TOBIAS CARVALHOO - principal debate econômico no Brasil atualmente é sobre o ajuste
fiscal. Desde o começo do segundo mandato de Dilma Rousseff, as relações
entre o Planalto e o Congresso têm sido marcadas por uma obsessão por
parte do governo de aprovar esse ajuste. O tema, no entanto, parece ser
tratado com descaso e contradições por toda parte.
Durante o primeiro mandato de Dilma, quando Guido Mantega dava à
condução da economia um caráter claramente keynesiano e
desenvolvimentista, o governo apostou em desonerações e diminuições de
impostos para que o empresariado alavancasse os investimentos e o país
voltasse a crescer, reativando sua indústria. O resultado foi pífio,
principalmente pelo fato de que os empresários não reverteram as
desonerações em investimentos. Mas o mito da "gastança" do governo no
passado não passa de um mito. Ao invés de gastar muito, o governo apenas
arrecadou menos durante esse período.
Durante as eleições, o debate econômico foi centrado na condução
fiscal: enquanto Dilma defendia a continuidade da heterodoxia, Aécio
Neves dizia que o Brasil teria que passar por um ajuste. Apesar de
vencer as eleições, o PT viu-se derrotado no projeto econômico, o que
ficou claro quando Joaquim Levy, economista neoliberal e ortodoxo, foi
nomeado.
Estranhamente, no entanto, os parlamentares do PSDB, partido que
antes era apoiador do ajuste fiscal, agora votaram contra ele.
Claramente, o posicionamento é uma mostra de que o partido faz oposição
por oposição, sem nenhum comprometimento ideológico com quaisquer
eleitores. Muitos apoiadores de Aécio Neves culpam Dilma e Levy pelo seu
"pacote de maldades", mesmo tendo votado nesse mesmo projeto. Enquanto
isso, alguns militantes do PT agora defendem com unhas e dentes o
projeto que antes rechaçaram.
A questão é: o Brasil precisa agora de um ajuste fiscal? Muitos dizem
que não, e que a necessidade de superávit é uma maneira antiquada de
pensar a economia que compara o Estado com uma empresa, que não pode
gastar mais do que ganha. Analisando os dados, sabe-se que a maioria dos
países desenvolvidos obteve déficit nas contas públicas no último ano.
Mas é claro: a situação do Brasil se tornou grave nos últimos anos. O
que Dilma Rousseff precisava fazer agora era sim uma mudança na
condução fiscal, mas não nesses termos. Em vez de cortar gastos e fazer
com que os trabalhadores paguem a conta, deveria progressivizar os
impostos e gastar mais. Puxar investimentos, aumentar a renda da
população, alavancar o PIB. Isso faria com que o Estado pudesse ter mais
impostos sobre a renda e obter, assim, um superávit, sem arrocho e sem
queda no crescimento. A esquerda ainda não conseguiu ainda uma fórmula
de sair de crises sem apelar à velha fórmula dos economistas ortodoxos, e
esses erros deixam marcas.
Tenhamos consciência, no entanto, de que o governo vai sim insistir
no ajuste fiscal. É sua última aposta. O capital político de Dilma se
esvai a cada dia, na medida em que o Congresso mais conservador do
período pós-redemocratização tem aprovado leis com o claro intuito de
prejudicar a presidenta, sem o menor compromisso com o povo. Querer que
Dilma seja fiel ao que propunha é legítimo, mas é importante saber que,
no momento, ao pôr o governo contra a parede, estamos todos abrindo
espaço para as forças que mais estão crescendo nos últimos meses, as
forças que cada vez mais têm chances de emplacar um candidato à
presidência em 2018: a dos conservadores. Isso é um desserviço a todos, e
é por isso que a cautela é necessária. Torçamos para que o ajuste seja
rápido e para que o Brasil possa voltar à sua rota de crescimento, dessa
vez com mais desenvolvimento.
E que a tempestade passe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário