Deve-se
a Fernando Henrique Cardoso a melhor definição até aqui do governo
Temer. Vendida como uma vistosa "ponte para o futuro", a administração
se resume, nas palavras do ex-presidente, a uma pinguela. Na descrição
do "Houaiss": "ponte tosca, feita de um tronco ou uma prancha de
madeira".
Em
sete meses, sete ministros já caíram no rio. Na última semana foi a vez
de José Yunes, assessor especial e primeiro-amigo de Temer. Ele se
tornou a primeira baixa provocada pelas delações da Odebrecht, que
ameaçam outros figurões do governo. Os riscos da travessia se
multiplicam, e a hipótese de a pinguela quebrar passou a ser discutida
abertamente no Congresso e nos jornais.
O
Planalto aposta com dois trunfos para segurar Temer na cadeira: o apoio
do empresariado, que patrocinou o impeachment, e o fantasma de uma
eleição indireta, no caso de nova vacância da Presidência. Como ninguém
deseja entregar as chaves do palácio ao Congresso, o peemedebista seria
preservado como um "mal menor" até 2018.
Este
ainda é o cenário mais provável, mas há turbulências pela frente. A
calamidade nas contas dos Estados, a ameaça de greves no serviço
público, a impaciência com o marasmo econômico e o bombardeio da Lava
Jato prometem um verão quente.
O
governo já detectou que uma bandeira pode unir os insatisfeitos: a
convocação de novas eleições. Por isso, iniciou uma operação para
sufocar a proposta de emenda que permitiria uma votação direta em 2017. A
ideia ofereceria uma saída democrática para a crise, devolvendo ao povo
o direito de escolher o presidente.
Na
quarta (14), o Planalto acionou o trator para impedir que o texto fosse
votado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A manobra foi
comandada pelo histriônico Carlos Marun, do PMDB. O deputado que tenta
salvar a pinguela é o mesmo que liderou a tropa contrária à cassação de
Eduardo Cunha. Na primeira missão, ele fracassou.
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