Ontem, em nossa habitual Roda de Conversa quinzenal, no Bar Retalhos,
alguém se queixou de que “a sociedade está muito tímida”, referindo-se
ao nível de participação dos segmentos organizados na cena política
nacional.
Isto do ponto de vista de quem considera que há uma ofensiva
conservadora no País, que finca posições no Legislativo, no Judiciário e
na grande mídia hegemônica, cujo sentido essencial está em represar as
transformações em curso desde 2003.
Uma verdadeira onda conservadora, que encontra base em parcela
expressiva dos segmentos médios, que assistiram a ascensão social
inclusiva de mais de quarenta milhões de brasileiras e brasileiros,
porém não se sentiu igualmente beneficiados.
Alterar o padrão de mobilidade social não se dá impunemente, pois implica necessariamente transferência de renda.
Alguém perde em alguma medida para que outros possam ter.
No Brasil dos últimos doze anos, os que concentram a produção, a
renda e a riqueza – qualquer coisa em torno de 3% da população –
continuaram ganhando – e muito!
Particularmente o setor rentista, cujos interesses conflitam com a
produção, o emprego e a renda da maioria, e vale-se da política de juros
altos para prosseguir em sua farra argentária.
Agora que os efeitos da crise global recaem mais diretamente sobre os
grandes países periféricos emergentes, e aqui se entrelaçam com a
escassez hídrica e as pressões inflacionárias e a consequente retração
econômica, a oposição tucano-midiática parte para a ofensiva.
A maioria mal informada e torpedeada diariamente pelo noticiário distorcido queda perplexa, insatisfeita e insegura.
E os movimentos organizados, o sindical em particular, deixam-se
envolver demasiadamente por sua pauta – justa, diga-se -, não a
vinculando corretamente à disputa de projetos nacionais. Sem que tenham
plena consciência disso, em muitos momentos alimentam a oposição ao
torpedearem o governo, digamos, pela esquerda.
Daí a “timidez” apontada na Roda de Conversa. O que remete à luta no
terreno das ideias de elevada dimensão, irmã gêmea da necessária
mobilização popular para evitar a regressão social e o retorno às
políticas de cunho neoliberal.
Luciano Siqueira (PCdoB) é vice-prefeito do Recife e escreve no Blog da Folha todas as terças-feiras.
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