Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Na
tarde desta quarta, a polícia isolou a praça dos Três Poderes por causa
de três mochilas esquecidas em frente ao Planalto. O trânsito ficou
caótico até o início da noite, quando a tropa concluiu que não havia
risco de explosão. A bomba contra o governo estava do outro lado da rua,
pronta para ser detonada no plenário da Câmara.
Em
mais um rompante populista, os deputados estenderam a fórmula de
aumento real do salário mínimo para todas as aposentadorias do INSS. Se
fosse aplicada em 2015, a regra elevaria o gasto da Previdência em R$
9,2 bilhões, segundo a equipe econômica. É outro golpe no esforço para
reequilibrar as contas públicas.
O
Titanic se aproxima perigosamente do iceberg, mas os parlamentares
continuam a aproveitar a fragilidade do governo para posar de defensores
dos velhinhos. A ordem é aprovar benesses, mesmo sabendo que não há
dinheiro para pagá-las.
O
ataque ao ajuste contou com o apoio do PSDB, que parece torcer pelo
naufrágio como se não estivesse a bordo do mesmo navio. Os tucanos
voltaram a recorrer ao "esqueçam o que escrevi", para desgosto de
técnicos que participaram das medidas de estabilização do governo FHC.
"Uma
coisa é criticar o ajuste, outra é elevar o gasto com as
aposentadorias. Previdência é coisa séria, não dá para brincar assim.
Isso vai gerar desequilíbrio estrutural e contraria o que a gente sempre
defendeu", protesta a economista Elena Landau.
O
apelo à coerência não conteve o furor explosivo dos tucanos. Com 44
votos, eles ajudaram a acender o pavio da nova bomba legislativa.
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