Ricardo Noblat
Quem tem medo de Eduardo
Cunha, a ser cassado em breve por falta de decoro? O governo de Michel
Temer tem. E da Justiça Eleitoral? Também. E da Lava-Jato? Ele, mas não
só.
E medo de que o
impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff acabe derrotado no
Senado? O governo tem um pouco, afinal nunca se sabe o que poderá
acontecer até lá. Definitivamente, este não é um governo para cardíacos.
Por medo de que Cunha
diga o que não deve caso se julgue abandonado, o governo acionou sua
base de apoio na Câmara dos Deputados e o julgamento dele ficou para
meados de setembro próximo, depois do julgamento de Dilma pelo Senado.
Se é que Cunha será mesmo
julgado em setembro. Pois de repente, adia-se o julgamento a qualquer
pretexto ou a nenhum. Quem sabe não é transferido para início de 2017?
Cunha acumula segredos
que poderão pôr o governo a pique, além de provocar um terremoto na
Câmara. Ali, mais de uma centena de deputados deve favores milionários a
ele. Alguns devem a própria eleição.
Temer conhece parte
desses segredos. E, por isso, receia os estragos que sua revelação
causaria. Dificilmente cairá se Cunha abrir o bico. Mas em torno dele,
muitos cairão ao primeiro sopro. O desgaste será grande.
O pior de tudo é que a
manobra para salvar Cunha da cassação não garante seu silêncio. Mesmo os
que advogam a causa do ex-presidente da Câmara, o maior algoz de Dilma,
admitem que ele não escapará do vendaval da Lava-Jato.
Há farto material
recolhido capaz de condená-lo a muitos anos de cadeia. E há muita
disposição da Justiça em Curitiba e em Brasília para punir Cunha
exemplarmente.
O que lhe restaria? Uma
saída de cena à moda de Getúlio Vargas, mas ele não tem o perfil para
tal. Ou a delação, como tantos fizeram até aqui.
Ao se dispor a contar o
que sabe, ou parte do que sabe sobre a corrupção na política, Cunha
poderá negociar uma pena mais branda. E talvez uma prisão no conforto do
seu apartamento no Rio. De resto, livraria a mulher e a filha de serem
condenadas. Ele está pensando a respeito.
Por medo da Justiça
Eleitoral, o governo pensa no que fazer para evitar que ela julgue tão
cedo as ações que pedem a cassação da chapa Dilma/Temer, acusada de um
monte de irregularidades – entre eles, o uso de dinheiro de caixa dois.
De Lula ao mais
desconhecido dos vereadores, os políticos tentam vender a ideia de que
caixa dois é uma infração corriqueira e insignificante, sequer deve ser
tratada como crime.
Corriqueira, é sim. Mas
também é crime. E não é insignificante. Caixa dois é dinheiro tirado da
contabilidade paralela de empresas para financiar campanhas. Sua origem é
ilegal, portanto.
É dinheiro que políticos
recebem clandestinamente e não declaram à Justiça. Aqueles contemplados
com tal ajuda largam com vantagem na frente daqueles que não a têm. Ao
fim e ao cabo, subverte-se a vontade popular.
O governo apostava no
desdobramento das ações ajuizadas contra a chapa Dilma/Temer, de modo a
que apenas Dilma fosse punida, Temer não. Mas já sabe que isso será
impossível.
Para complicar ainda
mais, novos fatos apurados pela Lava-Jato deverão fortalecer as ações ou
dar ensejo a outras. Processo contra um presidente da República fica
suspenso até o fim do seu mandato. O prejuízo político, não. Estende-se
no tempo.
Por medo de delações que a
Lava-Jato ainda colhe, o governo.... Bem, o governo não pode fazer
grande coisa em relação a isso. Só pode sentir medo.
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