As
novas delações, que quase a cada dia lançam uma denúncia a mais sobre
recebimentos ilícitos de Eduardo Cunha, põem a Lava Jato sob
interrogações a que só um fato imprevisível proporcionaria resposta
plena. E esse fato é muito improvável.
Entre
processos em que já réu, denúncias judiciais já formalizadas e
inquéritos em que é investigado, Eduardo Cunha já estava com seis cordas
no pescoço, sem contar as de sua mulher e de sua filha. Nada disso,
porém, se refere a quantias muito impressionantes, ainda mais por ser
Eduardo Cunha, com sua tradição na praça ao longo de um quarto de
século. E, em valores constatados, o que predomina ainda é o descoberto
por procuradores suíços, como moeda e como indicação dos discutidos
trusts, dos cartões de crédito e outros. Até essa descoberta suíça,
Cunha não se ocupava da Lava Jato.
As
novas denúncias que se sucedem correspondem a valores. Ainda que não os
citem. Limitam-se a menções de fatos, ou ao que dão como tais. Mas
sugestivos de valores necessariamente altos nas transações clandestinas.
Só poderiam ser assim os subornos para aprovação, comandada por Cunha,
de grandes financiamentos da Caixa, com recursos do FGTS, a empresas e
empreendimentos também grandiosos. Desses altos subornos, o operador de
Cunha na Caixa, Fábio Cleto, delata que seu chefe ficava com nada menos
do que 80%.
As
acusações de Cleto não as únicas em curso. Também há outras a serem
ainda abordadas, se o forem, como operações em torno de Furnas e em
projetos oficiais de habitação no Estado do Rio. Além dos menos citados e
nem por isso menos significativos.
Tudo,
portanto, autoriza a dedução de que Eduardo Cunha detém patrimônio de
alto valor. Os montantes que a Lava Jato conhece são ridiculamente
menores do que o sugerido, até aqui, pelas novas delações. Mas em que
cavernas está essa possível fortuna? Eis a questão. Haverá, talvez, quem
saiba, como participante de negócios, de um ou outro destino de parte
do recebido. A esperança de localizar o grosso estimado, no entanto, é
muito menor do que a criatividade esperta já demonstrada por Eduardo
Cunha.
Não
há muita dúvida de que as recentes acusações a Eduardo Cunha sejam
fundadas, em especial as de Fábio Cleto. O que significa ser quase nula a
hipótese de que Eduardo Cunha não tenha recebido e enrustido muito mais
do que se sabe ou era presumido. Mas, para uma operação baseada em
delações, nesse caso necessária seria a do próprio Eduardo Cunha. Por
isso mesmo, quem menos desejaria fazê-la, para valer.
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