A ideia de que a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva será a próxima
etapa da Operação Lava Jato encontra-se em todas as mentes. O que falta
para a prisão de Lula, pergunta-se, depois da absurda prisão do
presidente da maior empreiteira brasileira?
Simples: falta reagir.
Falta deixar claro que toda iniciativa para colocar Lula atrás das
grades vai além de toda decência e representa um ataque inaceitável à
liberdade e à democracia. É o ponto culminante de uma investigação que
teve início com um prova ilícita, avançou por medidas que não respeitam o
direito de defesa nem a presunção da inocência, através de delações
premiadas e prisões provisórias destinadas a quebrar a resistência dos
detidos, técnica condenada pelos mais respeitados juristas do Brasil e
do mundo, inclusive da Suprema Corte dos EUA.
Vamos abandonar determinadas ilusões, também. Fazendo uma simples
análise para ajudar a pensar: se Lula for feito prisioneiro, correrá
alto risco de uma condenação criminal. Neste aspecto, cumpre recordar, a
Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro permanecem
invictos. em matéria de condenação. Num processo onde as partes não
demonstram isenção nem distanciamento das próprias convicções, não
perderam nenhuma. Mesmo quem fez delação premiada não escapa de ser
condenado, ainda que a uma pena menor. Alguém tem o direito de pensar,
assim, em Lula em 2018? Na boa?
Vamos acordar, gente.
Vamos mostrar que uma eventual prisão de Lula se trata uma medida
absurda e injusta que irá representar o primeiro passo para um
retrocesso que todos sabem como começa e, ao contrário do que é costume
dizer, também sabem como termina.
Basta ler os trabalhos do professor da PUC-SP Pedro Serrano – já
escrevi sobre eles aqui neste espaço – mostrando que vivemos um tempo de
golpes de Estado sem tanques nem fuzis. Os regimes de exceção, hoje,
tem aparência de normalidade. São produzidos por medidas judiciais
disfarçadas em cumprimento da lei e da defesa da ordem, quando não
passam de uma tentativa de se fazer política por outros meios – sem
voto, é claro.
A tentativa de criminalizar as relações entre Lula e os empresários,
depois que ele deixou o governo, sugerindo aí qualquer demonstração de
mau comportamento ou coisa pior, é apenas uma demonstração de
subdesenvolvimento mental e ignorância política.
Vamos falar claro: pela liderança internacional que conquistou, pelos
espaços que teve competência de abrir para a venda de produtos e
serviços brasileiros durante seus oito anos de mandato, quando mudou o
eixo de nossa diplomacia comercial, Lula tem todo direito de fazer isso.
Deveria ser aplaudido, até, pois chegou numa altura da vida na qual
seria mais fácil descansar e se divertir — além de receber homenagens de
vez em quando, não é mesmo?
As viagens internacionais de Lula são um serviço que ele presta ao
país e nosso futuro. Tem a ver com interesses nacionais, expressão que a
maioria de seus adversários nunca soube o que significa mas é cada vez
mais decisiva nessa época de globalização e interesses imperiais.
Imagine se Barack Obama resolvesse fingir que nada tem a ver com a venda de aviões da Boeing.
Será que Bill Clinton, fora da Casa Branca, será criticado por
defender medidas de interesse de grandes corporações norte-americanas em
suas viagens pelo mundo? Em fazer palestras onde defende ideias como
solidariedade e colaboração?
Detalhe: vamos criticar Lula porque ele fala do combate contra a fome? É oportunismo?
Ronaldo Reagan e George Bush, pai, se mobilizaram na década de 1980
para defender a indústria de informática dos EUA. Abriram o mercado
brasileiro, numa pressão violenta que incluiu sanções duras contra nossa
economia – e foram aplaudidos, sem muito silencio nem o esperado pudor,
pela mesma turma que hoje critica Lula.
Pense nos alemães, grandes exportadores de tecnologia limpa – com
auxílio de Angela Merkel, é claro. Ou no pacote de investimentos
chineses.
É sempre bom lembrar que não há prova nenhuma contra Lula. O que se
quer é humilhar e ofender. Dar-lhe um tratamento indecoroso e mostrar
que seus adversários tem força para isso. Enfim, o que se quer é, enfim,
dar uma lição neste tipo que não conhece o seu lugar. Você sabe do que
estou falando.
Tudo o que se insinua a respeito de Lula pode-se demonstrar nas
relações entre Fernando Henrique Cardoso e grandes empresários na saída
do governo.
O que há é uma vontade de mostrar que seus adversários estão acima da
Lei e do Direito. Sim, meus amigos. Mais uma vez, é disso que se trata.
Isso porque Lula não é uma pessoa física. É uma história, um personagem
que ajuda a dar sentido para o Brasil.
"Prendo e arrebento," dizia João Figueiredo, o general-presidente da ditadura que mandou prender Lula, 35 anos atrás.
Naquela época, as greves operárias que Lula comandava e inspirava
serviram de teste político para uma abertura que queria uma democracia
sem trabalhadores nem ao povo pobre. Em 2015, a situação se repete. As
pressões contra Lula irão definir os direitos da maioria dos brasileiros
definir seu destino pelos próximos anos.
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