Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Foi
um massacre: por 452 votos a 19, a Câmara aprovou na última quarta o
fim da reeleição. O placar dilatado sugere que os partidos discutiram à
exaustão e chegaram ao consenso de que o mecanismo é ruim para o país.
Na verdade, eles não discutiram quase nada, e a votação durou pouco mais
de uma hora. No dia seguinte, muitos deputados criticavam o próprio
voto.
"Esse
negócio de fim da reeleição é coisa de país atrasado, de democracia
atrasada", afirmou o líder do governo, José Guimarães (PT-CE).
Apesar
do discurso, o petista votou "sim". Como explicar que um político
experiente, escolhido para articular em nome do Planalto, mude a
Constituição por algo que considera nefasto para a democracia?
"Não tinha saída. Tinha uma onda no plenário", disse Guimarães, sem se desculpar por ter surfado contra a própria consciência.
A
incoerência não foi monopólio dos petistas. O PSDB, que aprovou a
reeleição para dar um segundo mandato a Fernando Henrique Cardoso, agora
se uniu para proibi-la.
"Eu
me arrependo amargamente de ter votado pela reeleição. Reeleição é um
instituto para países desenvolvidos, não para um país em construção como
o Brasil", discursou Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). Faltou explicar por
que só mudou de ideia agora, depois que o eleitor reelegeu dois
presidentes do PT.
A
reeleição desequilibra disputas e favorece quem está no cargo, mas é
incorreto dizer que sem ela ficaremos livres do uso da máquina nas
campanhas. Basta lembrar o que Lula fez para eleger Dilma, em 2010. Ou
como Quércia quebrou o finado Banespa para entregar o governo paulista a
Fleury, em 1990.
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