Por Fernando Castilho, do JC Negócios,
Agora
que o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, se
apresentou em rede nacional como possível candidato a Presidência da
República, ainda que não tenha confessado esse desejo, cabem dois
minutos de conversa sobre quais os próximos passos que agora terá que
dar e decidir o que, afinal, ele vai fazer uma vez que todo mundo ficou
sabendo das críticas que fez ao governo do qual ainda participa.
O
programa do PSB teve uma plasticidade interessante para quem se
apresenta ao País, mas parece claro que o governador usou-o para avisar
que vai desembarcar do governo Dilma e seus amigos, mas não agora.
Quando diz que “alcançamos e mantivemos a estabilidade econômica e
tiramos juntos, mais de 20 milhões de brasileiros da miséria absoluta”,
Eduardo Campos se inclui credor no saldo positivo dos Governos Lula e
Dilma especialmente quando afirma que essas mudanças só foram possíveis
porque “o alicerce de um amplo pacto social e político foi a união de
forças que o país exigiu toda vez que precisou passar para um novo
patamar histórico”. O problema é que dito desse jeito “ele” e o novo
patamar histórico.
No fundo, no fundo, Eduardo Campos está, na
política nacional, numa posição muito parecida com a do capitão Théo, da
novela Salve Jorge, enrolado num romance entre três mulheres
espetaculares sem saber o que fazer.
Mal comparando (em favor do
ator Rodrigo Lombardi, é claro), Eduardo Campos precisa agora decidir
se fica com a Morena, uma espécie de PT do capitão que, apesar das
diferenças de classes sociais, ainda teria muito a lhe oferecer na
comunidade se ele ficasse quieto; a tenente Érica, um exemplo típico do
PSDB, de classe social mais alta, gente de bem, organizada e pra onde se
bandeasse teria condições de viver na classe média tranquila já que,
desde que era adolescente, vive com o grupo, embora não seja da mesma
turma; ou se atira nos braços da perigosíssima Lívia Marini que tem um
enorme potencial de risco, mas é a única forma de virar candidato e
chefe de um novo grupo embora isso signifique ter que se juntar com uma
patota de partidos que fariam os integrantes da gang que Marini comanda
ser considerados meninos em termos de atos contra o eleitor.
O
diabo é que o romance com Morena, do PT, e Érica, do PSDB, condenaria
Eduardo Campos a uma vidinha mais ou menos. Filhos, família, seja na
comunidade periférica ou num apartamento do programa Minha Casa, Minha
Vida, com Morena. Assim como o casamento com a caserna, com a tenente
Érica, onde iria trabalhar com a mulher na coudelaria do regimento e
dividir os finais de semana com um coronel cuja mulher é um pé no saco
em termos de conversa, além de ser um chiclete colado no sapato militar.
O
problema é quando ele começa a cuspir no prato que vem comendo há anos
sem sair da mesa, o que deixa a cada dia os seus aliados do PT mais
irritados. Esse conversa de dizer que temos um “Estado que pouco tem
avançado como provedor de serviços de qualidade e como agente de
desenvolvimento”. E “que temos relações extremamente desiguais na
divisão de recursos e responsabilidades entre a União, os Estados e os
Municípios não foi dita antes de virar candidato e só teria sentido de
não estivesse mais no governo”.
E quando adverte que “ou
avançamos agora ou corremos o risco de regredir nas conquistas do nosso
povo” e “reconhece que será necessário ter humildade de admitir e a
coragem de enfrentar os problemas que estão aí, batendo à nossa porta”
só serve para sustentar o futuro slogan da campanha e que “O Brasil
precisa dar um passo adiante” significa dizer que vai sair pelo Brasil
em campanha embora negue. E é ai que sua trajetória fica cada vez mais
parecida com a do galã da novela.
O interessante de uma relação
com a Lívia Marini, ou de uma campanha solo, é que, apesar de todo o
risco, a perspectiva de um romance tórrido é muito mais desafiadora e
estimulante. Não que Cláudia Raia seja menos desafiadora do que a Nanda
Costa ou a Flavia Alessandra. A bem da verdade, com essa dupla qualquer
brasileiro estaria próximo do Senado que, em termos de trabalho na
política, é o lugar mais próximo do Céu que existe na terra. Mas, quem
disse que Eduardo Campos está a fim daquela pasmaceira daquela casa de
anciãos?
Para ele, bom mesmo é a perspectiva de uma carreira
solo ainda que para isso venha juntos um pacote de gente e partidos que
deixaria corados o Russo (Adriano Garib) e a malvada Wanda (Totia
Meireles) em termos de periculosidade. Teria que gerenciar uma campanha
se juntando com tudo que é gente interessada nos lucros de uma terceira
via. E ainda os rancores da família de Morena, ou melhor, do PT, cuja
mãezona Dilma Rousseff infernizaria sua vida. Assim como uma sogra chata
como o Fernando Henrique Cardoso a patrulhar sua vida cotidiana. Mas e
daí?
