Para minha surpresa, nesta quinta-feira (21), o colunista da Folha de
S.Paulo Leonardo Souza iniciou uma "cruzada" contra todos aqueles que
lutam para que não haja uma operação abafa sobre a Operação Zelotes.
Acuada que está, a mídia faz diversas tentativas para desqualificar
tanto a Zelotes quanto o episódio das contas secretas do HSBC na Suíça,
conhecido como escândalo Swissleaks, pois ela não sabe QUEM as
investigações poderão "pegar".
O que se sabe é que nesses dois escândalos bilionários de sonegação
há empresas de mídia e nomes ligados a grupos de comunicação envolvidos.
Como a imprensa não controla esses episódios, ela busca estratégias
para retirar a autoridade do trabalho investigativo da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal, ou daqueles que buscam dar visibilidade à
Operação Zelotes.
A imprensa, basicamente, não se ocupa da Operação Zelotes por três
motivos: o escândalo bilionário não envolve a classe política (os
envolvidos são empresas privadas, anunciantes da própria mídia); há
grupos de mídia investigados; e porque parte da imprensa sustenta que
sonegar é um ato aceitável, e que não se trata, portanto, de corrupção.
Chama atenção que o colunista Leonardo Souza jamais se deteve em
profundidade ao assunto para informar à sociedade o que é o Carf, o que é
a Operação Zelotes, como é que agiam as quadrilhas que se apropriaram
de uma estrutura como o Carf para defesa dos seus próprios interesses.
Pelo que se sabe, o colunista não moveu até agora uma palha para tentar
esmiuçar o assunto. Quando não cala sobre a Zelotes, o colunista
Leonardo Souza prefere fazer juízo de valor sobre a minha atuação,
tentando colocar sob suspeita as reais intenções do nosso trabalho.
Lamento que, mesmo tendo gasto grande quantidade de papel e tinta
acompanhando a Operação Zelotes e a nossa atividade parlamentar, o
colunista da Folha de S.Paulo o faça sem reconhecer a realidade dos
fatos, sob a frágil alegação de que os esforços engendrados por nosso
mandato tenham a única finalidade de desviar a publicidade da operação
Lava Jato. Qual o motivo de tratar a Lava Jato e a Zelotes como
concorrentes, e não como casos de corrupção de forma semelhante,
respeitando o direito que a sociedade tem de ser informada? Se o
raciocínio do tal colunista procedesse, seria possível afirmar que a
mídia só cobre a Lava Jato com objetivo de ofuscar a Zelotes.
Sim, Leonardo, que as autoridades investiguem a fundo a Lava Jato, a
Zelotes, o HSBC, o Mensalão Tucano, o Trensalão Tucano de São Paulo e
todos os casos de corrupção do país, bem diferente do que ocorria até o
final dos anos 1990, quando muitos casos de corrupção eram engavetados. E
que a imprensa, por sua vez, noticie todos os casos de corrupção do
país.
E quando for cobrada de que não está cumprindo com o papel de
informar e servir ao cidadão, de que está agindo como a quadrilha que
atuava no Carf defendendo apenas seus próprios interesses, que a
imprensa não busque o caminho dos ataques, da desqualificação e das
suposições baseadas em ufanismos editoriais ideológicos. Que não seja
autoritária como os censores da ditadura! Que não tente calar e sufocar a
voz daqueles que buscam chamar atenção para a roubalheira que foi feita
no Carf. Que não censure! Que não faça o que justamente critica.
Combata a censura, a si próprio, e não quem defende a liberdade para se
falar da Zelotes e de todos escândalos de corrupção.
Por respeitar e confiar na independência do poder judiciário é que
buscamos tratamento isonômico a todas as investigações criminais
envolvendo o desvio de verbas públicas. Acreditamos que entre os
excessos a Operação Lava Jato e a negligência dedicada à Operação
Zelotes deve existir um caminho do meio.
As estratégias da mídia são velhas conhecidas. O que há de novo é
que, agora, não há mais como impedir que o público tenha acesso às
informações de que os grandes grupos de comunicação estão envolvidos
tanto no Swissleaks quanto na Zelotes, que apuram sonegação fiscal,
corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
Infelizmente, a imprensa brasileira trabalha os casos de corrupção
não a partir do ato em si, mas, sim, a partir de quem praticou a
corrupção e quem está envolvido nesses escândalos. Só depois desse
filtro, dessa censura prévia, e só depois de verificar se não irá
atingir interesses dos grupos econômicos influentes, é que a imprensa
decide qual o tamanho da cobertura jornalística que dedicará, ou, então,
se irá varrer os acontecimentos para debaixo do tapete, sumindo com
esses fatos do noticiário.
A mídia conhece, mais do que ninguém, os limites da sua liberdade de
expressão, até onde pode ir e sobre o quê e quem falar. Nesse sentido, e
parafraseando o próprio colunista Leonardo Souza, "é uma pena que o
ímpeto apurativo da imprensa brasileira não se dê pela vontade genuína
de ver um Brasil limpo da corrupção".
Paulo Pimenta, jornalista e deputado federal pelo PT-RS.
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