sábado, 9 de novembro de 2019

A direita vai acusar Lula de “ataque às instituições? Sério?



FERNANDO BRITO · no Tijolaço



A turma do site O Bolsonarista diz que o presidente teria convocado os ministros Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira (Secretaria de Governo), o chefe do GSI, Augusto Heleno, além dos comandantes Ilques Barbosa Junior (Marinha), Edson Leal Pujol (Exército)e Antonio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) para discutir o que seria a atitude de Lula de “incitar atos de violência contra as instituições”.

É, no mínimo, curioso que um presidente que tem um filho pregando a volta do AI-5 e apoiadores que, hoje ainda, foram às ruas – felizmente gatos pingados – pedir intervenção militar, fechamento do STF e cassação de seus ministros venha falar de incitação à “violência contra as instituições”.

Lula, em primeiro lugar, reconheceu a legitimidade das eleições e apontou 2022 como horizonte da mudança de governo. Ao contrário de Bolsonaro e a “ala pijama” de seus generais, não tem histórico de apoiar golpes para interromper mandatos.

Na referências ao Chile, repudiou atos de violência como os que cegaram jovens e levaram à detenção de mais de mil pessoas.

Lula, gentilmente até, pediu que parassem de mandar Bolsonaro fazer certa coisa, dizendo que palavrões, ensinou-lhe a mãe, não eram para ser ditos.

Mas nem o discurso de hoje, no Sindicato dos Metalúrgicos, mais duro e enfático, poderia ter sido apontado como motivo, já que o Estadão dá conta que a reunião no Alvorada teria sido pela manhã.

Se os generais estiverem realmente querendo localizar que apregoa e incita soluções de força, basta ir nas manifestações da Paulista ou da Praia de Copacabana.

Ou talvez nem precise, é só pedir ao pessoal que está lá, a paisana

Lula quer se encontrar com Ciro Gomes

Lula quer se reunir com Ciro Gomes. Petista avalia que há espaço para retomar diálogo.
Fotos: José Cruz/Agência Brasil
Época - Por Guilherme Amado


Um dos primeiros políticos com que Lula quer se sentar é Ciro Gomes.
O petista avalia que há espaço para que os dois façam as pazes.

Lula ataca no ponto mais fraco de Bolsonaro: as milícias



FERNANDO BRITO · no Tijolaço

A cena, Lula carregado pela multidão, é um “replay”, de sentido contrário, às que vimos, com tristeza, em 7 de abril de 2018.

Com um símbolo que, provavelmente, será o complemento simbólico da imagem que será a “cara” do ato de recepção do ex-presidente no Sindicato do dos Metalúrgicos: a bandeira do Brasil que Lula, nos ombros da multidão, agitou freneticamente.

Se esta é a imagem, a palavra que fica de seu discurso de mais de 40 minutos, é “milícia”.

Foi com este estigma, por diversas vezes que ele marcou a testa de Jair Bolsonaro.

“Não adianta ficar com medo, não adianta ficar com medo. Não adianta ficar preocupado com as ameaças que eles fazem na televisão, que vai ter miliciano, que vai ter AI-5 outra vez. A gente tem que ter a seguinte decisão: esse país é de 210 milhões de habitantes, e a gente não pode permitir que os milicianos acabem com este país que nós construímos.”

Chamou o atual presidente para o terreno em que se pretendia colocar a ele, Lula.

No qual Bolsonaro tem passado e, sobretudo, presente.

Lula não tratou em detalhes das razões de sua inocência, preferiu entrar firme sobre Moro e Dallagnol, cuja credibilidade minguante e os atritos crescentes com o Supremo Tribunal Federal o favorecem.

E se fixou na crise econômico-social do país e em quanto ele piorou desde a sua prisão.

Prometeu correr o país, mas pediu 20 dias para atualizar-se e propor um programa de ação para a oposição.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Seja bem-vindo, Lula.



FERNANDO BRITO · no Tijolaço




Estávamos mesmo precisando de você, presidente.

Enquanto você estava lá, naquela cela-sala (ou sala-cela, sei lá), a coisa aqui piorou um bocado.

Ficamos mais pobres, ficamos mais brutos, ficamos mais tristes, encolhemos nossas esperanças.

Em lugar de matar a fome, como se fez nos seus tempos, simplificaram o programa: o negócio virou só matar, mesmo.

Não era melhorar as cabecinhas, era mirar nelas. Aquelas “arminhas” com os dedos, da campanha, viraram de verdade, com o sujeito que puseram na presidência dizendo que uma Glock na cintura era o caminho da paz.

As universidades, que você abriu como nunca antes na história deste país, deixaram de ser progresso para virarem, dizem eles, balbúrdia.

Aposentadoria voltou a ser coisa de vagabundo, como aquele presidente boca-mole – até hoje recalcado de nunca ser amado como você – dizia.

Aquele petróleo, que a sua turma descobriu e que ia ser nosso bilhete de loteria, tentaram vender, mas nem assim compraram, porque nossa imagem está mais suja que praia do Nordeste.

Até este mal fizeram aos “paraíbas”, que é como eles chamam os nordestinos.

O salário não subiu, como no seu tempo, nem vai subir, já prometeram. O emprego empacou em 12,5 milhões de desempregados e a garotada pedala, de caixa térmica nas costas, para ganhar cinco reais por encomenda. É o que temos, já dizia o outro, não é.

Porque, sem isso, é a calçada, a cama de papelão, o “o senhor me dá uma ajuda para comprar um pão?”. Está cheio de gente na rua, Lula, você não faz ideia de quantos.