Daí é que, como o capitão, ele reclama, mas, não apresenta
soluções para esse imbróglio amoroso. Certo, somos um dos maiores
produtores de alimentos do mundo, mas falta infraestrutura para estocar e
transportar a nossa produção. Bom qual é a sua proposta?
É
verdade, temos a matriz energética mais limpa do planeta, e gastamos R$
400 milhões por mês para manter termoelétricas poluidoras. Mas, se o
mercado não tivesse inviabilizado o projeto teríamos aqui em Suape uma
usina a óleo combustível.
Também é verdade que tiramos 20
milhões de brasileiros da pobreza, e que nos arredores do Distrito
Federal, no Vale do Jequitinhonha, no Semi-árido, no Vale do Ribeira,
temos um país que ainda não chegou ao século XXI. Bom, não precisava ir
tão longe. A situação dos trabalhadores da Zona da Mata não difere muito
dos que temos a menos de 100 quilômetros do Recife. E o governo do
Estado fez o que para mudar estruturalmente isso?
Também é
verdade que abrimos as portas da Universidade para brasileiros que nunca
tiveram acesso ao Ensino Superior, que faltam creches, e no Ensino
Fundamental, precisamos melhorar muito. Essa frase dá aos seus
adversários o direito de perguntar: Certo, e como Pernambuco mudou isso?
Ainda
bem que no programa do PSB está dito que temos um país que nos estimula
e o dono de seu destino político, Eduardo Campos, candidato, não teria
que assumir o comando do grupo de Lívia. Por que são os amigos dela que o
assustam. O medo é o desconhecido de 2014. Mas, fazer o que com a
perspectiva de noites tórridas num Brasil que mais parece a Turquia?
A
possibilidade de ser o único assistente de danças privadas como as da
Bianca (Cléo Pires) que Lívia Marini (lembre-se que Cláudia Raia já
nasceu dançando) facilmente poderá lhe proporcionar, é o que o estimula.
E mais: com que mulher ele estaria mais na mídia do que Lívia Marini,
ou melhor, numa campanha solo?
Há um mérito do programa onde o
governador ousa partir para o ataque de frente e diz que essa
responsabilidade no sentido de mudanças não é apenas do Governo Federal e
que é também dos Estados e Municípios, que precisam adotar uma nova
prática política, com mais transparência e participação popular. Mas,
que “faltam recursos aos Estados e Municípios”.
A afirmação
agrada muito a governadores e prefeitos, afinal, o dinheiro hoje está
mais concentrado nos cofres da União. Mas, de novo, abre a guarda para
cobranças mais duras quando diz que Estados e os Municípios estão
investindo mais do que o Governo Federal em setores como a Educação e a
Saúde, pois, quem banca o Fundeb é a União e assim como a maior verba
federal ainda é do SUS. De qualquer forma, ele faz bem ao denunciar que
mudanças fundamentais continuam sendo adiadas.
Eduardo Campos
sabe que seus passos abrem um risco potencial arrasador, caso a delegada
Helô (Giovanna Antonelli), ou melhor, Lula venha com toda sua tropa em
cima dele. Mas, e daí? Ele não quer Lívia Marini para ficar com ela para
sempre. Uma campanha com todos os penduricalhos que se agregam a ela é
feito uma grande paixão, tem prazo de validade. Um dia acaba e o sujeito
pode voltar a viver a vida dele.
O problema é quando for
preciso contrariar os interesses da velha política, que estão instalados
na máquina pública. Como ele espera fazer uma aliança com os partidos
que estão mais interessados em nacos do governo que em propostas? E o
que espera prometer na campanha quando afirma que “cargo público, tem
que ser ocupado por quem tem capacidade, mérito, sobretudo espírito de
liderança”. Ou como pretende tirar “um incompetente, nomeado somente
porque tem um padrinho político forte”.
Será que Eduardo
acredita que, tornando-se potencialmente concorrente, pode responder a
isso apenas com o sucesso de seu modelo de gestão agora replicado da
Prefeitura do Recife por Geraldo Júlio? O governador, mais do que
ninguém sabe fazer contas e deve ter segurança nessa afirmação.
Talvez,
no fundo, Eduardo Campos deseje mesmo é o que o capitão Theo quer hoje
enquanto briga consigo mesmo: noites de fortes emoções de uma campanha
com ele no comando. Não quer a tropa de Marini, ou melhor, os partidos
que tenta juntar para sócio. Muito menos os deseja como esposas num
futuro governo. E não quer saber com quem a Lívia Marino, ou melhor, os
aliados andam, ou o que comanda.
O que ele deseja é ser estrela
de uma campanha presidencial, como estrela solo. Ou, deseja mesmo,
levá-la de novo para uma cama king-size de um hotel cinco estrelas sob
lençóis de 300 fios de algodão egípcio, ainda que tenha que conviver,
por algum tempo, com um bando de malas. Talvez pense como a maioria dos
homens e mulheres: Mais vale uma louca paixão do que uma vida de não.
atenciosamente,