247 – A consultoria GO Associados questiona
principais argumentos da operação Lava Jato, conduzida pelo juiz Sérgio
Moro. Os sócios Gesner Oliveira, ex-presidente do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica e da Sabesp, Fernando Marcato e Pedro
Scazufca, alertam que “o real objeto de investigação deu lugar a mitos
que causam enormes prejuízos ao emprego, à produção e, ao final, retarda
o próprio processo de aperfeiçoamento institucional”.
Eles contestam a acusação de cartel na Petrobras, questionam a
proibição das empresas investigadas de participar de novos contratos e
ressaltam que uma operação mal conduzida pode custar 2 milhões de
empregos e mais de R$ 200 bilhões em termos de PIB.
Leia o artigo dos sócios da GO Associados sobre o assunto:
A investigação de irregularidades em contratos da Petrobras é
fundamental para o aperfeiçoamento de nossas instituições. A apuração
dos fatos e a eventual condenação dos responsáveis são necessárias.
Até agora, contudo, o espetáculo na investigação da Operação Lava
Jato prevaleceu sobre o conteúdo. E o real objeto de investigação deu
lugar a mitos que causam enormes prejuízos ao emprego, à produção e, ao
final, retarda o próprio processo de aperfeiçoamento institucional. Há
três noções que têm apelo popular e dão boas manchetes, mas que são
totalmente equivocadas e geram efeitos devastadores.
A primeira é a proposição de que a Petrobras teria sido vítima de um
cartel de empreiteiras. Tal noção é insustentável. Do ponto de vista da
defesa da concorrência, não faz sentido discutir qualquer infração sem a
compreensão de qual é a estrutura do mercado na qual o suposto ilícito
teria ocorrido.
No caso da Lava Jato, a Petrobras tem enorme poder de compra, para
não dizer poder absoluto. O termo técnico é pouco conhecido: trata-se de
um monopsônio, situação na qual há apenas um comprador, que pode,
portanto, orientar e dirigir o mercado. Não há margem para os
fornecedores formarem um cartel e prejudicarem o comprador.
Tal fato é ainda mais claro no caso da Petrobras, que detém o comando
do processo de contratação mediante regime jurídico que limita o raio
de manobra de suas contratadas. A lei nº 9.478/97 (Lei do Petróleo)
autorizou a companhia a celebrar contratos por meio de procedimento
licitatório simplificado.
Assim, a Petrobras deixou de seguir o modelo tradicional estabelecido
na lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações) para desenvolver forma própria
de contratação de bens e serviços. Portanto a barreira à entrada de
novos competidores decorre não de uma ação concertada entre empresas,
mas do próprio formato de contratação sob o comando da Petrobras. É a
Petrobras quem define os participantes das licitações por intermédio das
cartas-convite.
A segunda noção equivocada é a de pretender que as empresas
investigadas deixem de participar de novas licitações. Não há base
constitucional para impedir que empresas sob investigação, que não
tenham sido condenadas em última instância, participem de licitações.
Do
ponto de vista econômico, equivale a excluir atores do mercado e
diminuir a concorrência. A proposta que pretende defender a concorrência
termina por reduzi-la, ampliando os custos para os órgãos públicos
contratantes.
O terceiro equívoco é o de que os excessos e a espetacularização da
Operação Lava Jato são neutros do ponto de vista econômico. Chega-se a
argumentar com um misto de cinismo e ingenuidade que grandes empresas
nacionais poderiam ser rapidamente substituídas por outras, inclusive
estrangeiras.
Não se deve admitir que o clamor popular execre e destrua o
patrimônio e empresariado brasileiro, com impactos nefastos na economia.
Exercício
simples utilizando dados do IBGE mostra que o potencial de destruição
de renda e emprego de uma Operação Lava Jato mal conduzida pode custar
mais de R$ 200 bilhões em termos de PIB e mais de 2 milhões de empregos.
É um passo na direção de algo pior que a recessão vivida atualmente: a
depressão.
Deve-se aperfeiçoar as relações entre público e privado, cobrando
transparência e governança. Não se pode, entretanto, querer saciar uma
sanha irracional por vingança aniquilando a experiência e o talento
empreendedor nacionais.
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