Duas pesquisas divulgadas na semana passada por Ibope e Vox Populi sobre como os brasileiros se sentem em relação ao futuro mostram como a grande mídia joga contra o país para desgastar o governo, ao privilegiar e exagerar no noticiário negativo.
Para 41% dos brasileiros, segundo o Ibope, a imprensa mostra a situação econômica do país mais negativa do que na realidade o cidadão percebe. "Isso revela que os níveis de contradição entre a realidade e o que a mídia publica chegaram a graus altíssimos", constata Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo, jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, em entrevista a Helder Lima, da Rede Brasil Atual.
Esta contradição apontada por Leal Filho pode ser explicada pelos números da "Pesquisa Brasileira de Mídia 2014", também do Ibope: 75% dos 18.312 entrevistados em 848 municípios nunca lê jornal e 85% nunca lê qualquer revista. Apenas 6% dos brasileiros leem jornais diariamente. Acrescento: é este noticiário, porém, que serve de matéria prima e alimenta os comentários das redes sociais nas novas plataformas da mídia eletrônica.
Na mesma linha, pesquisa nacional do Vox Populi sobre sentimentos e expectativas a respeito da economia revela que a opinião pública vive um pesadelo. Quase metade da população estima uma inflação mensal superior a 20% até o final do ano e apenas 7% dos entrevistados sabem que hoje menos de dez indivíduos em cada cem estão desempregados, enquanto 38% imaginam que a proporção de brasileiros sem emprego já ultrapassa os 40%.
"A nova pesquisa mostra que a quase totalidade dos brasileiros depois de ser bombardeada durante tanto tempo com a noção de "crise", perdeu a capacidade de enxergar com realismo a situação da economia", analisa Marcos Coimbra, do Vox Populi, em artigo publicado na última edição da revista Carta Capital, sob o título "A crise e suas interpretações".
Na abertura do texto, Coimbra se pergunta: "Quanto mal uma mídia partidarizada pode causar a um País? Que prejuízos a irresponsabilidade dos veículos de comunicação traz à sociedade?"
E ele mesmo responde mais adiante: "Todos sabem quão importante é o papel das expectativas na vida econômica. Quando a maioria se convence de que as coisas não vão bem, seu comportamento tende a produzir aquilo que teme: a desaceleração da economia e a diminuição do investimento público. A "crise" é, em grande parte, provocada pelas expectativas".
Os números do Ibope confirmam o que diz Coimbra: enquanto os dados das pesquisas mais recentes indicam uma inflação anual em torno de 8%, uma em cada três das 2.002 pessoas ouvidas não sabe apontar corretamente quais são os atuais níveis. Para 19%, ela já estaria acima dos 12% ao ano.
"Há uma contradição entre a realidade e o que é pauta. Essa contradição se mantém há muito tempo, e agora num grau de distanciamento muito maior. E isso explica a percepção da sociedade e do cidadão revelada nesses números".
Como se estivessem participando juntos de um debate, os dois analistas chegam às mesmas conclusões sobre diferentes pesquisas, e Coimbra lembra um ponto importante: "Ninguém defende que a população seja mantida na ignorância em relação aos problemas enfrentados pela economia. Mas vemos outra coisa. A mídia hegemônica deseduca ao deformar a realidade e por nada fazer para seus leitores e espectadores desenvolverem uma visão realista e informada do País. Fabrica assustados para produzir insatisfeitos".
Em 1968, o ano do AI_5, o golpe dentro do golpe, Caetano Veloso já cantava em "Alegria, Alegria":
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...
E vamos que vamos. Para onde?
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