Na
campanha pelo impeachment, Michel Temer prometeu montar um ministério
de notáveis. Ele nomearia uma equipe de auxiliares reconhecidos pelo
talento, e não pela ficha corrida ou pelo apoio de deputados e
senadores.
O
balão de ensaio murchou rapidamente. Ao tomar posse, o presidente
imitou os antecessores e loteou a Esplanada em troca de votos no
Congresso. Prevaleceu o velho "toma lá, dá cá", no qual ele se
especializou como poderoso chefão do PMDB.
Na
semana passada, o ministro Eliseu Padilha relembrou o truque em tom de
galhofa. Em palestra para funcionários da Caixa Econômica Federal, ele
narrou os bastidores da escolha do ministro da Saúde, Ricardo Barros. A
fala foi transcrita pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e vale como uma
aula de fisiologismo.
"Lembram
que quando começou a montagem do governo diziam: 'Só queremos nomear
ministros que são distinguidos na sua profissão em todo o Brasil, os
chamados notáveis'? Aí nós ensaiamos a conversa de convidar um médico
famoso em São Paulo, até se propagou que ele ia ser ministro da Saúde",
contou.
Padilha
se referia ao respeitado cirurgião Raul Cutait, livre-docente da
Faculdade de Medicina da USP. "Aí nós fomos conversar com o PP. 'O
Ministério da Saúde é de vocês, mas gostaríamos de ter um ministro da
Saúde assim'", prosseguiu.
Animado
com o interesse da plateia, o peemedebista narrou o desfecho do
diálogo: "Diz para o presidente que nosso notável é o deputado Ricardo
Barros". "Vocês garantem todos os nomes do partido em todas as
votações?". "Garantimos". "Então o Ricardo será o notável".
Há
nove meses no cargo, Barros se notabilizou por dizer besteiras e
defender os interesses dos planos de saúde. Apesar do desempenho pífio,
tem recebido boas notas do professor Padilha. O PP também parece
satisfeito. Desde que assumiu o ministério, não deixou de cumprir um
dever de casa dado pelo Planalto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário