(
ANTONIO LASSANCE: texto originalmente publicado na Carta Maior)
Congressistas do PSDB disseram ao
jornal O Estado de S. Paulo (7/3) que um de seus deputados federais foi
até Rodrigo Janot, procurador-geral da República, assim que se soube que
o doleiro Alberto Yousseff havia denunciado o senador Aécio Neves em
uma de suas delações.
Segundo o termo de delação número
20, feito por Yousseff ainda no final do ano passado, o doleiro
descreveu um esquema na estatal Furnas Centrais Elétricas que garantia o
recebimento de propina pelo PSDB e pelo Partido Progressista.
O Estadão informou que um deputado
federal funcionou como emissário para passar um duro 'recado' a Janot: a
delação de Youssef contra Aécio deveria ser considerada como denúncia
vazia, pois isso seria inaceitável para alguém que teve 53 milhões de
votos.
Então é para isso que servem os
votos dados a Aécio? Para intimidar o procurador-geral quando se tem
alguma denúncia contra o PSDB?
Chamar a isso de 'recado' é
eufemismo. Janot foi é intimidado por um capanga do PSDB que não sabe se
portar como parlamentar. O caso deveria ensejar apuração, requerimentos
de informação ao procurador-geral e processo por quebra de decoro
contra o deputado.
Por sua vez, Janot, como qualquer
autoridade da República, está sob as obrigações da Lei de Acesso às
Informações. Tem o dever de divulgar publicamente sua agenda e de
relatar qualquer encontro que seja objeto de questionamentos que digam
respeito à suafunção.
O povo brasileiro tem o direito de
saber quem do PSDB foi ao procurador-geral para intimidá-lo e o exato
teor das conversas havidas. Mais ainda se houve algum acordo.
A preocupação não é só com a figura
de Janot, mas com a condição do Ministério Público Federal, que é um
órgão da República que não pode se acovardar nem se render a qualquer
tipo de barganha.
Janot é candidato a permanecer no
cargo de Procurador-Geral do Ministério Público. Sua recondução
obrigatoriamente passa pelo Senado, conforme manda a Constituição. Além
da intimidação, se outros fatores pesaram em sua decisão, ele terá que
dar satisfações.
Aécio está tão enrolado nas delações
de Youssef quanto seu correligionário Antonio Anastasia, que está
citado no inquérito e não recebeu a mesma graça do arquivamento. O
capanga deve ter se esquecido de defendê-lo com a mesma empáfia.
O Estadão notoriamente é aliado do
governador Geraldo Alckmin na disputa contra Aécio Neves pela
candidatura tucana à disputa presidencial de 2018. Pouco importa.
O que realmente importa é a verdade e
que ninguém, mesmo um parlamentar, ainda que seja um deputado que acha
que pode tudo, pode intimidar o Ministério Público e ficar por isso
mesmo.
Ainda mais importante é que
procurador-geral da República que se preze não se deixa intimidar e nem
barganha lugares em sua engaveta para esconder malfeitos de quem quer
que seja.
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