Dá tristeza andar na rua, presidente.

Tanta, que às vezes não o perdoo por nos ter feito acreditar que isso ia acabar, me desculpe.

E nem falei como anda a nossa cara lá fora, humilhada por toda a parte, como se aqui fosse um país de selvagens. Selvagens, não índios, porque estes estão mais ameaçados que a ararinha-azul.

É garimpo ilegal, é agrotóxico liberado, é cana na Amazônia, é tanta sandice que parece que querem nos tornar malditos no mundo.

Não convém, para quem recém se achega de volta neste Brasil da rua, dar tanta má notícia, eu sei, mas nada é pior do que a gente ter virado bruto, ao ponto de ter gente urrando por ditadura, tortura, por porrada e tiro.

Por isso, paro por aqui, porque esta é uma carta de boas-vindas, num dia de festa.

Só não posso deixar de pedir uma coisa, injusta até para quem tem 74 anos e, depois desta provação, merecia descansar.

Nos tire da prisão, Lula.

Estamos enfiados num buraco imundo e triste, onde não podemos viver, onde não podemos sonhar, de onde não podemos ver nossos filhos e netos saindo, onde não podemos querer o melhor para eles, que para nos não queremos mais nada, que muito a vida já nos deu.

Precisamos de você, Lula, porque é você quem pode catalisar a imensa força de um povo que não é mau, que não é insensível, que não é obtuso como as elites que o dirigem para o caos.

Obrigado, Lula, por voltar para nós.

Lula: após eleição "roubada", o País piorou

Ex-presidente Lula discursa em Curitiba (Foto: REUTERS/Rodolfo Buhrer)

CURITIBA/SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso duro nesta sexta-feira ao deixar a sede da Polícia Federal em Curitiba, onde esteve preso por 580 dias, no qual questionou a legitimidade da eleição de Jair Bolsonaro, e fez ataques ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e ao coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol.

O ex-presidente disse a apoiadores em frente à sede da PF na capital paranaense que o candidato do PT à Presidência em 2018, Fernando Haddad, teve a eleição “roubada” e afirmou que, se juntar Moro, Dallagnol e o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) —que o condenou em segunda instância— num liquidificador, não dará 10% da honestidade que ele representa.

“Quero que vocês saibam que o lado mentiroso da Polícia Federal, que fez inquérito contra mim, o lado mentiroso e canalha de parte do Ministério Público e da força-tarefa (da Lava Jato) e o Moro, mais o TRF-4, eles têm que saber que eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia”, disse Lula a uma plateia que o ovacionava com bandeiras e faixas.

O petista de 74 anos, que governou o país entre 2003 e 2010 e que foi solto depois de, na véspera, o Supremo Tribunal Federal (STF), decidir por 6 votos a 5 que não é possível iniciar o cumprimento da pena após condenação em segunda instância, questionou mais de uma vez a lisura da eleição presidencial de 2018.

“Depois que eu fui preso, depois que eles roubaram do Haddad, o Brasil não melhorou, o Brasil piorou. O povo está passando mais fome, o povo está desempregado, o povo não tem mais trabalho com carteira assinada”, disse.

O ex-presidente cumpria pena de 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá (SP), no qual já teve a condenação confirmada em três instâncias. Ele teria recebido o imóvel como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras.


Apesar da decisão do juiz federal Danilo Pereira Júnior, que determinou a soltura de Lula atendendo pedido da defesa do petista com base na decisão da véspera do Supremo, Lula segue inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado por órgãos colegiados da Justiça —o TRF-4 e o STJ.

Lula também já foi condenado em primeira instância no processo que envolve o sítio de Atibaia (SP), mas o TRF-4 decidirá no próximo dia 27 se o caso retornará à análise da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Ele é réu ainda em outro processo que corre na 13ª Vara Federal de Curitiba —que concentra os casos da Lava Jato na capital paranaense em primeira instância— e que trata de um terreno que seria dado como propina ao ex-presidente para construção de uma sede para o Instituto Lula. Responde, também, a outros processos de outras operações que tramitam na Justiça Federal do Distrito Federal.

PERCORRER O PAÍS

Em seu discurso após deixar a prisão, Lula disse que fará um encontro no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, localizado em São Bernardo do Campo, seu berço político, no sábado. Depois, vai começar a percorrer o país.

“A partir de agoura eu estou indo para São Paulo, amanhã eu tenho um encontro no Sindicato dos Metalúrgicos e depois as portas do Brasil estarão abertas para que eu volte a percorrer esse país”, disse Lula.

Mesmo com o discurso duro e recheado de ataques à PF, MP, Moro e até à Receita Federal, Lula garantiu que deixa a prisão sem ódio, mas com amor, e com vontade de, segundo ele, lutar pelo país.

“Eu saio com muita vontade de voltar a lutar. Eu não quero ficar falando mal de presidente, de ministro, eu quero falar bem do povo brasileiro e falar das coisas que é possível a gente construir nesse país”, disse em transmissão ao vivo numa rede social, já dentro de um carro.

“A gente já provou que é possível construir um país melhor, um país sem ódio”, afirmou.

Praias pernambucanas estão próprias para o banho


O Governo de Pernambuco divulgou, hoje, o resultado das análises de água das praias atingidas por petróleo vindo do alto-mar. Foram examinadas amostras de 16 praias e todas foram consideradas próprias para o banho. Os estudos, realizados pela Agência Estadual de Meio Ambiente – CPRH em parceria com outras instituições, não detectaram presença de hidrocarbonetos, compostos orgânicos encontrados no petróleo e que, em grandes concentrações, podem causar danos à saúde.

