Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Na última semana do ano, a Polícia Federal apreendeu documentos em gráficas suspeitas de fraudes na
campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer. É difícil que a operação dê
grandes resultados, já que as empresas tiveram tempo para se livrar de
provas. Mesmo assim, serve como lembrete de que ainda há, no Tribunal
Superior Eleitoral, quem esteja interessado em julgar a chapa vitoriosa
em 2014.
Embora haja um clima de acordão no ar, o relator Herman Benjamin
parece estar fora dele. O ministro tem demonstrado independência e
sinaliza estar disposto a levar a investigação até as últimas
consequências.
Ao
autorizar as buscas, ele anotou que o TSE vê "indícios de fraude na
destinação final dos recursos eleitorais". O ministro citou a "aparente
ausência de capacidade operativa de subcontratadas" e o "recebimento de
altos valores por pessoas físicas e jurídicas sem justa causa
demonstrada". Em português claro, ele apontou suspeitas de que a
campanha usou laranjas para lavar dinheiro.
Esses sinais já estão na praça há pelo menos um ano e meio. Em julho de 2015, a Folha mostrou que a chapa pagou R$ 6,15 milhões a uma gráfica sem
nenhum funcionário registrado. Outros casos levantados pela Lava Jato
sugerem que as empreiteiras do petrolão reinvestiram parte das verbas
desviadas na campanha.
O
processo no TSE tem sido marcado por estranhezas. O autor da ação é o
PSDB, que se desinteressou pelo caso desde que Dilma foi afastada. O
presidente do tribunal é o ministro Gilmar Mendes, que demonstra fina
sintonia política com Temer.
O
Planalto defende a tese esdrúxula da divisão da chapa, como se
presidente e vice não tivessem sido eleitos pela mesma campanha. Por via
das dúvidas, tentar esticar a ação até a metade de 2017, quando Temer
terá trocado dois ministros da corte. Pelos planos do governo, tudo
acabará em nada. No limite, o TSE se limitaria a determinar a "cassação"
de quem já foi cassada pelo Congresso.
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