Concomitantemente à decretação pelo presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa, da execução das penas de privação de liberdade
dos condenados pelo julgamento do mensalão, eclodiu na imprensa
brasileira uma onda de “indignação” com os “privilégios” de que eles
estariam desfrutando por serem “poderosos”, “ricos” e “brancos”.
Desde o recolhimento daqueles condenados aos regimes fechado e
semiaberto, contam-se às dezenas as colunas, os editoriais, as cartas de
leitores de jornais e de revistas e até os comentários em programas de
televisão ou rádio nesse sentido.
De repente, a mesma imprensa que vivia repercutindo acusações da
direita ao sistema carcerário e às leis penais do país de serem
“brandos”, agora passou a sentir “pena” dos encarcerados e a considerar o
sistema “duro demais” – menos, é claro, para os condenados pelo
mensalão, que, no dizer desses órgãos de imprensa e de seu público,
estariam como que desfrutando de hotel cinco estrelas.
Foi nesse ambiente que, no sábado, este Blog foi procurado por um
leitor que trabalha como agente penitenciário e que, sob condição de não
ser divulgado o menor indício sobre si que possa identificá-lo, fez
considerações preocupantes sobre o cumprimento das penas dos condenados
pelo mensalão.
Segundo essa pessoa, apesar de ser fortemente dificultado aos
internos do sistema carcerário maiores contatos com o mundo exterior – o
que inclui também o noticiário –, este pode ser acompanhado facilmente
dentro de qualquer prisão, inclusive via acesso de smartphones à
internet.
A fonte informa que tanto os condenados pelo julgamento do mensalão
ao regime fechado quanto ao semiaberto irão cumprir suas penas junto a
uma população carcerária que, motivada pelo noticiário, se tiver a menor
chance não só irá submetê-los a sevícias e extorsões variadas como
poderá assassiná-los.
O agente penitenciário em questão diz que a revolta contra os
condenados pelo mensalão gerada pela mídia pode – e ocasionalmente irá –
desencadear rebeliões nos presídios a que forem confinados, o que, se
ocorrer, tornará inútil colocá-los em celas isoladas dos outros presos.
Segundo o informante, é uma irresponsabilidade instigar a indignação
de uma população carcerária submetida a condições degradantes 24 horas
por dia, 365 dias por ano. Torturar e até matar os condenados pelo
mensalão já seria hoje um objeto de desejo dos que se sentem
injustiçados pelas condições em que são mantidos.
O pior é que, segundo essa pessoa que procurou o Blog, o mal já está
feito. O noticiário já repercutiu no sistema carcerário de norte a sul
do país e, assim, mesmo que essa instigação contra os condenados do
mensalão fosse suspensa imediatamente pela mídia, a situação não seria
revertida. Os encarcerados do país todo estão em pé-de-guerra.
Por fim, na opinião desse interlocutor a única chance de evitar não
só rebeliões, mas, também, a morte de algum – ou alguns – dos condenados
seria confiná-los em prisão especial. Em prisões comuns, dificilmente o
Estado poderá lhes garantir a integridade física. A fonte também afirma
que é impossível que a mídia não soubesse o que estava fazendo.
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