Em
campanha para se efetivar no cargo, o presidente interino adotou uma
dupla personalidade. Para o público externo, ele tenta se vender como o
novo Temer, um líder austero e comprometido com o ajuste fiscal. Para os
políticos, continua a ser o velho Michel, especialista em barganhar
cargos e verbas em troca de votos no Congresso.
O novo Temer buscou o apoio de empresários do agronegócio na segunda-feira (4), em São Paulo. Ele prometeu limitar o gasto público, pregou uma era de "muita contenção" e se disse pronto a anunciar "medidas, digamos assim, mais impopulares".
Faltou
explicar o que isso significa, mas a plateia se deu por satisfeita com a
manifestação de desprendimento. "As pessoas me perguntam: mas você não
teme propor medidas impopulares? Não, meu objetivo não é eleitoral",
recitou o peemedebista.
Nesta
terça (5), em Brasília, o interino voltou a atuar como o velho Michel.
Abriu o gabinete presidencial para um comitiva de nove senadores eprometeu abrir o cofre para concluir um pacote de obras a serem escolhidas pelos próprios políticos. O objetivo da generosidade é claro: assegurar votos a favor do impeachment.
Fora
do mundo da propaganda, o velho Michel está ganhando do novo Temer de
goleada. Seu pacote bilionário de bondades já incluiu aumentos para o
funcionalismo, alívio nas dívidas dos Estados e uma ampla liberação de
emendas parlamentares.
O
economista Gil Castelo Branco, crítico da gastança no governo Dilma,
aponta uma ação "completamente contraditória" com o discurso de
austeridade. "Desde que ele [Temer] assumiu, o que temos, na verdade, é o
crescimento de despesas", disse, ao jornal "El País".
A
dupla personalidade do interino também se manifesta na ocupação da
máquina. O novo Temer promete conter indicações políticas e combater o
"aparelhamento" da era petista. O velho Michel acaba de descolar uma
chefia regional do Incra para o filho do deputado Paulinho da Força.
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