Esse Lula é exagerado. Depois do
fabuloso triplex do Guarujá, o homem "ganhou" um estádio de futebol, o
"Itaquerão", de presente do generoso Emilio Odebrecht, que recebeu cerca
de R$ 1 bilhão pela a obra.
Trata-se da piada deste domingo, publicada pela Folha de S.Paulo, que, infelizmente, não saiu na coluna do Sensacionalista.
Piada à parte, a história do
“presente” (ou seria um “agrado”), que a empreiteira queria fazer ao
ex-presidente, faltou lembrar, em primeiro lugar, que a ideia de
investir no Itaquerão, surgiu do risco de São Paulo, uma das
cidades-sede da Copa do Mundo, de não contar com um estádio à altura
para o evento. A tentativa de utilização do estádio do Morumbi não
prosperou diante da impossibilidade do São Paulo FC em assumir os R$ 630
milhões necessários ao atendimento às exigências da Fifa. Daí a opção
pela Arena Corinthians, cujo projeto inicial, diga-se, era bem mais
modesto do que aquele que acabou prevalecendo.
Em segundo lugar, é preciso deixar
claro que o entusiasmo do então já ex-presidente Lula com a opção pelo
Itaquerão foi compartilhado pelo governo estadual e pela prefeitura de
São Paulo, que a construção do estádio serviria para valorizar e
desenvolver a Zona Leste da capital.
O governador Geraldo Alckmin decidiu
investir nada menos de R$ 365 milhões em obras de melhoria da
acessibilidade à região. O prefeito Gilberto Kassab, não apenas destinou
R$ 105 milhões para a modernização do sistema viário, como assinou
decreto concedendo R$ 420 milhões em incentivos fiscais para a
construção do estádio, na forma de títulos batizados de Certificados de
Incentivo ao Desenvolvimento (CDIs). Os certificados poderiam ser
utilizados para o pagamento de impostos municipais como o Imposto sobre
Serviços (ISS) ou o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) próprios
ou de terceiros. A lei previa que os tais CIDs poderiam ser
comercializados, por exemplo, com bancos, considerados grandes pagadores
desses impostos.
“O projeto é apenas uma peça de uma
grande engrenagem”, afirmou Kassab, na terça feira, 19 de julho de 2011,
após assinar a lei municipal que criou os incentivos fiscais. "São
diversas etapas, com diversos responsáveis de uma obra que tem um grande
padrinho que é o povo brasileiro. Uma obra que tem o apoio fundamental
do governo federal, do governo do Estado, da prefeitura de São Paulo,
fazendo juntos, esta que ser, se tudo correr bem, a arena do jogo de
abertura da Copa do Mundo."
Resumo da ópera: ao contrário do que
previam os urubólogos de plantão, o estádio foi construído a tempo e a
cidade de São Paulo acabou sediando o jogo inaugural da Copa do Mundo. E
sobrou para o Timão um papagaio de R$ 900 milhões, que vem sendo pago
às duras penas à construtora baiana, inclusive com atraso.
Presente do generoso Emilio ao
corintiano Lula? Só se for presente de grego. A piada publicada pela
Folha com estardalhaço em sua edição deste domingo, 23, só se equipara à
denúncia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a agricultora
Maria Geni do Nascimento, candidata a vereadora pelo PDT de Santa Cruz
do Baixo Verde, em Pernambuco, teria recebido uma doação de nada menos
de R$ 75 milhões de um beneficiário do Bolsa Família.
Seria mais uma “prova” de que o
programa estaria sendo utilizado fraudulentamente para ocultar
contribuições eleitorais e foi aceita também alegremente e sem
contestação pela imprensa (na verdade, a doação foi de R$ 750). Ora, com
essa grana, dona Geni, que acabou recebendo parcos 13 votos, poderia
não apenas ter comprado folgadamente o mandato, como o próprio município
de Santa Cruz, conhecido como a capital da rapadura, cujo “PIB” mal
chegou a R$ 53 milhões, em 2012.
* Clayton Netz é jornalista e já dirigiu algumas das principais publicações econômica do País, como Exame e Istoé Dinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário