Rompeu-se o muro de proteção de vazamentos de delações envolvendo políticos tucanos que ficou conhecido como "não vem ao caso".
"Odebrecht afirma ter pago caixa dois a Serra na Suíça", informa a
manchete da Folha nesta sexta-feira, algo inimaginável no período
pré-impeachment.
Explica-se agora todo o nervosismo que tomou conta dos políticos e deixou Brasília em transe nos últimos dias.
O conflito envolvendo membros dos três poderes foi consequência desse clima tenso pré-delações, não a causa.
Às vésperas do segundo turno das eleições municipais, começaram a
vazar para todo lado, ainda em pequenas notas, as temidas delações da
Odebrecht, agora podendo atingir políticos e partidos de todas as
latitudes. A situação fugiu ao controle; a Lava Jato ganhou vida
própria.
A assinatura dos acordos de delação premiada de Marcelo Odebrecht e
80 executivos da empreiteira está previsto para o próximo dia 8 de
novembro, mas o estrago já começou.
Com nomes, codinomes, datas e números, a reportagem de Bela Megale na
Folha conta como, segundo as delações de dois dos executivos, a
campanha de 2010 de José Serra, hoje chanceler do governo Michel Temer,
recebeu R$ 23 milhões (R$ 34 milhões em valores atualizados) em caixa
dois pagos pela empreiteira em contas no Brasil e na Suíça.
"Foram implicados os ex-deputados Ronaldo Cezar Coelho (PSD-RJ),
fundador do PSDB e amigo do ministro, e Márcio Fortes (PSDB-RJ), nome
importante na arrecadação de recursos para tucanos como FHC e Aécio
Neves", relata o jornal em sua primeira página.
A assessoria de José Serra negou as irregularidades e disse que o
ministro "não vai se pronunciar sobre os supostos vazamentos de supostas
delações relativas a doações feitas ao partido em suas campanhas".
Os dois delatores são Pedro Novis, presidente do grupo Odebrecht de
2002 a 2009 e atualmente membro do conselho administrativo, e o
diretor Carlos Armando Paschoal, que atuava junto a políticos de São
Paulo na negociação das doações.
Os operadores do PSDB, segundo as delações, eram os ex-deputados
federais Ronaldo Cezar Coelho, um dos fundadores do partido, integrante
da coordenação política de Serra em 2010, que cuidava das contas no
exterior, e Márcio Fortes, que também atuou como arrecadador nas
campanhas de Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, e na de Aécio
Neves, em 2014, responsável pelas doações em caixa dois no Brasil.
"Pedro Novis e José Serra são amigos de longa data. O tucano é
chamado de "vizinho" em documentos internos da empreiteira por já ter
sido vizinho do executivo. O ministro também era identificado como
"careca" em algumas ocasiões", diz a matéria de Bela Megale. "Para
corroborar os fatos relatados, a Odebrecht promete entregar aos
investigadores comprovantes de depósitos feitos na conta no exterior e
também no Brasil".
Pode ser só o começo de um tsunami de denúncias cujas proporções
ninguém é capaz de prever no momento, mas não é difícil imaginar onde
pode parar. Quem vai escapar?
(Do balaio do Kotscho)
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