Quando se imaginaria que veríamos o Congresso sob domínio de aventureiros?
Dois
em cada três brasileiros desejam a renúncia de Michel Temer. Só dez em
cada cem lhe concedem a graça de um apoio, proporção verificada ainda
antes dos "vazamentos" da Lava Jato sobre Temer. Única preocupação que
de fato o inquieta e mobiliza, essa fragilidade crescente será revertida
em grande parte, na opinião de Temer e ao seu redor, com o
aproveitamento promocional durante o recesso parlamentar e judicial, de
agora a fevereiro. Providências nesse sentido já estão em curso,
dirigidas a setores da imprensa e da TV. Mas não falta o "outro lado".
O
aproveitamento do recesso está nos planos também dos opositores a Temer
e às suas alegadas reformas. Partes importantes dos movimentos sociais
planejam aproveitar este período para organizar, com redes de internet e
com o setor sindical, reações aos retrocessos originários do governo
Temer.
Entre
o otimismo aflito e a remobilização pretendida, os políticos deixaram
sinais sugestivos e vão recolher em seus Estados, queiram ou não,
impressões influentes. Deputados e senadores deixaram claro que as
dúvidas sobre a permanência de Temer estavam cada vez menos sutis. No
PSDB, sócio do governo, e no DEM as menções a Fernando Henrique eram
claras quanto a acontecimentos possíveis, ou previstos, para 2017. No
PMDB, Nelson Jobim foi citação corrente, inclusive como solução a que o
PT não se oporia. Foi nos dois esteios da própria base governista,
portanto, que a substituição de Temer se tornou cogitada no Congresso.
Em
seus Estados, o que os deputados e senadores vão encontrar será a
figuração em carne, osso e voz daquele desequilíbrio esmagador entre
Temer e a expectativa dos brasileiros. É um velho consenso em política,
embora nem sempre confirmado, que os parlamentares de volta dos recessos
não são os mesmos que o iniciaram. A repetir-se mais uma vez a
influência dos conterrâneos, já se sabe em que rumo os acontecimentos
virão.
Mas
é muito difícil entender como o Brasil permitiu-se chegar à baixeza
cultural e política que ostenta –e levou-a ao paroxismo nas duas últimas
semanas. Só países muito chinfrins se deixam estropiar por um governo
inerte e incapaz, repleto de exemplares da pior condição moral. E ver
sem reagir a sua já insuficiente indústria desintegrar, o comércio
fechar portas incontáveis, o investimento fugir, o futuro apodrecer
antes de ser.
E
o povo sofrido perder outra vez, como nos 500 anos anteriores aos
poucos em que pela primeira vez deixara de perder. E perdida a pequena
melhoria, é o desemprego de volta, é a queda dos salários, o atraso do
pagamento. É a perda de direitos. É a pobreza de volta à miséria.
E
quando se imaginaria, retirada a ditadura, que nas altitudes das
instituições democráticas assistiríamos —passivos, como se apenas
víssemos um filme— ao Congresso sob o domínio de aventureiros e
presidido por um réu e acusado em numerosos inquéritos? E esse
Congresso, o Ministério Público e o Judiciário a se engalfinharem na
disputa de desrespeitos e abusos de poder.
Nesse
país ensandecido, e vergonhoso, faz-se o teste definitivo dos
militares: se têm resíduos dos tempos cucarachos ou se, como parece,
passaram adiante do país em civilização.
Como
descobriu o "Drive Premium", informativo de Fernando Rodrigues e
equipe, na quarta-feira Michel Temer recebeu João Roberto Marinho para
jantar. Foi a segunda vez, sendo a primeira logo ao tomar posse. Mas o
que Temer queria agora? Queixar-se de certo noticiário da TV Globo. Quer
conter as divulgações negativas para sua imagem. Poderia, talvez,
incomodar-se um pouco com as informações negativas sobre a situação do
país.
Na
mesma quarta, opositores faziam uma reunião em São Paulo, inclusive com
presenças ilustres, para examinar hipóteses de mobilização.
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