera já fizera um gesto que parecia ter a intenção de agradar o chefe, representando contra o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por calúnia, fez uma demonstração suprema de boa vontade.
Sempre bem tratado, e até transformado em herói pela grande imprensa, o ministro da Justiça elogiou e justificou a medida provisória de Bolsonaro que desobriga as empresas de publicarem seus balanços em jornais impressos – que o presidente voltou a defender citando, em tom jocoso, os mais de R$ 1 bilhão que os grandes jornais faturam com essa publicação. Quem te viu, quem te vê.