Por Ricardo Kotscho, em seu blog
Meio envergonhado no começo, sem saber direito como agir diante dos protestos do "Fora Dilma", apresentados como "espontâneos e apartidários", com seus lideres relutando em sair às ruas para se misturar aos manifestantes, agora o PSDB resolveu assumir de vez o papel de partido dos paneleiros e das marchadeiras.
Meio envergonhado no começo, sem saber direito como agir diante dos protestos do "Fora Dilma", apresentados como "espontâneos e apartidários", com seus lideres relutando em sair às ruas para se misturar aos manifestantes, agora o PSDB resolveu assumir de vez o papel de partido dos paneleiros e das marchadeiras.
Na noite desta terça-feira, o programa dos tucanos que irá ao ar no
rádio e na TV servirá como um divisor de águas na guerra política.
Ameaçado de perder o protagonismo das oposições, a reboque da mídia e
dos movimentos organizados pelas redes sociais, os tucanos deixaram de
lado o pudor acadêmico, mandaram os escrúpulos democráticos às favas, e
resolveram ir à luta.
Os grandes caciques tucanos voltaram bem diferentes da temporada em
Nova York, onde participaram, na semana passada, de um festival de
homenagens ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na gangorra do
vai não vai que caracteriza a ciclotimia do partido, o PSDB preparou o
mais duro ataque já desfechado contra seu adversário histórico, 12 anos
após a perda do poder central.
É o próprio FHC, fugindo ao habitual estilo cordato, quem comanda a
virada radical do partido, ao partir como um Carlos Lacerda para cima de
Lula, após o programa abrir as baterias com as imagens dos panelaços
das varandas promovidos contra o governo e o PT.
"Nunca se roubou tanto em nome de uma causa (...) A raiz da crise foi
plantada bem antes da eleição da atual presidente. Os enganos e desvios
começaram já no governo Lula. O que já se sabe sobre o petrolão é grave
o suficiente para que a sociedade condene todos os que promoveram
tamanho escândalo, tamanha vergonha".
Na mesma linha, e para não perder o lugar na fila dos presidenciáveis tucanos, Aécio Neves também desceu do muro e bateu pesado:
"O Brasil precisa saber definitivamente quem roubou, quem mandou
roubar e quem, sabendo de tudo, se calou e nada fez para impedir. Se a
corrupção ganhar, ela vai voltar cada vez pior, cada vez mais forte. É
hora de fazer o que é certo".
E o que é certo? Ao longo do programa, o PSDB nada diz a respeito.
Repete apenas as palavras de ordem da mídia, das ruas e das varandas
contra o PT, Lula e Dilma, mas em nenhum momento aproveita a propaganda
partidária para apontar alternativas à política econômica adotada pelo
governo. Fica difícil saber o que o partido ganha com isso pois quem
concorda com este discurso já votou em Aécio nas últimas eleições. Os
descontentes com o governo podem buscar outras alternativas, não
necessariamente as tucanas.
Por coincidência, o programa do PSDB, em clima de panelaços de fim de
feira, vai ao ar na mesma semana em que o Brasil recebe o maior volume
de investimentos externos já aportado no país. São US$ 53 bilhões em
projetos de infraestrutura que a comitiva do primeiro ministro da China,
Li Keqiang, vai apresentar hoje em encontro com a presidente Dilma
Rousseff.
Como os chineses não são de rasgar dinheiro, eles parecem estar mais
confiantes no futuro do Brasil do que os brasileiros da oposição. Tem
algo aí que não bate, para além das panelas.
Vida que segue.
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