Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O
populismo foi o menor dos males no discurso de posse de Donald Trump. A
promessa de resgatar o povo das garras do establishment já soaria falsa
se fosse feita por qualquer político eleito por um dos grandes partidos
americanos. Na boca de um bilionário que sempre cortejou os poderosos,
ficou ainda mais vazia e irrelevante.
Nunca
na história daquele país alguém tirou tanto dinheiro do próprio bolso
para se eleger. Se Trump realmente desprezasse a elite de Washington,
como repetiu tantas vezes para ganhar votos, não teria feito de tudo
para ser aceito no clube.
O
que realmente preocupa no novo presidente é a aposta no nacionalismo e
no isolamento. A globalização é um fato da realidade. Reconhecer seus
efeitos negativos é diferente de sugerir que seja possível revogá-la. A
não ser, claro, que Trump se julgue capaz de desinventar a internet e
derrubar as redes que conectam pessoas, empresas e investidores.
Ao
dizer que a nova ordem mundial empobreceu os EUA, o magnata finge não
saber que sua instalação foi liderada pelos americanos. Nenhum deles
transferiu fábricas para a Ásia por filantropia, e sim para reduzir
salários e aumentar lucros.
Trump
explorou o medo do terror para se eleger. Deu certo, e agora ele
promete ampliar gastos militares e tratar competidores globais como
inimigos. A agressividade é alarmante porque ele passou a comandar o
maior arsenal nuclear do planeta.
Como
lembrou o mestre Clóvis Rossi, o slogan "America First" parece ecoar o
"Deutschland über alles" do nazismo. Eu me arrisco a ir além. Se
Roosevelt pensasse como Trump, é possível que a Segunda Guerra tivesse
acabado de outra forma.
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