Em 2011, o Ministério das Comunicações abriu investigação sobre a Disney para saber se controlava ilegalmente a rádio Itapema FM, que usava o nome fantasia de “Rádio Disney”. A emissora, porém, pertencia legalmente a Paulo Henrique Cardoso e à Disney
Ao final da minuciosa reportagem do Jornal Nacional da última
terça-feira (3/12) sobre a composição societária do hotel Saint Peter,
de Brasília – uma escancarada tentativa da Globo de “melar” a
contratação do ex-ministro José Dirceu pelo hotel, que lhe permitiria se
beneficiar do regime semiaberto –, a esposa me olha e pergunta: “E
aí?”.
Fiz um teste. Perguntei a ela: “Qual é a denúncia?”.
A resposta que me deu poderia ter sido dada por um advogado de renome
ou por qualquer outra pessoa com maior ou menor qualificação para
entender o que acabara de ser “denunciado” pelo telejornal da Globo. A
patroa disse que, pelo que entendeu, a composição societária do hotel é
“suspeita”.
Insisto na pergunta. Suspeita por que? “Ora, porque o presidente da
empresa que administra o tal hotel Saint Peter é auxiliar de
escritório”, respondeu.
A cara metade tem certa razão. O sujeito reside em uma casa comum e
não em uma mansão na qual o senso comum sugere que deveria residir o
alto executivo de uma empresa como essa “Truston International Inc.”
O panamenho José Eugenio Silva Ritter reside na periferia de Panamá
City. Ao Jornal Nacional, ele reconheceu que aparece mesmo como sócio de
muitas empresas mundo afora. É mais do que provável, pois, que a
Truston use “laranjas” – ou, ao menos, um “laranja”. Que outra razão
essa empresa transnacional teria para concentrar estruturas societárias
nesse sujeito?
O mensalão abriu mesmo as portas do setor do inferno que abriga os
hipócritas empedernidos. Deve haver, só no Brasil, centenas de milhares
de empresas que se valem do mesmo tipo de estrutura societária do Saint
Peter e ninguém – muito menos a Globo – cisma de montar grandes esquemas
de reportagem, enviando repórteres ao exterior, para mostrar que os
donos de um empreendimento preferem não constar em um contrato social.
Tanto é que, como mostrou furo de reportagem do Brasil 247 divulgado ontem, o Grupo
Abril vendeu operação da TVA em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba
para o mesmo grupo estrangeiro que comprou, em Brasília, o hotel Saint
Peter.
Se o grupo que edita a congênere de antipetismo da Globo (a revista
Veja) associou-se ao grupo estrangeiro que controla o hotel em que
Dirceu vai (?) trabalhar, daí se pode entender como o uso de “laranjas” é
quase uma regra em grandes aquisições e investimentos estrangeiros aqui
e em muitas outras partes do mundo.
Mas se a Globo está mesmo preocupada com o uso de “laranjas”, deveria
usar toda essa estrutura multimilionária de seu jornalismo para
investigar um caso escandaloso envolvendo Paulo Henrique Cardoso, filho
de Fernando Henrique Cardoso, que integra – ou integrou – sociedade
junto com o mega grupo empresarial Disney.
Em 2011, o Ministério das Comunicações abriu investigação sobre o
grupo Disney para saber se controlava ilegalmente a rádio Itapema FM, de
São Paulo, que usava o nome fantasia de “Rádio Disney”.
A emissora, porém, pertencia legalmente a Paulo Henrique Cardoso e à
Disney. Oficialmente, à época, PHC tinha 71% da emissora e a Disney
menos de 30%, de acordo com o que é permitido pela Constituição para que
empresas estrangeiras sejam proprietárias de meios de comunicação no
Brasil.
Executivos da Disney no país – o diretor financeiro e o diretor-geral
– tinham procuração de PHC para autorizar empréstimos, emitir cheques e
vender bens da emissora, o que mostra que interferiam na gestão da
empresa.
Até 2007, a Rádio Itapema foi de Orestes Quércia (morto em 2010), que
ganhou a concessão no governo Sarney. Ele negociou a emissora com o
grupo RBS, que revendeu 71% à Rádio Holding e 29% à Walt Disney Company
(Brasil). Paulo Henrique, em 2011, tinha 99% da Rádio Holding. O 1%
restante era do grupo Disney.
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