Por Fernando Brito, do Tijolaço -
Depois do delegado Mauricio Moscardi ter protagonizado, nas páginas
amarelas da Veja, um espetáculo de falta de decoro policial, alguns
dias atrás, que o repórter Marcelo Auler demoliu até virar poeira, outro delegado da lava jato, Igor Romário de Paula, sobe ao picadeiro para rugir sua ferocidade.
Moscardi faz uma confissão prática de que prender Lula não era uma questão de lei, mas de timming político-policial, dentro daquela já famosa linha do “não tínhamos provas, mas temos as convicções”.
Já Igor diz que não se perdeu o timming, e que a prisão de Lula pode acontecer em “30 ou 60 dias”.
Como prisão sem julgamento no Brasil só existe em caso de
ocultação de provas, tentativas de obstruir investigações por
expedientes ilegais ou manifesto risco à sociedade, o delegado Igor
mostra – como se ainda fosse preciso – que não se trata de um expediente
legal, mas da legalização da obsessão lavajatiana de prender o ex-presidente, por algum e qualquer motivo.
Num país minimamente cioso da isenção de seu sistema
policial-judicial, toda esta turma já teria sido afastada, há muito
tempo, por transformar o seu poder em perseguição política e na
realização de seus desejos pessoais.
Agora, porém, a atitude do delegado, que já é absurda em
qualquer tempo, assume ares de um tortura emocional contra alguém que
está aos pés de um leito de UTI, com a companheira de décadas entre a
vida e a morte, depois de um gravíssimo acidente vascular cerebral.
Um homem que age assim é pior, muito pior, do que as duas ou
três sociopatas que foram fazer provocações à porta do Hospital Sírio
Libanês. Porque é o Estado quem lhe confiou uma missão, de agir com
isenção e prudência. Em uma palavra, todos nós lhe confiamos um poder,
que não pode ser exercido para a crueldade e a morbidez.
Com Lula, ou com qualquer outro dos que investigam (ou que
não investigam, como Aécio Neves) isso é vergonhoso, indigno, desumano e
ilegal.
Mas é, sobretudo, revelador da desumanidade, do caráter
cruel e insensível de um cidadão que, em lugar de cumprir suas
obrigações funcionais, vai à mídia agredir as pessoas em situação de
fragilidade.
O Doutor Igor não consegue nem ser um Javert e atirar-se ao Sena, num único gesto de humanidade.
Atira-se à lama, quando se presta ao papel de promover-se no momento de um drama pessoal
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