Texto de Fernando Castilho e publicado originalmente no Blog de Jamildo
João Pepé fez história no Porto do Recife pelo tamanho físico, pela
coragem pessoal e pelo gosto de andar de terno branco nos fins de
semana. Personalizava a imagem que, na Umbanda, temos do Caboclo Zé
Pelintra. Certa vez numa discussão perto da Rua Vigário Tenório se
envolveu numa briga com uma sargento da Polícia até que no meio da
discussão animado e exaltado, o “poliça” sacou do revolver e disse “Vou
atirar””. Foi o seu erro. João Pepé – pelo tamanho de mais de dois
metros – disse vai não! E tomou a arma dele com uma mão só porque o
meganha preferiu “dizer” primeiro que iria atirar. Talvez pensando que o
caboclo vestido seu terno de casimira inglesa e gravata vermelha iria
ficar com medo. Saiu sem atirar a e desmoralizado.
A história de João Pepé serve para dizer que o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, pode até querer dar um tiro no Governo Dilma Rousseff,
que está longe de se comparar a força do estivador. Mas corre o sério
risco de ter a arma tomada na frente de tomo mundo e sair mais
desmoralizado do que já está hoje, 17 de julho. Por que Cunha é feito
aqueles soldados de antigamente em vilarejo interior do Nordeste. Acha
que é autoridade.
O mundo mudou e hoje o que Eduardo Cunha talvez não saiba é que a
fala do consultor Júlio Camargo foi a parte revelada de um pacote de
dados sobre o presidente da Câmara que a Policia Federal tem no banco de
dados e que ele sequer imagina a dimensão. É verdade que o perfil de
Eduardo Cunha, revelado pelos jornais, já não deixa ele bem na foto.
Porque antes de virar presidente da Câmara ela era “Baixo Clero” no
sentido mais rasteiro. Aquele tipo de deputado que sair pelos
ministérios brigando para nomear um correligionário, arranjar uma verba
para uma cidade onde teve voto e que briga quatro anos para se reeleger
arranjando verba aonde for possível.
O que as pessoas esquecem é que Eduardo Cunha ganhou dimensão porque o
Congresso todo virou Baixo Clero. Isso acontece de tempos em tempos.
Existe um grupo de 300/400 proto-deputados que vão com quem está como
poder. Não quer dizer com o partido ou com algum interesse de debater o
Brasil. Apoiam porque, como Cunha, no passado lutam para se manter
deputados.
Então quando ele pegou com uma denúncia como a Julio Camargo, na
frente do Juiz Sérgio Moro, que diz que ele pediu US$ 10 milhões. Não
lhe resta outra atitude senão dizer que “vai atirar”. Não vai. Não tem
mais a arma, não tem mais os 200 deputados lhe apoiando. Vai levar grito
de correligionário como levou de Silvo Costa.
Pode atrapalhar o governo? Pode! Mas desde ontem pode menos, porque
quem manda hoje no PMDB é Michel Temer que já disse que ele fala “por
si”. Imagina se o PMDB de Jarbas Vasconcelos vai se solidarizar com
Cunha? E quando Temer – com a condição política que tem hoje e sendo o
eixo de uma enorme articulação que no caso de uma saída de Dilma
Rousseff tem tudo para assumir o cargo- Cunha já era. Alguém vai estar
preocupado como que Cunha pode ameaçar fazer acusado de corrupção?
Claro ele vai espernear, ameaçar e dizer que vai fazer o diabo. Mas
desde ontem o presidente da Câmara é um pato manco. Vai fazer “quá, quá
quá”, dizer impropérios para o juiz Sérgio Moro, mas sabendo que não vai
muito longe.
O “Sistema” político vai traga-lo. Isso não quer dizer que o governo
se salva, que Dilma se beneficia ou que o país vai ficar melhor. Cunha é
feito aquele tipo de cantor da moda que todo mundo, ouve, canta e até
se vestir-se como ele. Mas que sai do mercado tão meteórico como entrou.
E no caso do presidente da Câmara, terá mesmo é que se explicar ao juiz
Sérgio Moro, naturalmente através de autorização do STF.
Se ainda tiver foro privilegiado.
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