Duas baterias de análises foram realizadas com amostras colhidas nos dias 24, 26 e 31 de outubro. Os laudos saíram simultaneamente. A pesquisa mais recente teve à frente o Instituto de Tecnologia de Pernambuco – Itep, que avaliou as amostras coletadas nos dias 26 e 31 de outubro no litoral dos municípios de São José da Coroa Grande (foz do Rio Persinunga), Tamandaré (Boca da Barra, Carneiros e Tamandaré), Ipojuca (Maracaípe e Muro Alto), Cabo de Santo Agostinho (Suape, Gaibu, Itapuama e Paiva), Jaboatão dos Guararapes (Barra de Jangada), Paulista (Janga e Pau Amarelo), Goiana (Itapessoca) e Ilha de Itamaracá (Jaguaribe e Forte Orange).
O estudo envolveu a análise de 21 compostos da cadeia de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (tidos como HPAs) e o grupo conhecido por BTEX (Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xileno). O Itep avaliou todo este conjunto de substâncias para as amostras de águas colhidas no dia 31 e apenas do grupo BTEX para o material recolhido no dia 26. Em ambos os casos, os níveis desses compostos são tão baixos que os equipamentos não conseguiram detectar. Isso se deve a dois fatores: tempo de exposição do material no ambiente e a hidrodinâmica das marés.
Já os pesquisadores do laboratório da OrganoMAR (UFPE) avaliaram as amostras colhidas no dia 24 de outubro, fazendo o diagnóstico específico para o grupo de HPAs.

Paulo entrega Batalhão da PMPE em Itapissuma

O governador Paulo Câmara inaugura, hoje, o 26º Batalhão da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), no município de Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife. A unidade faz parte de um pacote de ações do Governo de Pernambuco para descentralizar e fortalecer a atuação da segurança pública em todo o Estado.
Ativo desde o ano passado, embora utilizando a sede do 17º BPM, no Paulista, o efetivo do 26º Batalhão já estava reforçando o trabalho de prevenção e combate aos crimes no Litoral Norte, com foco nos municípios de Itapissuma, Igarassu, Itamaracá e Araçoiaba. Concluída a obra, será transferido agora para sede própria em Itapissuma

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Bolsonaro posta fake news sobre fuga de empresas da Argentina e depois apaga

Jair Bolsonaro afirmou que as empresas Honda, L’Oreal e MWM estariam fechando suas fábricas na Argentina e vindo para o Brasil devido a uma "nova confiabilidade do investidor". A postagem, porém, foi apagada rapidamente após as empresas desmentirem o comunicado feito por ele

247 -Jair Bolsonaro usou as redes sociais nesta quarta-feira (6) para afirmar que as empresas Honda, L’Oreal e MWM estariam fechando suas fábricas na Argentina e transferindo suas atividades para o Brasil. Bolsonaro, porém, apagou a postagem rapidamente, quase ao mesmo tempo em que a Honda e a L’Oreal desmentiram o anúncio feito por ele. 

“MWM, fábrica de motores americanos, a Honda, gigante de automóveis, e a L’Óreal, anunciaram o fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no Brasil. A nova confiabilidade do investidor vem para gerar mais empregos e maior giro econômico em nosso país”, disse Bolsonaro na postagem que foi apagada. 

De acordo com reportagem da agência Sputnik, a Honda disse ao portal Infobae que "não fechará sua fábrica na Argentina, e manterá suas operações como previsto, a partir de 2020, concentrando a produção na linha de motos". 

A L’Oreal também não confirmou o fechamento de sua indústria no país como anunciado por Bolsonaro.

Já a fabricante de motores norte-americana MWM, que fechou sua fábrica de construção de motores a diesel na cidade argentina de Jesús María, devido à redução na demanda local pelos seus equipamentos, não confirmou que pretende se instalar no Brasil. 

O anúncio da suposta vinda das multinacionais para o Brasil aconteceu após Bolsonaro ter criticado duramente o presidente recém-eleito na Argentina, Alberto Fernández. Ele também disse que não irá e nem enviará um representante à cerimônia de posse de Fernández , marcada para o dia 10 de dezembro.

Paulo abre Conferência Brasileira de Mudanças do Clima

O governador Paulo Câmara abriu, na manhã de hoje, a Conferência Brasileira de Mudanças do Clima (CBMC), no Arcádia Paço Alfândega, no Bairro do Recife. A iniciativa visa discutir soluções para o cumprimento do Acordo de Paris, estimulando um amplo debate entre ONGs, comunidade científica, movimentos sociais, governos e os setores privado e público brasileiros, todos presentes à conferência. Serão três dias de diálogo e mais de 50 painéis e atividades realizadas em nove diferentes espaços do Recife.

O Governo de Pernambuco é um dos realizadores do evento, organizado de forma coletiva, e vai apresentar experiências, negócios, tecnologias e políticas que têm contribuído para frear o aquecimento global. Recentemente, Paulo Câmara esteve em Nova Iorque participando de uma série de eventos da Semana do Clima, como representante dos governadores da Região Nordeste.
O prefeito do Recife, Geraldo Julio – que preside, na América do Sul, a Rede de Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI) – também participa da conferência, ao lado do anfitrião Paulo Câmara, de governadores de outros Estados e do presidente do Instituto Ethos, Caio MagriCom edição de Ítala Alves
O governador Paulo Câmara abriu, na manhã de hoje, a Conferência Brasileira de Mudanças do Clima (CBMC), no Arcádia Paço Alfândega, no Bairro do Recife. A iniciativa visa discutir soluções para o cumprimento do Acordo de Paris, estimulando um amplo debate entre ONGs, comunidade científica, movimentos sociais, governos e os setores privado e público brasileiros, todos presentes à conferência. Serão três dias de diálogo e mais de 50 painéis e atividades realizadas em nove diferentes espaços do Recife.

