Por Mauro Santayana
Segundo os chamamentos
que estão sendo feitos nesse momento, no WhatsApp e nas redes sociais,
pessoas irão sair às ruas, no domingo, porque acusam o governo de ser
corrupto e comunista e de estar quebrando o país.
Se estes brasileiros,
antes de ficar repetindo sempre os mesmos comentários dos portais e
redes sociais, procurassem fontes internacionais em que o mercado
financeiro normalmente confia para tomar suas decisões, como o FMI -
Fundo Monetário Internacional - e o Banco Mundial, veriam que a
história é bem diferente, e que o PIB e a renda per capita caíram, e a
dívida pública líquida praticamente dobrou, foi no governo Fernando
Henrique Cardoso.
Segundo o Banco Mundial (veja aqui), o PIB do Brasil,
que era de 534 bilhões de dólares, em 1994, caiu para 504 bilhões de
dólares, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo, oito anos
depois.
Para subir, extraordinariamente, destes 504 bilhões de dólares, em
2002, para 2 trilhões, 300 bilhões de dólares, em 2013, último dado
oficial levantado pelo Banco Mundial, crescendo mais de 400% em dólares,
em apenas 11 anos, depois que o PT chegou ao poder.
E isso, apesar de o senhor Fernando Henrique Cardoso ter vendido mais de 100 bilhões de dólares em empresas brasileiras,
muitas delas estratégicas, como a Telebras, a Vale do Rio Doce e parte
da Petrobras, com financiamento do BNDES e uso de “moedas podres”, com o
pretexto de sanear as finanças e aumentar o crescimento do país.
Com a renda per capita ocorreu a mesma coisa. No lugar de crescer em oito anos, a renda per capita da população brasileira, também segundo o Banco Mundial -
caiu de 3.426 dólares, em 1994, no início do governo, para 2.810
dólares, no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002.
E aumentou, também, em mais de 400%, de 2.810 dólares, para 11.208 dólares, depois que o PT chegou ao poder, também segundo o World Bank.
O salário mínimo, que em 1994, no final do governo Itamar Franco,
valia 108 dólares, caiu 23%, para 81 dólares, no final do governo FHC e
aumentou em três vezes, para mais de 250 dólares, hoje, também depois
que o PT chegou ao poder.
As reservas monetárias internacionais - o dinheiro que o país possui
em moeda forte - que eram de 31,746 bilhões de dólares, no final do
governo Itamar Franco, cresceram em apenas algumas centenas de milhões
de dólares por ano, para 37.832 bilhões de dólares (aqui) nos oito anos do governo FHC.
Nessa época, elas eram de fato negativas, já que o Brasil, para
chegar a esse montante, teve que fazer uma dívida de 40 bilhões de
dólares com o FMI.
Depois, elas se multiplicaram para 358,816 bilhões de dólares em
2013, e para 369,803 bilhões de dólares, em dados de ontem,
transformando o Brasil de devedor em credor (aqui),
depois do pagamento da dívida com o FMI em 2005, e de emprestarmos
dinheiro para a instituição, quando do pacote de ajuda à Grecia em 2008.
E, também, no quarto maior credor individual externo dos EUA, segundo consta, para quem quiser conferir, do próprio site oficial do tesouro norte-americano.
O IED - Investimento Estrangeiro Direto, que foi de 16,590 bilhões de
dólares, em 2002, no último ano do Governo Fernando Henrique Cardoso,
também subiu mais de quase 400%, para 80,842 bilhões de dólares, em
2013, depois que o PT chegou ao poder, ainda segundo dados do Banco Mundial: passando
de aproximadamente 175 bilhões de dólares nos anos FHC (mais ou menos
100 bilhões em venda de empresas nacionais) para 440 bilhões de dólares
depois que o PT chegou ao poder.
A dívida pública líquida (o que o país deve, fora o que tem guardado
no banco), que, apesar das privatizações, dobrou no Governo Fernando
Henrique, para quase 60%, caiu para 35%, agora, 11 anos depois do PT
chegar ao poder.
E, ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil ocupa, hoje,
apenas o quinquagésimo lugar do mundo, em dívida pública, em situação
muito melhor do que os EUA, o Japão, a Zona do Euro, ou países como a
Alemanha, a França, a Grã Bretanha - cujos jornais adoram ficar nos
ditando regras e “conselhos” - ou o Canadá.
Também ao contrário do que muita gente pensa, a carga tributária no
Brasil caiu ligeiramente, segundo Banco Mundial, de 2002, no final do
governo FHC, para o último dado disponível, de dez anos depois (aqui),
e não está entre a primeiras do mundo, assim como a dívida externa, que
caiu mais de 10 pontos percentuais nos últimos dez anos, e é a segunda
mais baixa, depois da China, entre os países do G20.
Quanto à questão fiscal, não custa nada lembrar que a média de
déficit público, sem desvalorização cambial, dos anos FHC, foi de
5,53%, e com desvalorização cambial, de 6,59%, bem maior que os 3,13% da
média dos anos que se seguiram à sua saída do poder; e que o superavit
primário entre 1995 e 2002 foi de 1,5%, muito menor que os 2,98% da
média de 2003 e 2013 - segundo Ipeadata e o Banco Central - nos governos
do PT.
Considerando-se estas informações, que estão, há muito tempo,
publicamente disponíveis na internet, o grande mistério da economia
brasileira, nos últimos 12 anos, é saber em que dados tantos
jornalistas, economistas, e “analistas”, ouvidos a todo momento, por
jornais, emissoras de rádio e televisão, se basearam, antes e agora,
para tirar, como se extrai um coelho da cartola - ou da "cachola" - o
absurdo paradigma, que vêm defendendo há anos, de que o Governo Fernando
Henrique foi um tremendo sucesso econômico, e de que deixou “de
presente” para a administração seguinte, um país econômica e
financeiramente bem sucedido.
Nefasto paradigma, este, que abriu caminho, pela repetição, para
outra teoria tão frágil quanto mentirosa, na qual acreditam piamente
muitos dos cidadãos que vão sair às ruas no próximo domingo:
A de que o PT estaria, agora, jogando pela janela, essa -
supostamente maravilhosa - “herança” de Fernando Henrique Cardoso,
colocando em risco as conquistas de seu governo.
O pior cego é o que não quer ver, o pior surdo, o que não quer ouvir.
Não dá, para, em perfeito juízo, acreditar que os advogados,
economistas, empresários, jornalistas, empreendedores, funcionários
públicos, majoritariamente formados na universidade, que bateram panelas
contra Dilma em suas varandas, há poucos dias, acreditem mais nos
boatos das redes sociais, do que no FMI e no Banco Mundial, organizações
que podem ser taxadas de tudo, menos de terem sido “aparelhadas” pelo
governo brasileiro e seus seguidores.
Está certo que não podemos ficar apenas olhando para o passado, que
temos de enfrentar os desafios do presente, fruto de uma crise que é
internacional, que faz com que estejamos crescendo pouco, embora haja
diversos países ditos “desenvolvidos” que estejam muito mais endividados
e crescendo menos do que nós.
Assim como também é verdade que esse governo não é perfeito, e que se
cometeram inúmeros erros na economia, que poderiam ter sido evitados,
principalmente nos últimos anos.
Mas, pelo amor de Deus, não venham nos impingir nenhuma dessas duas
fantasias, que estão empurrando muita gente a sair às ruas para se
manifestar: nem Fernando Henrique salvou o Brasil, nem o PT
está quebrando um país, que em 2002, era a décima-quarta maior economia
do mundo, e que hoje já ocupa o sétimo lugar.
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