sábado, 11 de fevereiro de 2017

Eles que se entendam

Ricardo Boechat - IstoÉ
A semana terminou com dois brasis nas manchetes. O mapa do primeiro registra, entre outros territórios, o Espírito Santo, com cadáveres amontoados nos corredores do Instituto Médico Legal, e o Rio de Janeiro, onde policiais militares ensaiam repetir o motim iniciado no sábado 4, pelos colegas capixabas.
No outro Brasil, que tem a Praça dos Três Poderes como capital, Governo, Congresso e Judiciário devotavam seu tempo a irrelevâncias que incluíam a unção de Moreira Franco ao foro privilegiado, o discurso do presidente da Câmara contra a revelação de seus favores à OAS e a partilha das comissões do Senado – com destaque para a que aprovará o próximo juiz do Supremo, dominada por atingidos pela Lava Jato. Os dois países não falam a mesma língua, não comem a mesma comida, não vivem as mesmas aflições. No desgraçado sobrevivem perto de 25 milhões de desempregados e subempregados,estudantes sem escolas, doentes sem médicos, famílias sem teto. No vizinho, para citar apenas dois personagens, moram o ministro da Educação, com 17 viagens em jatinhos da FAB à sua amada Recife, ou o titular da Saúde, que comprou um terreno no Paraná por valor 16 vezes maior que seu patrimônio declarado ao Fisco.
Os dois lados da fronteira bem poderiam tocar a vida de acordo com a realidade oposta que o destino lhes reservou; mas a desgraça está no fato de que os habitantes da nação infeliz sustentam os do paraíso. Aqueles trabalham cinco meses por ano para honrar impostos devorados pelos insaciáveis vizinhos, dos quais não recebem, em troca, os serviços e produtos contratados.
E a coisa não raro fica pior, quando nativos do tal Estado feliz brigam entre si. São nativos da mesma tribo, como vimos, mas nas suas guerras só jogam bombas em terra alheia. A despeito de justas razões (presentes, aliás, em batalhões de Norte a Sul), os motins policiais não castigam nem governantes, nem políticos, mas cidadãos que já pagaram a conta para sustentar todos eles. Impotente, a sociedade vai levando. Um dia, quem sabe, a coisa muda

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