O Governo de Pernambuco é um dos realizadores do evento, organizado de forma coletiva, e vai apresentar experiências, negócios, tecnologias e políticas que têm contribuído para frear o aquecimento global. Recentemente, Paulo Câmara esteve em Nova Iorque participando de uma série de eventos da Semana do Clima, como representante dos governadores da Região Nordeste.
O prefeito do Recife, Geraldo Julio – que preside, na América do Sul, a Rede de Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI) – também participa da conferência, ao lado do anfitrião Paulo Câmara, de governadores de outros Estados e do presidente do Instituto Ethos, Caio Magri.

Enigmas do Vivendas da Barra: álibis se desmontam?


Matéria: Opinião
Por Marcelo Euler


A partir dos desdobramentos da revelação do Jornal Nacional, (edição de 29/10/19), de que Élcio Vieira de Queiroz, um dos supostos assassinos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, horas antes da execução dos dois na noite de 14 de março de 2018, ingressou no Condomínio Vivendas da Barra alegando ir à casa 58, pertencente ao então deputado Jair Bolsonaro, várias dúvidas surgiram.


Duas questões, porém, se tornaram básicas para confrontar álibis e as explicações apresentadas pelo hoje presidente da República, seus filhos e seus advogados. Em especial explicações prontamente encampadas pelo Ministério Público Estadual e pela Procuradoria Geral da República, quais sejam:


1) Bolsonaro estava em Brasília, logo não poderia ter falado ao interfone com o porteiro que alega ter-lhe consultado sobre a entrada de Élcio;

2) uma gravação no sistema de comunicação do Vivendas da Barra demonstra que o porteiro não falou com o “seu Jair”, mas com Ronnie Lessa, morador da casa 66, para a qual Élcio se dirigiu.

Em apenas uma semana, porém, a imprensa – e não o Ministério Público ou a polícia – levantou questionamentos que colocam em dúvida tais explicações.


Desde o dia 31 que Luís Nassif vem batendo na tecla de que o moderno sistema de comunicação do condomínio pode permitir o contato da portaria com o morador, independentemente de ele estar em casa. O diálogo seria possivel, inclusive, através do celular. Trata-se de uma hipótese, concreta, que não invalida – como a Procuradoria da República e o Ministério Público Estadual do Rio se apressaram em fazer – a versão do porteiro de que se comunicou com o “Seu Jair”. A se confirma, pouco importa onde “Seu Jair” estivesse.

Qual porteiro?


Paralelamente, em 01/10, ao alertarmos que o porteiro corre risco de vida, em “Salvem o porteiro! Já!“, levantamos nova questão, a partir da afirmação das promotoras do Rio de Janeiro de que o “porteiro mentiu”.

A conclusão delas respaldou-se na suposta perícia de um áudio encaminhado pelo condomínio, onde constataram que era Ronnie Lessa o morador a falar com o porteiro. Questionamos então:

“Há, porém, outro detalhe que parece passar despercebidos por todos. Como já se disse, sem a perícia completa no sistema de comunicação da portaria do condomínio com as residências do mesmo, não se pode atestar se houve ou não enxerto de gravações.

A perícia foi feita em um único áudio, teoricamente registrado naquela mesma data. Peritos confirmaram que a voz era de Lessa, o suspeito da morte de Marielle, morador da casa 66. Mas com quem ele falou nesse áudio? Foi o mesmo porteiro ouvido pela polícia ou outro funcionário do condomínio? Afinal, o laudo pericial especifica apenas que houve “identificação positiva para Ronnie Lessa”. E seu interlocutor, quem era? O mesmo porteiro que fez o registro no papel?” (grifamos)

A dúvida é, aparentemente, primária. Afinal, o fundamental é saber se trataram de uma mesma conversa ou de conversas diferentes. Isto, sem querer ensinar Padre Nosso a vigário, deveria ser a primeira preocupação das apressadas promotoras fluminenses. Ao que tudo indica, não foi o que aconteceu.

Como revelou Lauro Jardim em sua coluna em O Globo on line, na tarde de segunda-feira (04/11), o Porteiro que aparece no áudio de Carlos Bolsonaro não é o mesmo que diz ter falado com ‘seu Jair’. Ali, ele noticia:

“A Polícia já sabe que o porteiro que prestou depoimento e anotou no livro o número 58 (o da casa de Jair Bolsonaro) não é o mesmo que fala com o PM reformado Ronnie Lessa (dono da casa 65) no áudio divulgado por Carlos Bolsonaro e periciado em duas horas pelo Ministério Público.

Trata-se de outro porteiro.“

A se confirmar a informação de Jardim, cria-se então um problema sério para o vereador Carlos Bolsonaro. Mais do que acessar as gravações da comunicação do condomínio onde ele reside, a apresentação de uma gravação diferente pode sim configurar interferência indevida na coleta de provas do caso. Tal e qual previsto no artigo 329 do Código Penal:

“Art. 329-A – Impedir, embaraçar, retardar ou de qualquer forma obstruir cumprimento de ordem judicial ou ação de autoridade policial em investigação criminal: Pena: detenção de 1(um) ano a 3(três) anos, e multa”.

