Luiís Fernando Veríssimo
A reeleição da Dilma e a
perspectiva de ela ser substituída no poder pelo Lula em 2018 tornaram
mais urgente a necessidade de frear, ou ferrar, o PT
O Ano do Brasil na França (2005, por aí)
foi um sucesso. Tanto que, quando veio ao Brasil, num encontro com um
barão da nossa imprensa, o coordenador do evento estranhou a ausência de
qualquer notícia, aqui, sobre o que acontecia lá, onde nossos artistas e
produtos eram bem promovidos, numa iniciativa conjunta dos governos
brasileiro e francês. E ouviu do seu interlocutor uma explicação
sucinta, contada por ele mesmo:
— Eu quero que o Lula se ferre.
“Se ferre”, claro, não foi exatamente o
verbo usado. O verbo substituído exprimia o sentimento de parte da
grande imprensa nacional e boa parte do nosso patriciado, para quem um
governo do PT bem-sucedido era uma ameaça trifurcada: à ortodoxia
liberal deixada pelo Fernando Henrique, ao desejado Estado mínimo,
minado por um assistencialismo desenfreado, e à normalidade democrática
(ou seu atual arremedo), com um PT eternizado no poder e monopolizando a
vida política no país por muitos anos. A reeleição da Dilma e a
perspectiva de ela ser substituída no poder pelo Lula em 2018 tornaram
mais urgente a necessidade de frear, ou ferrar, o PT.
Durante muito tempo, quando as coisas se
acalmarem, se discutirá se o PT foi ferrado ou ferrou-se sozinho,
sucumbindo à tentação do dinheiro fácil do propinato, sem o consolo de
não ser o único. O PT limpo continua, talvez até tenha futuro, mas o
fato é que o desejo do tal barão da imprensa (que já morreu) se
realizou.
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