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domingo, 23 de outubro de 2016

Piada de domingo

Por Clayton Netz, especial para o 247
Esse Lula é exagerado. Depois do fabuloso triplex do Guarujá, o homem "ganhou" um estádio de futebol, o "Itaquerão", de presente do generoso Emilio Odebrecht, que recebeu cerca de R$ 1 bilhão pela a obra.
Trata-se da piada deste domingo, publicada pela Folha de S.Paulo, que, infelizmente, não saiu na coluna do Sensacionalista.
Piada à parte, a história do “presente” (ou seria um “agrado”), que a empreiteira queria fazer ao ex-presidente, faltou lembrar, em primeiro lugar, que a ideia de investir no Itaquerão, surgiu do risco de São Paulo, uma das cidades-sede da Copa do Mundo, de não contar com um estádio à altura para o evento. A tentativa de utilização do estádio do Morumbi não prosperou diante da impossibilidade do São Paulo FC em assumir os R$ 630 milhões necessários ao atendimento às exigências da Fifa. Daí a opção pela Arena Corinthians, cujo projeto inicial, diga-se, era bem mais modesto do que aquele que acabou prevalecendo.
Em segundo lugar, é preciso deixar claro que o entusiasmo do então já ex-presidente Lula com a opção pelo Itaquerão foi compartilhado pelo governo estadual e pela prefeitura de São Paulo, que a construção do estádio serviria para valorizar e desenvolver a Zona Leste da capital.
O governador Geraldo Alckmin decidiu investir nada menos de R$ 365 milhões em obras de melhoria da acessibilidade à região. O prefeito Gilberto Kassab, não apenas destinou R$ 105 milhões para a modernização do sistema viário, como assinou decreto concedendo R$ 420 milhões em incentivos fiscais para a construção do estádio, na forma de títulos batizados de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CDIs). Os certificados poderiam ser utilizados para o pagamento de impostos municipais como o Imposto sobre Serviços (ISS) ou o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) próprios ou de terceiros. A lei previa que os tais CIDs poderiam ser comercializados, por exemplo, com bancos, considerados grandes pagadores desses impostos.
“O projeto é apenas uma peça de uma grande engrenagem”, afirmou Kassab, na terça feira, 19 de julho de 2011, após assinar a lei municipal que criou os incentivos fiscais. "São diversas etapas, com diversos responsáveis de uma obra que tem um grande padrinho que é o povo brasileiro. Uma obra que tem o apoio fundamental do governo federal, do governo do Estado, da prefeitura de São Paulo, fazendo juntos, esta que ser, se tudo correr bem, a arena do jogo de abertura da Copa do Mundo."
Resumo da ópera: ao contrário do que previam os urubólogos de plantão, o estádio foi construído a tempo e a cidade de São Paulo acabou sediando o jogo inaugural da Copa do Mundo. E sobrou para o Timão um papagaio de R$ 900 milhões, que vem sendo pago às duras penas à construtora baiana, inclusive com atraso.
Presente do generoso Emilio ao corintiano Lula? Só se for presente de grego. A piada publicada pela Folha com estardalhaço em sua edição deste domingo, 23, só se equipara à denúncia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a agricultora Maria Geni do Nascimento, candidata a vereadora pelo PDT de Santa Cruz do Baixo Verde, em Pernambuco, teria recebido uma doação de nada menos de R$ 75 milhões de um beneficiário do Bolsa Família.
Seria mais uma “prova” de que o programa estaria sendo utilizado fraudulentamente para ocultar contribuições eleitorais e foi aceita também alegremente e sem contestação pela imprensa (na verdade, a doação foi de R$ 750). Ora, com essa grana, dona Geni, que acabou recebendo parcos 13 votos, poderia não apenas ter comprado folgadamente o mandato, como o próprio município de Santa Cruz, conhecido como a capital da rapadura, cujo “PIB” mal chegou a R$ 53 milhões, em 2012.
* Clayton Netz é jornalista e já dirigiu algumas das principais publicações econômica do País, como Exame e Istoé Dinheiro

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