O mais curioso nessa história toda vem com a segunda nota do mesmo Jardim, publicada na sua coluna nesta terça-feira (05/11) – Depoimento do porteiro do condomínio de Bolsonaro foi filmado.

Se um depoimento – na verdade, foram dois, em 7 e 9 de outubro – foi devidamente filmado, desde então a Polícia Civil – e, consequentemente, o Ministério Público do Estado do Rio – possui o padrão de voz do porteiro que disse ter se dirigido ao “Seu Jair”. Bastava compará-lo com a voz que conversou com Ronnie Lessa, no áudio apresentado por Carlos Bolsonaro/Condomínio.

Com estas informações, surgem, naturalmente, novas dúvidas: Por que ainda não fizeram tal comparação? Ela não deveria ter precedido à entrevista apressada das promotoras? Terá mesmo o porteiro mentido? Como surgiu um novo áudio, sem relação com o episódio narrado pelo porteiro, nos depoimentos dos dias 7 e 9 de outubro? Carluxo – forma como muitos tratam o filho de Bolsonaro – terá induzido a Polícia e o MP a erro? Quis desviar atenções?

*Do Blog do Marcelo Auler

Por que Fachin recusou a prisão de Dilma

POR FERNANDO BRITO · no Tijolaço



Não creio que tenha sido por nobreza e consciência jurídica que Luís Edson Fachin tenha recusado o absurdo pedido da Polícia Federal para prender a ex-presidente Dilma Rousseff e, por extensão, alguns senadores do MDB.

A este Doutor Fausto, Mefistófolis há muito levou-lhe a alma.

A sensação é que acolher o insano pedido de prisão – onde há interferência de Dilma no andamento do processo ou qualquer risco de fuga ou periculosidade numa mulher à beira de completar 72 anos? – iria colocar Fachin em péssima situação diante do pleno do Supremo, pela falta de elementos fáticos a justificar seu ato de força contra quem o levou à cátedra suprema, enfrentando acusações e incompreensões.

Fachin, faz tempo, já é visto por seus colegas de corte como o “ahá, uhú” que dele escreveu Deltan Dalagnol, nas mensagens vazadas pelo The Intercept.

Até a turma do jardim de infância dos concurseiros do Ministério Público sabe que Fachin faz – ou fazia – tudo o que a Lava Jato quiser em matéria de perseguição ao PT ou à esquerda e seus aliados.

Ia passar o vexame de decretar uma prisão que seria revogada em dias pelo plenário.

Falta o outro lado.

Alguém acredita que um delegado qualquer da PF vai pedir a prisão de uma ex-presidenta da República sem elementos de prova muito sólidos, tanto que o próprio Ministério Público discorda da medida?

Houve, é claro, consultas, aos chefes, aos cheférrimos e ao chefão que, no caso da Polícia Federal é o Ministro da Justiça, sr. Sérgio Moro e não é preciso muita imaginação para adivinhar com que prazer isso foi estimulado.

Fachin é um caco, mas ainda não é um Brêtas.

Não se sabe por quanto tempo, porém

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Governo propõe extinção de alguns municípios brasileiros

Exame
O pacote econômico de reformas entregue ao Senado nesta terça-feira (05) pelo governo Bolsonaro sugere que municípios com menos de 5 mil habitantes e arrecadação própria menor que 10% da receita total sejam incorporados pelo município vizinho.
Essa regra impactaria hoje 1.254 municípios, segundo o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Júnior, o que corresponde a quase um quarto do total de cidades brasileiras. O secretário ponderou, no entanto, que isso passaria a valer a partir de 2026 e, até lá, deve sair uma lei complementar detalhando a medida.
“O que a gente vê hoje é uma proliferação de municípios sem nenhuma condição de se financiar, o que é um desperdício de recursos, porque cria a necessidade de uma administração pública que é cara”, diz Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman Brazil e ex-secretária da Fazenda de Goiás.
A máquina pública das cidades engloba basicamente Prefeitura e Câmara de Vereadores. “Toda essa estrutura administrativa drena recursos públicos e não se justifica tendo em vista a incapacidade do próprio município de se financiar”, diz Abrão. A liberação desses recursos, segundo ela, vai permitir que esse capital seja direcionado para a população, “e não para sustentar uma máquina”, diz.
73% dos municípios brasileiros tem gestão fiscal difícil ou crítica, de acordo com um índice recente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). 1.856 municípios dos 5.337 avaliados não tem recursos para manter sequer sua Câmara de Vereadores e a estrutura administrativa da Prefeitura.
Segundo o pacote de reformas, que envolve três Propostas de Emenda Constitucional (PECs), a partir de 2026, a União deixa de poder prestar socorro aos entes federativos em dificuldade fiscal e financeira, e também só pode, a partir daquele ano, dar garantias aos estados e municípios em operações com organismos internacionais.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ainda que o plano é transferir cerca de R$ 400 bilhões a Estados e municípios nos próximos 15 anos.

O “Seu Jair” está gravado, diz Lauro Jardi



POR FERNANDO BRITO · no Tiolaço

Na sua coluna em O Globo, Lauro Jardim afirma que “a Polícia Civil do Rio de Janeiro filmou o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra que anotou no livro o número 58 (o da casa de Jair Bolsonaro) e disse ter ouvido o o.k. do “seu Jair” quando o PM reformado Élcio Queiroz entrou no local”.

“Queiroz é acusado pela polícia de ser o motorista do carro usado no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes”.

A fonte que passou a Lauro esta informação passou também o vídeo?

