O governador Eduardo Campos sabia há
muito tempo que havia algo errado no Hospital Dom Moura. É possível,
porém, que o socialista desconfiasse que parte das denúncias contra a
unidade de saúde tivessem motivação política. O ex-presidente do PSB de
Garanhuns, Ivan Rodrigues, uma vez lamentou que a imprensa da cidade
estava sendo pautada por Altamir Pinheiro (Blog Chumbo Grosso), como se
as acusações feitas regularmente pelo guerrilheiro contra diretores do
HRDM não merecessem crédito. O advogado chegou a dizer a este repórter
que a investida contra Emília tinha o objetivo de lhe atingir, dada a
amizade dos dois.
Outro grupo, vinculado aos gestores do Hospital, atribuía as críticas e
denúncias ao Capital Hudson ou defensores dele, considerado até hoje o
melhor diretor que passou pelo Dom Moura, apesar de inúmeras tentativas
de acabar com sua imagem.
Na verdade o Altamir tinha e tem razão em muitas coisas, os funcionários
que fizeram denúncias anônimas merecem credibilidade e nunca percebi a
menor movimentação do Capitão no sentido de desestabilizar os diretores
do Hospital.
Eduardo Campos não deu o devido peso às informações da imprensa do
interior (os jornalistas da capital se omitiram dessa questão esses anos
todos, à exceção de uma ou outra nota do Magno), talvez preferindo dar
um crédito de confiança às pessoas que sempre foram fieis politicamente a
Miguel Arraes e ele próprio. Assim, sem fatos concretos, com denúncias
feitas por funcionários anônimos e com as campanhas políticas no meio
das crises (2010 e 2012), o governador protelou o quanto pôde a questão
do Dom Moura.
Apenas um dos seus fieis seguidores na cidade, filiado ao PSB de
Garanhuns, aconselhou ao governante mudanças na direção da unidade de
saúde, diante da gravidade dos fatos que por lá aconteciam. Foi no
entanto uma voz isolada na base do Governo e nenhuma decisão foi tomada.
Foi preciso então que uma empresa prestadora de serviços do Hospital
levasse uma denúncia à Secretaria de Saúde do Estado, para enfim se
começar um processo de investigação sério sobre possíveis
irregularidades no Dom Moura.
A essa altura muita coisa já se sabe, reveladas pelo próprio delegado
encarregado do caso, e outras ainda podem vir à tona, pois por todos os
lados pipocam histórias escabrosas envolvendo gente que trabalha na
unidade de saúde regional.
O titular deste blog conversou ontem à tarde com uma moça que atuou no
Dom Moura durante um tempo. Saiu por não aguentar conviver com "tanta
coisa errada". Segundo ela, Emília Pessoa está pagando um preço alto por
ter confiado em seus assessores. Na opinião dessa servidora pública a
ex-diretora nunca apresentou nem apresenta nenhum sinal de riqueza nessa
sua passagem pelo complicado cargo.
Outros, revela a ex-funcionária do Hospital, ostentavam mesmo o
enriquecimento rápido e fácil. Iam trabalhar com roupas e sapatos
caríssimos, faziam viagens até o exterior, construíram mansões e
compraram carros de luxo e nunca procuraram esconder sua rápida ascensão
social.
"Muitas dessas pessoas davam ordens e perseguiam humildes funcionários
usando o nome da diretora. Chegaram a fazer comunicados antipáticos e
falsificar a assinatura", revelou. Ela não isenta Dra. Emília, acredita
que ela atraiu a ira dos servidores por sua postura autoritária e
arrogante, mas está convencida de que a mesma não se beneficiou de
esquemas fraudulentos dentro do hospital na mesma proporção que seus
subordinados.
"Tinha casos gritantes. Um dos seus auxiliares tinha esposa fora e
quatro amantes trabalhando no hospital. Como ele bancava tudo isso se
não fosse com muito dinheiro, já que não é nenhum galã"?, questiona.
