247 - Os senadores brasileiros, liderados por Aécio
Neves (PSDB), decidiram retornar ao Brasil, na noite desta quinta-feira
(18), após ver fracassar a tentativa de visitar, em Caracas, na
Venezuela, a pretexto de uma "missão política e diplomática", o líder da
oposição naquele país, Leopoldo López, que está preso. Pelo Twitter,
Aécio disse que a comissão tentou, mais de uma vez, se dirigir ao
presídio, mas "o trânsito, sob influência dos bloqueios", tornou a
iniciativa "impossível". Em seguida, ele publicou que o grupo voltou ao
aeroporto e deve retornar ao Brasil. O também tucano Aloysio Nunes
confirmou que o grupo desistiu da missão.
"O que aconteceu em Caracas foi uma coisa vergonhosa. Esse governo
venezuelano, Nicolás Maduro, enlouqueceu. Ele criou uma enorme confusão
no trânsito na cidade, mobilizou um grupo de 200 pessoas para nos
cercarem, nos agredirem, jogarem pedras. O governo brasileiro tem o
dever de falar alto e grosso contra esses assassinos. Queremos a paz na
Venezuela", afirmou Aloysio, em áudio divulgado em suas redes sociais.
No Twitter, o fato está sendo encarado como um "mico internacional". A
hashtag #AecioMicoInternacional tem sido replicada por centenas de
internautas, que ironizam a tentativa do senador tucano de visitar a
Venezuela.
A Câmara dos Deputados aprovou uma moção de repúdio aos atos de
protesto contra a delegação brasileira de senadores que foi à Venezuela
para verificar as condições dos opositores ao governo venezuelano presos
naquele país.
O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) disse que o episódio ocorrido
na Venezuela confirma que houve um movimento organizado e contrário aos
senadores líderes de oposição brasileiros em missão naquele país. “Esse
Parlamento dá uma demonstração clara de repúdio contra agressões
sofridas por brasileiros na Venezuela”, disse ele, ao defender a moção
de repúdio por conta da intimidação sofrida por senadores brasileiros. A
moção foi apresentada pelo deputado Nilson Leitão (PSDB-MT).
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, relatou a conversa que teve
por telefone com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que foi acionado
pela presidente Dilma Rousseff para atuar no incidente.
“Ele alega que o governo brasileiro autorizou o transporte da
delegação em avião da Força Aérea Brasileira. Lá chegando, com proteção
policial, houve o deslocamento até o local da visita, feito com o
embaixador [brasileiro] seguindo em carro próprio e a delegação em um
micro-ônibus. No caminho, militantes tentaram agredir o ônibus, mas a
proteção policial funcionou para impedir qualquer desdobramento de
natureza mais grave”, informou Cunha ao Plenário.
“É claro que o episódio provoca uma tensão, e a delegação decidiu
retornar ao aeroporto e ao Brasil, com proteção policial aumentada. Essa
é a versão do ministro”, completou o presidente da Câmara, que cobrou
uma posição oficial do governo brasileiro sobre o episódio e a garantia
da integridade da comitiva de senadores.
Para o deputado Glauber Braga (PSB-RJ), no entanto, as informações
relatadas não eram suficientes para que a Câmara aprovasse a moção. “Por
enquanto, só tenho o relato de vossa excelência [Eduardo Cunha] e o
Twitter do senador Ronaldo Caiado [DEM-GO], com todo o respeito que
tenho por ele e sabendo de suas posições ideológicas, que são claras”,
disse Braga.
Já o líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), disse que a moção
não é nenhuma afronta ao governo venezuelano. “Essa moção do Parlamento
está enxuta, não acusa governos e fala do devido respeito a uma comitiva
parlamentar”, disse Alencar.
Posição do governo
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse
que o governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações
Exteriores, já está em contato com o governo venezuelano e tomando
providências. “É fato que houve o episódio. O Itamaraty já está
acionado. O governo está tomando todas as providências: primeiro, para
garantir a integridade física e o direito de ir e vir da delegação
brasileira”, explicou Guimarães.
“A presidente Dilma Rousseff já está acionando o governo da
Venezuela, e o nosso governo não vai aceitar qualquer ação do governo
venezuelano que comprometa o direito de ir e vir de líderes da oposição
do Brasil”, completou.
Mercosul
O deputado Celso Russomanno (PRB-SP), por sua vez, lembrou que a
entrada da Venezuela no Mercosul foi condicionada à autorização para que
os países membros pudessem fiscalizar o exercício da democracia naquele
país.
“A garantia de parlamentares brasileiros é o mínimo que se pode
exigir. Por lá, as coisas acontecem de maneira orquestrada. Certamente
para que os parlamentares não tivessem êxito no que foram fazer lá”,
disse.
A líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ), destacou que é clara
a luta político-ideológica que está estabelecida no Plenário. “A
informação sobre esse caso ainda está nebulosa. Não sei se foi marcada
ou se não foi marcada [a viagem]. Se a Venezuela sabia da visita. Não
sei como o processo se deu. Não devemos nos meter no processo de luta
política que está lá. Queria ver como seria a visita a uma cadeia
americana sem avisar”, indagou.
“Como se trata de parlamentares brasileiros, nós concordamos em votar
a moção, mas isso não retira de nós a demarcação clara de defesa da
autonomia da Venezuela”, disse a deputada.
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) leu uma nota publicada pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre o ocorrido na Venezuela.
"As democracias verdadeiras não admitem conviver com as manifestações
incivilizadas e medievais. Elas precisam ser combatidas energicamente
para que não se reproduzam”, diz a nota.
A comitiva de senadores de oposição do Brasil estava a caminho do
presídio em que está Leopoldo López, preso por atuar como líder
oposicionista ao governo de Nicolás Maduro. Participam da missão três
senadores do PSDB – Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes Ferreira (SP) e
Cássio Cunha Lima (PB) –, dois senadores do DEM – Ronaldo Caiado (GO) e
José Agripino (RN) – e Sérgio Petecão (PSD-AC).