Blog do Kennedy
O
ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González disse anteontem em
palestra no Instituto Lula que via com preocupação “sinais de
intolerância” no Brasil. Ele está coberto de razão.
O
alerta de González deveria sensibilizar petistas e tucanos, que
aumentaram o tom do debate político. São ambas forças mais moderadas, de
centro-esquerda em suas origens, e que foram responsáveis por vencer as
eleições presidenciais no Brasil nos últimos 20 anos. Os dois partidos
devem ter mais responsabilidade no debate público.
Felipe
González é um dos principais líderes da social-democracia europeia.
Esteve no poder durante quase 14 anos, entre 1982 e 1996. Tem boas
relações tanto com o ex-presidente Lula como com o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Conhece o PT e o PSDB.
O
alerta de uma figura ponderada como González deveria ser ouvido por
petistas e tucanos. Quem estimula a intolerância hoje pode ser vítima
dela amanhã. O ex-premiê espanhol disse: “Fico preocupado porque o
Brasil é um país de tolerância, de convivência”.
O
PT precisa parar de ver inimigos na imprensa e na oposição. Os
problemas econômicos do país foram criados no governo Dilma, pelo erro
de dosagem nas chamadas políticas anticíclicas e pela tentativa de
aplicar uma nova matriz macroeconômica que se revelou um
desenvolvimentismo infantil que não desenvolveu.
E
o ex-presidente Lula foi o maior cabo eleitoral de Dilma nas duas
últimas eleições. Por isso, também tem sua parcela de responsabilidade
e, ao criticar o governo Dilma, tem de levar isso em conta.
Já
a oposição precisa se comportar como quem tem expectativa real de
voltar ao poder. A última pesquisa do Datafolha mostrou que a crise do
governo Dilma e do PT é grave. Há forte chance de fadiga de material em
2018. A oposição muitas vezes se confunde com grupelhos radicais e joga
no quanto pior melhor.
Essa
guerra entre PT e PSDB favorece radicais que não prezam a democracia e
estimulam intolerância no país. Temos visto episódios preocupantes, como
o apedrajamento de um menina que frequentava o candomblé no Rio de
Janeiro.
A
oposição deveria levar em conta que o país não acabará e precisará ser
governado a partir de 2018. Por isso, moderação é algo que faria bem à
oposição nesse momento.
Moderação
também faria bem ao PT, que precisa discutir os seus erros, como cobrou
ontem Lula num tom de autocrítica. Lula disse: “Temos que definir se
queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o
nosso projeto”.
Governar
o Brasil é uma tarefa complicada. “O Brasil não é para principiantes”,
já ensinava uma frase atribuída ao Tom Jobim. PT e PSDB precisam ver se
querem salvar a própria pele ou melhorar o Brasil
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