247 – O colunista da Istoé Paulo Moreira Leite
diz que a oposição começa a perder a batalha pela criação da CPI da
Petrobras diante dos dados divulgados recentemente sobre a compra a de
Pasadena. Leia:
OPOSIÇÃO COMEÇA A PERDER EM PASADENA
Dados dos últimos dias mostram que a compra da refinaria norte-americana foi um negócio menos feio do que se divulgou
O
governo mostrou-se desarticulado e dividido no debate sobre Pasadena,
assunto que a população acompanha de olhos atentos – justamente por
compreender o lugar da Petrobrás no desenvolvimento do país.
Ocorreram acusações e cobranças que só beneficiam os adversários de Dilma-Lula.
O balanço de três semanas de denúncias mostra que aí reside o maior risco.
O debate sobre a compra de Pasadena (eu acho esquisita essa mania de
falar Pasadíiina, com pronuncia inglesa para uma palavra castelhana)
está ficando mais claro do que parecia no início.
E isso não é bom para a oposição, que queria transformar o negócio no escândalo de entrada da sucessão presidencial.
Não sou especialista em petróleo e por isso evitei fazer comentários e
observações antes da poeira baixar. Diante dos dados surgidos nos
últimos dias, a pura lógica comercial permite considerar que a compra de
50% da refinaria, entre 2006-2007, era um bom negócio.
Tanto é assim que, quando surgiram as primeiras divergências, os
belgas se ofereceram para desfazer a compra e pegar a empresa de volta.
Se fosse aquele mico escandaloso, do qual teriam tido a chance de se
livrar aplicando um conto do vigário no governo brasileiro, a reação
natural seria de deixar a Petrobrás com o prejuízo, vamos combinar.
Em vez disso, em 2007 os belgas fizeram duas tentativas para desfazer o negócio. Engraçado, não?
Também
parece claro que boa parte dos esforços da oposição para criminalizar o
diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró não funcionaram.
Cerveró deu um depoimento firme e consistente no Congresso, a tal
ponto que os deputados do PSDB e do PSB foram embora trocando sorrisos
amarelos.
No esforço para seguir justificando a convocação de uma CPI exclusiva
para debater o caso, um deles chegou a dizer que nesta situação seria
mais fácil promover um massacre sem apelação do depoente.
Quanto espirito cívico, quanta preocupação para esclarecer um negocio de US$ 1,2 bilhão, não é mesmo?
Em sua entrevista ao Estado de S. Paulo, Sérgio Gabrielli, que
presidia a Petrobrás no momento da compra e assume sua responsabilidade
pelo que ocorreu, colocou um dado importante. Lembrou que em 2014, com a
nova conjuntura econômica americana, Pasadena deu um lucro de US $ 54
milhões num único mês.
Fazendo uma projeção linear de ganhos futuros, Gabrielli argumentou
que, a seguir nesse ritmo, em dez meses o prejuízo do negócio terá sido
coberto. Pode ser otimismo excessivo, claro. Mas, como nada indica uma
recaída no crescimento norte-americano nos próximos meses, a projeção
faz sentido.
Coube a Gabrielli esclarecer um ponto importante sobre a compra.
Lembrou que grande parte do custo final se refere ao que a Petrobrás
teve de pagar a Astra Oil por decisão da justiça norte-americana.
Estamos falando de conflitos jurídicos, que tiveram um resultado
desfavorável, e não de pagamentos feito voluntariamente, numa insinuação
que tinha a finalidade de dar a impressão de que tudo havia sido uma
compra superfaturada e a partir daí sustentar ...você sabe o que.
Ninguém precisa imaginar que não podem aparecer novos esqueletos no
armário da Petrobrás. Não se sabe, até agora, o que se apurou em torno
dos negócios de Paulo Roberto da Costa, o ex-diretor que se encontra
preso. Também não se sabe se os R$ 10 bilhões do doleiro Alberto Youssef
podem trazer informações relevantes a respeito. É preciso aguardar
pelas investigações.
O que está claro, hoje, é o lugar da oposição e do governo.
Com apoio de empresários que desde a fundação da Petrobrás se dedicam
a combater o monopólio estatal do petróleo e defendem a privatização da
empresa, a oposição contou com muitas mãos amigas para encenar um
teatro que não lhe cabe.
Fingir que quer defender a empresa quando sua história e seu discurso
aponta na direção contrária. Não custa lembrar que em 2003 o patrimônio
em Bolsa da Petrobrás se encontrava em US$ 15 bilhões e que hoje vale
US$ 180 bilhões.
Ou seja: se for para fazer brincadeiras estatísticas, a oposição ainda deve R$ 165 bilhões.
Em qualquer caso, é bom relativizar o valor da Petrobrás na Bolsa. A
remuneração de acionistas não pode ser o único critério para se julgar o
desempenho de uma empresa que não é um investimento privado igual a
tantos outros, mas foi formada com recursos da população – ou do
contribuinte, com diz a turma do impostômetro. Sua finalidade é atender à
necessidades do país e não enriquecer acionistas.
A verdade oculta sobre a desvalorização da Petrobrás consiste em
dizer que ela deveria reajustar o preço dos combustíveis, o que deixaria
seus acionistas felizes. Pode ser. Muita gente gosta de lembrar que
milhares de assalariados investiram seu FGTS em ações da Petrobrás e
agora perdem patrimônio. Verdade.
Mas um salto para equiparar o preço dos combustíveis ao mercado
internacional teria efeitos daninhos para as famílias de trabalhadores,
também. Os preço dos alimentos e dos principais bens de consumo iria
subir consideravelmente, criando dificuldades no orçamento doméstico,
aqui e agora, além de gerar novas pressões inflacionárias.