Catarina Alencato – O Globo
Em um breve discurso, de menos de oito minutos a representantes das centrais sindicais, o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse que o Brasil nunca terá paz enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiver preso e voltou a criticar promotores e “juízes que fazem política”. Ele chamou de “aberração” as idas e vindas do Judiciário em torno da soltura do petista. A sinalização à esquerda foi feita para plateia historicamente ligada ao PT, e no mesmo dia em que viu se esvair a possibilidade de fechar uma aliança com o bloco do centrão.
— O Brasil nunca será um país em paz enquanto o companheiro Luiz Inácio Lula da Silva não restaurar a sua liberdade — disse.
Ciro criticou o embate de decisões sobre a soltura ou não de Lula, entre desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e o juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal, ocorrido no dia 8 de julho.
— (Todo dia tem) procurador fazendo crítica, juiz fazendo política, invadindo as atribuições uns aos outros dos poderes. Aquele domingo foi uma das coisas que eu mais assustado assisti como um velho professor de direito. Como è que pode tanta aberração lidando com coisas graves como a liberdade do maior líder popular do país ou o próprio direito, regra de convivência que substitui a lei do mais forte, a prepotência da violência e o caos — discursou.
Antes dele, o representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Ismael Cesar da Costa fez uma fala contundente, classificando Lula como “preso político”.
Ciro encerrou seu breve discurso fazendo uma mea culpa. Reconheceu que comete erros, e tentou justificá-los contando que dorme no máximo quatro horas por noite, e que fala todos os dias quase 10 horas.
— Não sou o dono da verdade, não sou poupado do erro, eu cometo erros. Eu cometo erros e não me custa nada reconhecer erros. Mas nenhum deles foi por deserção do que me trouxe à vida pública de volta, que é compromisso e o amor a essa terra e esse povo — confessou.
O evento aconteceu num pequeno auditório na sede do PDT em Brasília, que não lotou. Em seguida, Ciro partiu para uma reunião com mulheres do PDT. Ao pedir a palavra, prometeu dar metade dos ministérios às mulheres, caso seja eleito.
— Preparem-se para além de sugerir, virem fazer no meu governo — disse, sob fortes aplausos.
Ciro chegou ao PDT pelos fundos, evitando a imprensa e sentou-se à mesa com o semblante tenso. Para amanhã, quando será oficializado candidato do PDT na convenção nacional, ele preparou um discurso em que explicará seus “12 passos para mudar o país”. Segundo Cid Gomes, irmão de Ciro e um dos coordenadores da campanha, o principal objetivo é “traduzir para a linguagem popular” tudo aquilo que o presidenciável já vem dizendo a plateias mais especializadas sobre o seu projeto nacional de desenvolvimento.
— Falar de ajuste fiscal é uma coisa árida. O povo quer ouvir falar é de saúde, de educação, de segurança. Será um discurso lido e a mensagem vai ser de que ele vai fechar compromissos populares. Ele vai falar de universalização da pré-escola, de ampliar o ensino profissionalizante_ contou Cid ao GLOBO.
Os doze temas de seu programa de governo que serão apresentados amanhã são: segurança; saúde; educação; combate à corrupção; políticas afirmativas para mulheres, negros e LGBT; ciência, tecnologia e inovação; cultura; soberania nacional; emprego; economia e meio ambiente; infraestrutura e programas sociais. O pedetista montou o programa com a ajuda do professor Nelson Marcone, da Fundação Getúlio Vargas e do economista Mauro Benevides Filho.