Minha fonte reconhece que é difícil para qualquer pessoa administrar o
Dom Moura. São quase 600 funcionários e segundo ela poucos deles
realmente têm compromisso com o serviço público. A safadeza vai da
faxina às enfermarias, começa nos vigilantes e chega nos médicos. Um
exemplo: são escalados dois plantonistas por dia. Cada um deve trabalhar
24 horas seguida para então ter um dia todo (ou dois) de descanso. Eles
combinam, cada um dá 12 horas de serviços, o que pega a parte da noite
aproveita mais para dormir, e recebem como se tivessem trabalhado o dia
todo. Existem profissionais que chegam a usar o Hospital Público para
descansar da trabalheira que têm em suas clínicas particulares.
Diante de um comportamento desses de médicos, enfermeiros, auxiliares de
enfermagem, dentistas, auxiliares administrativos, maqueiros,
vigilantes, copeiras, serventes, atendentes em geral... Só mesmo um
tenente ou capitão da Polícia Militar pra dá jeito, não é mesmo? É o que
muita gente pensa.
Particularmente, imagino que o Dom Moura precisa mesmo é de um bom
gestor. Alguém que seja da área médica, com capacidade administrativa e
sem vínculos políticos. Nesse sentido, me parece que o governador
Eduardo Campos e o seu secretário de Saúde, Antônio Carlos Figueira,
escolheram a dedo a pessoa que vem substituir Emília. Karla Freitas, a
diretora nomeada hoje, tem curso superior de enfermagem, especialização
em trabalhos com o SUS e experiência em dirigir um Hospital com o porte
desse de Garanhuns. Vem como técnica competente com aval do Governo, não
de um deputado que queria solucionar a crise dando um "presente de
grego" a Sandoval Cadengue.
Esse argumento de que Eduardo Campos afrontou Garanhuns porque está
trazendo alguém de fora é de uma pobreza total. Coisa de mente pequena
mesmo. Nosso município tem mais de 130 mil habitantes, é uma cidade
cosmopolita, com universidades que atraem professores e estudantes de
todas as regiões do país. Pelo nosso comércio mesmo passam diariamente
consumidores de centenas de cidades da região e do Nordeste. Chega de
provincianismo. De que adianta indicar um gestor de Garanhuns para ficar
enrolado em problemas políticos e administrativos? É melhor alguém
neutro, com capacidade de gestão e que tenha condições de pôr ordem na
casa.
Quem sabe após essa longa e lenta agonia o Hospital Dom Moura entra num
novo ritmo. Vai depender muito da nova diretora, mas não só dela. Todos
deviam se conscientizar da importância dessa unidade de saúde para a
cidade, o Agreste e Pernambuco e esquecer pelo menos por um segundo seus
interesses pessoais.
Médicos, enfermeiros, auxiliares, dentistas, serventes, funcionários do
HRDM em Geral, por que não se unirem todos por uma causa maior? Por
Garanhuns, para tirar o Dom Moura das páginas policiais e transformá-lo
numa referência em Pernambuco na área de saúde. Sabemos que existem
problemas estruturais, que os salários são baixos, o ambiente é
pesado... Sim, tudo isso é verdade. Mas qualquer um escolhido para
gestor vai trabalhar com isso. E o líder, o bom administrador, é
exatamente aquele em condições de superar condições difíceis.
Assim, é precipitado julgar quem ainda não assumiu. Formar opinião sobre
quem não se conhece. Se Karla Freitas se preparou para trabalhar como
gestora de saúde, se tem currículo, se o governador e o secretário
confiam nela, vamos também dar-lhe um crédito. Se ela errar será mais
uma a sofrer nas mãos do Dom Moura, caso acerte será bom para o Hospital
e para a cidade.
Começa uma nova história a partir de hoje. O que passou, é página
virada, embora a polícia continue trabalhando e um dos promotores
públicos já tenha até admitido pedir a prisão de algum dos indiciados
pela irregularidades cometidas.