Creio que sim, porque depois de Bolsonaro mandou o filho colocar na internet o áudio de um (ou de outro) porteiro desmentindo o que constava nos depoimentos do inquérito sobre a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, a Globo deve estar pisando em ovos com novas informações vazadas no caso.

A esta altura, cópia da imagem deve estar de posse da emissora.

Sugere-se desfocar o rosto do porteiro, antes que aconteça uma desgraça

PSB realiza encontro preparatório em Garanhuns

O PSB de Pernambuco realiza, hoje, o terceiro encontro Prosa Política – Eleições 2020, que tem o objetivo de preparar os seus pré-candidatos para o próximo pleito. O evento será na cidade de Garanhuns, a partir das 17h, reunindo representantes do Agreste Meridional. A atividade acontece na sede da Codeam. O encontro será realizado em todas as regiões do Estado nos próximos meses.
Na atividade, serão discutidos os temas A regularização dos órgãos partidários municipais, com a assessora partidária Patrícia Gomes, e Regras para as Eleições Municipais, com a especialista em Direito Eleitoral, Diana Câmara. Na ocasião, serão abordamos aspectos eleitoras como limites de gastos de campanha, do autofinanciamento e de candidaturas avulsas. Outro assunto de destaque é sobre o fim das coligações para cargos proporcionais, que deverão promover nova arrumação nas eleições do próximo ano.
Presidente estadual do PSB, Sileno Guedes destaca que o objetivo do evento é promover maior esclarecimento aos filiados sobre o pleito, deixando os socialistas preparados para Eleição do próximo ano a partir das novas diretrizes aprovadas na última minirreforma eleitoral. “O cenário mudou. A disputa proporcional tem novos aspectos, o financiamento de campanha também é diferente nestas eleições municipais. É preciso estar atento às mudanças. As regras estão postas e precisam ser bem compreendidas. Por isso, vamos realizar a atividade em todas as regiões do Estado. O PSB chegará em 2020 preparado”, destaca Sileno Guedes

Bolívia: Morales denuncia "tentativa de golpe de estado"

Foto: Arquivo/Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil
Por Da Redação da Veja


O chanceler da Bolívia, Diego Pary, denunciou nesta segunda-feira um golpe de Estado em curso no seu país promovido pela oposição a Evo Morales, ao comparecer na Organização dos Estados Americanos (OEA) para falar sobre a crise desatada com a questionada reeleição do presidente Evo Morales.
“A agressão seletiva aos cidadãos e às forças de segurança, o apelo para que as Forças Armadas e a Polícia Nacional se rebelem, e finalmente a cominatória ao presidente Evo Morales para abandonar o governo em 48 horas são claras evidências de que há um golpe de Estado a caminho que pretende aquebrantar a vida democrática da Bolívia através do caos e do enfrentamento”, disse Pary durante sessão extraordinária do Conselho Permanente da OEA em Washington.
Pary pediu aos representantes dos 34 países membros ativos do bloco regional que se somem “à defesa da democracia” na Bolívia.
Segundo o chanceler, os “progressos” em termos de “inclusão política” e “crescimento econômico sem precedentes” do governo de Morales, no poder desde 2006, correm “risco de retrocesso” diante de “grupos fascistas”.
Pary acusou o chefe do Comitê Cívico de Santa Cruz (direita), Luis Fernando Camacho, que no sábado deu o ultimato para que Morales renuncie até às 19h desta segunda-feira (20h Brasília), de liderar esta campanha.
“Hoje a amanhã são dias decisivos para nosso país, dois dias que vão definir se a Bolívia continua no caminho da democracia ou vai para a violência”.
Camacho anunciou na noite desta segunda-feira que viajará a La Paz na terça para entregar a Morales a carta de renúncia para que seja firmada.
“Quero dizer ao presidente que vou pessoalmente levar esta carta à cidade de La Paz, que saiba que não estou indo armado, que vou com minha fé e a minha esperança, com uma Bíblia na mão direita e sua carta de renúncia na minha mão esquerda”, disse Camacho para uma multidão em Santa Cruz.
“Eu lhes asseguro que Deus vai me trazer com esta carta firmada”, disse o líder opositor em um comício na capital da região mais rica do país, 900 km a leste de La Paz.
Camacho pediu à população que “paralise” todas as repartições públicas da região.
A Bolívia entrou nesta segunda-feira em sua terceira semana de protestos, após eleições cuja apuração foi questionada pela oposição e por diversos países da região.
Durante a sessão extraordinária da OEA desta segunda-feira, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos, Guatemala, Peru, República Dominicana e Venezuela (representada pelo delegado do líder opositor Juan Guaidó) exortaram a “todas as partes” na Bolívia a assumir o resultado da auditoria da órgão regional e implementar suas conclusões.
(Com AFP)

Sivaldo larga na frente e Haroldo é o 2º em Garanhuns

Do Blog de Magno Martins
Na primeira pesquisa sobre a sucessão do prefeito de Garanhuns, Izaias Régis (PTB), o pré-candidato do PSB, Sivaldo Albino, sai na frente, mas com uma pequena vantagem em relação ao pré-candidato do PTB, Haroldo Vicente. Se a eleição fosse hoje, o socialista teria 22,7% dos votos ante 16,3% do trabalhista. O ex-prefeito Silvino Duarte, ainda sem partido definido, vem em seguida com 14,8% e Zaqueu Lins (PP) desponta bem próximo, com 13%. Luizinho Roldão (PCdoB) é preferido por 4,3%, Givaldo Calado (Avante) pontua com 2,8% e Pedro Veloso (PT) tem 2,3%. Brancos e nulos somam 13% e 10,8% dissera m que não sabiam ou se recusaram a responder.

