247 – Uma chapa
café com leite, como era típico na Velha República, está se impondo ao
PSDB. Mineiro de quatro costados, o presidenciável Aécio Neves já
percebeu que as circunstâncias das eleições de 2014 estão mudando
rapidamente, e que será preciso acompanhar o ritmo para não ficar para
trás. Um vice paulista é a solução. Hoje, o nome, paradoxalmente, é do
carioca Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente cuja carreira política
foi toda ela desenvolvida em São Paulo.
O ímã que desbalanceia a bússola
política de Aécio está no arranjo ensaiado entre o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva. Eles se
acertaram em torno de uma chapa puro sangue no PSB. A consolidação desse
movimento, a ser anunciado formalmente em fevereiro, atinge
frontalmente a estratégia do presidente tucano. Aécio precisa avaliar
seriamente a ideia de ter um paulista – e tucano - em sua companhia,
para recuperar o terreno perdido pela manobra em curso no campo de
adversário mais amistoso (e perigoso) que ele conheceu. FHC vem a calhar
para combater o astuto Eduardo Campos.
Entre o staff de Aécio, como apurou
247, o nome de Fernando Henrique não é apenas bem-vindo, mas encarado
como uma solução do tipo luva sob medida para desatar o nó do presente
momento.
Em primeiro lugar, o anúncio de uma
chapa Aécio-FHC dominaria as atenções da mídia e poderia galvanizar o
debate nos primeiros meses do ano. Além de ser uma simples resposta à
união no PSB, mostraria que também os tucanos têm sua própria artilharia
pesada. De quebra, acentuaria a polêmica com a principal adversária da
corrida eleitoral, a presidente Dilma Rousseff.
Com seu poder de argumentação,
ninguém melhor que FHC para defender sua própria gestão de oito anos no
Brasil. Já não há dúvida, neste sentido, de que tanto a administração de
Dilma, como também as de Lula e de FHC estarão em questão neste ano.
Talvez mais que apontar soluções para o futuro, como gostaria a
oposição, o grande debate em torno das eleições de outubro será a
respeito do que se fez até aqui, quem fez mais, quem fez menos, quem fez
por quem ou deixou de fazer.
Na Velha República, as chapas
café-com-leite funcionavam às mil maravilhas, tanto pela força dos
coronéis para marcarem votos à caneta, como pelo poderio econômico dos
dois Estados. Agora, por outro lado, uma aliança entre um senador de
carreira toda ela vitoriosa em Minas Gerais, maior produtor de café do
país, com um ente nacional de berço político paulista, Estado que se
tornou o principal produtor nacional de leite, juntaria bem mais que um
simples 'pingado'. Nos dois Estados, afinal, se concentra praticamente a
metade do eleitorado do País.
Para o PSDB, escolher um vice para
Aécio saído das próprias fileiras tucanas em São Paulo seria um bálsamo.
Teria o poder, de saída, de aplacar a dissidência interna promovida
pelo ex-governador José Serra, que não para um minuto de disparar farpas
contra Aécio. Talvez com um único amigo na política dos dias de hoje –
FHC --, Serra estancaria suas críticas diante do constrangimento de
desagradar o velho parceiro, de quem foi ministro do Planejamento e da
Saúde. A aliança, ainda, tranquilizaria o governador Geraldo Alckmin,
que veria reforçadas suas chances de reeleição – e, assim, finalmente,
poderia descer do muro em apoio a Aécio.
Nos demais Estados, os próprios
tucanos reconhecem que, à exceção de poucos nomes, não tem ninguém
melhor para concorrer. Entre as alianças possíveis, todos os partidos
disponíveis parecem atraídos pela máquina do governo Dilma ou pelo poder
de atração da aventura Eduardo-Marina.
O movimento natural das coisas pode levar o PSDB a encontrar no próprio PSDB a sua melhor solução.
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