A
semana terminou com dois brasis nas manchetes. O mapa do
primeiro registra, entre outros territórios, o Espírito Santo, com
cadáveres amontoados nos corredores do Instituto Médico Legal, e o Rio
de Janeiro, onde policiais militares ensaiam repetir o motim iniciado no
sábado 4, pelos colegas capixabas.
No
outro Brasil, que tem a Praça dos Três Poderes como capital, Governo,
Congresso e Judiciário devotavam seu tempo a irrelevâncias que incluíam
a unção de Moreira Franco ao foro privilegiado, o discurso do presidente
da Câmara contra a revelação de seus favores à OAS e a partilha
das comissões do Senado – com destaque para a que aprovará o
próximo juiz do Supremo, dominada por atingidos pela Lava Jato. Os dois
países não falam a mesma língua, não comem a mesma comida, não vivem as
mesmas aflições. No desgraçado sobrevivem perto de 25 milhões de
desempregados e subempregados,estudantes sem escolas, doentes sem
médicos, famílias sem teto. No vizinho, para citar apenas dois
personagens, moram o ministro da Educação, com 17 viagens em jatinhos da
FAB à sua amada Recife, ou o titular da Saúde, que comprou um terreno
no Paraná por valor 16 vezes maior que seu patrimônio declarado ao
Fisco.
Os
dois lados da fronteira bem poderiam tocar a vida de acordo com a
realidade oposta que o destino lhes reservou; mas a desgraça está no
fato de que os habitantes da nação infeliz sustentam os do
paraíso. Aqueles trabalham cinco meses por ano para honrar impostos
devorados pelos insaciáveis vizinhos, dos quais não recebem, em troca,
os serviços e produtos contratados.
E
a coisa não raro fica pior, quando nativos do tal Estado feliz brigam
entre si. São nativos da mesma tribo, como vimos, mas nas suas guerras
só jogam bombas em terra alheia. A despeito de justas razões (presentes,
aliás, em batalhões de Norte a Sul), os motins policiais não castigam
nem governantes, nem políticos, mas cidadãos que já pagaram a conta para
sustentar todos eles. Impotente, a sociedade vai levando. Um dia, quem
sabe, a coisa muda
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