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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Caça ao tesouro

Jânio de Freitas - Folha de S.Paulo
As novas delações, que quase a cada dia lançam uma denúncia a mais sobre recebimentos ilícitos de Eduardo Cunha, põem a Lava Jato sob interrogações a que só um fato imprevisível proporcionaria resposta plena. E esse fato é muito improvável.
Entre processos em que já réu, denúncias judiciais já formalizadas e inquéritos em que é investigado, Eduardo Cunha já estava com seis cordas no pescoço, sem contar as de sua mulher e de sua filha. Nada disso, porém, se refere a quantias muito impressionantes, ainda mais por ser Eduardo Cunha, com sua tradição na praça ao longo de um quarto de século. E, em valores constatados, o que predomina ainda é o descoberto por procuradores suíços, como moeda e como indicação dos discutidos trusts, dos cartões de crédito e outros. Até essa descoberta suíça, Cunha não se ocupava da Lava Jato.
As novas denúncias que se sucedem correspondem a valores. Ainda que não os citem. Limitam-se a menções de fatos, ou ao que dão como tais. Mas sugestivos de valores necessariamente altos nas transações clandestinas. Só poderiam ser assim os subornos para aprovação, comandada por Cunha, de grandes financiamentos da Caixa, com recursos do FGTS, a empresas e empreendimentos também grandiosos. Desses altos subornos, o operador de Cunha na Caixa, Fábio Cleto, delata que seu chefe ficava com nada menos do que 80%.
As acusações de Cleto não as únicas em curso. Também há outras a serem ainda abordadas, se o forem, como operações em torno de Furnas e em projetos oficiais de habitação no Estado do Rio. Além dos menos citados e nem por isso menos significativos.
Tudo, portanto, autoriza a dedução de que Eduardo Cunha detém patrimônio de alto valor. Os montantes que a Lava Jato conhece são ridiculamente menores do que o sugerido, até aqui, pelas novas delações. Mas em que cavernas está essa possível fortuna? Eis a questão. Haverá, talvez, quem saiba, como participante de negócios, de um ou outro destino de parte do recebido. A esperança de localizar o grosso estimado, no entanto, é muito menor do que a criatividade esperta já demonstrada por Eduardo Cunha.
Não há muita dúvida de que as recentes acusações a Eduardo Cunha sejam fundadas, em especial as de Fábio Cleto. O que significa ser quase nula a hipótese de que Eduardo Cunha não tenha recebido e enrustido muito mais do que se sabe ou era presumido. Mas, para uma operação baseada em delações, nesse caso necessária seria a do próprio Eduardo Cunha. Por isso mesmo, quem menos desejaria fazê-la, para valer.

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