Na sondagem espontânea, na qual o entrevistado é forçado e lembrar o nome do seu candidato sem o auxílio do disquete com todos os postulantes, a situação se inverte e quem sai na frente é Haroldo, com 4,5%, seguido por Sivaldo e Silvino empatados, com 3%. São citados ainda Zaqueu com 2,3%, Roldão com 2%, Veloso com 0,5%, Izaias com 0,3% e Zé da Luz, com 0,3%. Neste cenário, indecisos sobem para 73,6% e brancos e nulos representam 10,5% do universo pesquisado.
O levantamento foi a campo entre os dias 30 e 31 últimos, sendo aplicados 400 questionários, com margem de erro de 4,9 pontos percentuais para mais ou para menos e 95% de intervalo de confiança. A modalidade de pesquisa adotada envolveu a técnica de Survey, que consiste na aplicação de questionários estruturados e padronizados a uma amostra representativa do universo de investigação.  Foram realizadas entrevistas pessoais e domiciliares.
O item rejeição também foi avaliado. Entre os pré-candidatos, o que aparece com maior taxa é Haroldo. Dos entrevistados, 12,3% disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Em segundo lugar aparece Givaldo Calado, com 10,3% e em terceiro Sivaldo, com 9,8%. O ex-prefeito Silvino Duarte detém uma taxa de 6,8%, Luizinho Roldão 5,3%, Zaqueu Lins 4,3% e, por ultimo, Pedro Veloso, com 4,0%.
Na estratificação da pesquisa, as maiores de intenção de voto de Sivaldo se situam entre os eleitores com grau de instrução superior (30,9%), entre os eleitores jovens, na faixa etária de 16 a 24 anos (25,4%) e entre os eleitores com renda familiar com mais de dois salários (23,8%). Por sexo, 26,6% dos seus eleitores são masculinos e 20,2% femininos.
Já Haroldo aparece melhor situado entre os eleitores na faixa etária acima de 60 anos (19,4%), entre os eleitores com renda familiar até dois salários mínimos (16,9%) e entre os eleitores com grau de instrução até o 9º ano secundário (17,4%). Por sexo, 22,6% dos seus eleitores são homens e 11,2% mulheres.
PESO DOS APOIOS
O Instituto Opinião sondou também a influência na eleição do prefeito Izaias Régis, que desponta com gestão aprovada pela população. Quando o eleitor é informado que Haroldo é o candidato de Izaias, frente a Sivaldo, igualmente lembrado como candidato do governador Paulo Câmara, o cenário é de empate. Sivaldo aparece com 32,6% contra 31,3% de Haroldo. Neste confronto, brancos e nulos somam 21,8% e indecisos, 14%.
AVALIAÇÃO DE GESTÃO
Da mesma forma, o levantamento incluiu a visão do eleitorado frente aos três níveis de poder – municipal, estadual e federal. O melhor avaliado é o prefeito, que tem 66.7% de aprovação ante 25,8% de desaprovação. O Governo Paulo Câmara tem 40% de desaprovação e apenas 18% de aprovação, enquanto o presidente Bolsonaro aparece como o mais reprovado. Dos entrevistados, 54% disseram que reprovam contra 17% de aprovação

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Globo revela armação bolsonarista antes da reportagem sobre o caso Marielle e a ligação do porteiro do "seu Jair"


(Foto: Reuters | Reprodução | Mídia Ninja)

247 – Uma nota interna da Globo, distribuída pelo jornalista Ali Kamel, revela que a polêmica reportagem sobre o caso Marielle Franco, que revelou a ligação de um porteiro para a casa do "seu Jair", pode ter sido estimulada pelo próprio bolsonarismo, para depois ser contestada – e gerar uma discussão sobre a cassação da concessão da Globo. Confira a íntegra:



Nota de Ali Kamel, distribuída ao jornalistmo da Globo – Há momentos em nossa vida de jornalistas em que devemos parar para celebrar nossos êxitos.

Eu me refiro à semana passada, quando um cuidadoso trabalho da editoria Rio levou ao ar no Jornal Nacional uma reportagem sobre o Caso Marielle que gerou grande repercussão. A origem da reportagem remonta ao dia 1° de outubro, quando a editoria teve acesso a uma página do livro de ocorrências do condomínio em que mora Ronnie Lessa, o acusado de matar Marielle. Ali, estava anotado que, para entrar no condomínio, o comparsa dele, Elcio Queiroz, dissera estar indo para a casa 58, residência do então deputado Jair Bolsonaro, hoje presidente da República. Isso era tudo, o ponto de partida.

Um meticuloso trabalho de investigação teve início: aquela página do livro existiu, constava de algum inquérito? No curso da investigação, a editoria confirmou que o documento existia e mais: comprovou que o porteiro que fez a anotação prestara dois depoimentos em que afirmou que ligara duas vezes para a casa 58, tendo sido atendido, nas palavras dele, pelo “seu Jair”. A investigação não parou. Onde estava o então deputado Jair Bolsonaro naquele dia? A editoria pesquisou os registros da Câmara e confirmou que o então deputado estava em Brasilia e participara de duas votações, em horários que tornavam impossível a sua presença no Rio. Pesquisou mais, e descobriu vídeos que o então deputado gravara na Câmara naquele dia e publicara em suas redes sociais. A realidade não batia com o depoimento do porteiro.

