Francisca da Silva, a prostituta Coroca, em bar da feira de Manacapuru (AM), onde se elegeu vereadora
Folha de S.Paulo - Fabiano Maisonnave
Uma das principais notícias do ano em todo o mundo, a insurreição dos
eleitores contra a política tradicional, sacudiu também a pequena
cidade de Manacapuru (99 km de Manaus), onde a prostituta Francisca da
Silva, a Coroca, fez história ao se eleger vereadora.
A candidatura de protesto partiu de taxistas e mototaxistas do
movimentado cais do porto. Há anos, Coroca faz ponto ali entre bares e
camelôs que também se aproveitam do vaivém de estivadores e viajantes.
A cidade de 95 mil habitantes vive um clima de sublevação contra o
atual prefeito, Jaziel Tororó (PMDB), e a Câmara, onde ele tem maioria.
Em outubro, ele ficou em terceiro lugar (24% dos votos), e apenas 2 dos
15 vereadores se reelegeram.
Em 16 de novembro, dezenas de funcionários municipais da saúde com
salários atrasados jogaram tinta nas paredes de prédios públicos,
incluindo a Câmara e a Prefeitura, e lançaram sacos de lixo na casa do
prefeito. Atualmente, o principal hospital da cidade só atende casos de
emergência.
A cidade amarga o 5.075° lugar (de 5.281 prefeituras) no Ranking de Eficiência Dos Municípios da Folha (REM-F).
Pelas ruas, a sujeira acumulada pela paralisação da coleta de lixo e o
esgoto a céu aberto são a parte mais visível da má administração.
"Aqui era a Princesinha do Solimões, vê se agora dá pra dizer isso?",
diz o taxista Valdemir Santana, citando a alcunha da cidade.
Santana, que trabalha no cais, é um dos idealizadores da candidatura,
surgida em tom de brincadeira em conversa sobre a política local.
Convencida a se candidatar, Coroca contou com o apoio também de feirantes e comerciantes.
O único material de campanha foi um santinho onde ela aparece
maquiada e vestida com uma sóbria roupa preta ao lado dos dizeres: "Por
insatisfação e revolta vote...!!! Coroca".
O resultado surpreendeu até os mais otimistas. Ela ficou em quarto
lugar, com 1.122 votos (2,2% dos votos válidos), a apenas 334 votos do
primeiro colocado. Um êxito para uma campanha com custo declarado de R$
155.
A vitória tem sido uma reviravolta na vida de Coroca —o apelido vem
do antigo hábito de se vestir de preto, a cor do pássaro que lhe
empresta o nome.
Com problema de alcoolismo, ela se prostitui desde os 11 anos. No cais, um programa pode custar R$ 10.
Mora com os pais e os três filhos, de idades entre 6 e 10 anos, em um casebre de paredes de madeira e teto de zinco.
Desde a eleição, Coroca ganhou status de celebridade local —é recebida com sorrisos e costuma ser chamada de "minha vereadora".
A partir da semana que vem, terá salário de R$ 7.800, verba de
gabinete de R$ 3.500 e ainda poderá nomear até quatro funcionários.
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