Em meio a essa apuração da Rio (que era feita de maneira sigilosa, com o conhecimento apenas de Bonner, Vinicius, as lideranças da Rio e os autores envolvidos, tudo para que a informação não vazasse para outros órgãos de imprensa), uma fonte absolutamente próxima da família do presidente Jair Bolsonaro (e que em respeito ao sigilo da fonte tem seu nome preservado), procurou nossa emissora em Brasilia para dizer que ia estourar uma grande bomba, pois a investigação do Caso Marielle esbarrara num personagem com foro privilegiado e que, por esse motivo, o caso tinha sido levado ao STF para que se decidisse se a investigação poderia ou não prosseguir. A editoria em Brasilia, àquela altura, não sabia das apurações da editoria Rio. Eu estranhei: por que uma fonte tão próxima ao presidente nos contava algo que era prejudicial ao presidente? Dias depois, a mesma fonte perguntava: a matéria não vai sair?

Isso nos fez redobrar os cuidados. Mandei voltar a apuração quase à estaca zero e checar tudo novamente, ao mesmo tempo em que a Editoria Rio foi informada sobre o STF. Confirmar se o caso realmente tinha ido parar no Supremo tornava tudo mais importante, pois o conturbado Caso Marielle poderia ser paralisado. Tudo foi novamente rechecado, a editoria tratou de se cercar de ainda mais cuidados sobre a existência do documento da portaria e dos depoimentos do porteiro. Na terça-feira, dia 29 de outubro, às 19 horas, a editoria Rio confirmou, sem chance de erro, que de fato o MP estadual consultara o STF.


De posse de todas esses fatos, informamos às autoridades envolvidas nas investigações que a reportagem seria publicada naquele dia, nos termos em que foi publicada. Elas apenas ouviram e soltaram notas que diziam que a investigação estava sob sigilo. Informamos, então, ao advogado do presidente Bolsonaro, Frederick Wassef, sobre o conteúdo da reportagem e pedimos uma entrevista, que prontamente aceitou dar em São Paulo. Nela, ele desmentiu o porteiro e, confirmando o que nós já sabíamos, disse que o presidente estava em Brasília no dia do crime. Era madrugada na Arábia Saudita e em nenhum momento o advogado ofereceu entrevista com o presidente. 

A reportagem estava pronta para ir ao ar. Tudo nela era verdadeiro: o livro da portaria, a existência dos depoimentos do porteiro, a impossibilidade de Bolsonaro ter atendido o interfone (pois ele estava em Brasilia) e, mais importante, a possibilidade de o STF paralisar as investigações de um caso tão rumoroso. É importante frisar que nenhuma de nossas fontes vislumbrava a hipótese de o telefonema não ter sido dado para a casa 58. A dúvida era somente sobre quem atendeu e só seria solucionada após a decisão do STF e depois de uma perícia longa e demorada em um arquivo com mais de um ano de registros. E isso foi dito na reportagem. Quem, de posse de informações tão relevantes, não publica uma reportagem, com todas as cautelas devidas, não faz jornalismo profissional.

Hoje sabemos que o advogado do presidente, no momento em que nos concedeu entrevista, sabia da existência do áudio que mostrava que o telefonema fora dado, não à casa do presidente, mas à casa 65, de Ronnie Lessa. No último sábado, o próprio presidente Bolsonaro disse à imprensa: “Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano".


Por que os principais interessados em esclarecer os fatos, sabendo com detalhes da existência do áudio, sonegaram essa informação? A resposta pode estar no que aconteceu nos minutos subsequentes à publicação da reportagem do Jornal Nacional.

Patifes, canalhas e porcos foram alguns dos insultos, acompanhados de ameaças à cassação da concessão da Globo em 2022, dirigidos pelo presidente Bolsonaro ao nosso jornalismo, que só cumpriu a sua missão, oferecendo todas as chances aos interessados para desacreditar com mais elementos o porteiro do condomínio (já que sabiam do áudio).

Diante de uma estratégia assim, o nosso jornalismo não se vitimiza nem se intimida: segue fazendo jornalismo. É certo que em 37 anos de profissão, nunca imaginei que o jornalismo que pratico fosse usado de forma tão esquisita, mas sou daqueles que se empolgam diante de aprendizados. No dia seguinte, já não valia o sigilo em torno do assunto, alegado na véspera para não comentar a reportagem do JN antes de ela ir ao ar. Houve uma elucidativa entrevista das promotoras do caso, que divulgamos com o destaque merecido: o telefonema foi feito para a casa 65, quem o atendeu foi Ronnie Lessa, tudo isso levando as promotoras a afirmarem que o depoimento do porteiro e o registro que fez em livro não condizem com a realidade. O Jornal Nacional de quarta exibiu tudo, inclusive os ataques do presidente Bolsonaro ao nosso jornalismo, respondidos de forma eloquente e firme, mas também serena, pela própria Globo, que honra a sua tradição de prestigiar seus jornalistas. Estranhamente, nenhuma outra indagação da imprensa motivada por atitudes e declarações subsequentes do presidente foi respondida. O alegado sigilo voltou a prevalecer.

Mas continuamos a fazer jornalismo. Revelamos que a perícia no sistema de interfone foi feita apenas um dia depois da exibição da reportagem e num procedimento que durou somente duas horas e meia, o que tem sido alvo de críticas de diversas associações de peritos.

Conto tudo isso para dar os parabéns mais efusivos à editoria Rio. Seguiremos fazendo jornalismo, em busca da verdade. É a nossa missão. Para nós, é motivo de orgulho. Para outros, de irritação e medo.

Ali Kamel