Por Fernando Brito, do Tijolaço
Não faz um ano, Marina Silva, o grande fenômeno eleitoral de hoje – e
da próxima pesquisa, ao que se diz – não conseguiu reunir as
assinaturas de meio milhão de brasileiros que a quisessem fazer chefe de
um novo partido político.
Meio milhão de brasileiros é 0,35% dos eleitores deste país.
Traduzindo: 35 pessoas em cada 10 mil cidadãos.
Quem não servia para ser chefe de um partido, agora será apresentada como possível chefe de um país inteiro.
Faltava-lhe povo, hoje -mais do que sempre – sobra-lhe mídia.
Soma-se agora também a “indicação” do irmão, da mãe, da viúva e dos meninos que Eduardo Campos deixou.
A nova política toma como eixo o desejo de um clã. Apenas uma
família, por mais respeito pessoal que mereçam, ainda mais no momento de
luto.
Se os métodos são estes, o que é a personagem Marina?
Dela, traça um agudo e conciso retrato o meu para sempre professor
Nílson Lage, em seu Facebook, que não posso deixar de partilhar:
Antes que se comece o papo de sempre, com uma porção de pessoas
xingando as outras, defino minha visão pessoal consolidada sobre o
objeto.
Marina Silva pode ser excelente pessoa, mas é o anti-Brasil.
Nascida de esquerdismo primitivista e romântico, ostenta uma subcultura enfeitada com palavras difíceis e frases sem sentido.
Odeia o agronegócio. Não no sentido de enfrentar os herdeiros
empresariais do velho coronelismo limitando suas ambições políticas,
organizar agricultores em cooperativas para exploração de produtos em
condições competitivas, ou criar arranjos produtivos que integrem a
pequena propriedade em unidades industriais ou núcleos de armazenamento,
processamento e comercialização.
É contra o agronegócio em si, contra aquilo que sustenta o
comércio externo do país. Extrativista, admite no máximo a agricultura
de subsistência.
Esse aspecto de seu programa é que o mais agrada aos Estados
Unidos, que têm no Brasil sério concorrente real – e principalmente
potencial – no mercado de commodities agrícolas.
Esquerdista radical – no que esquerda e direita se abraçam,
comovidas, ao som de um bolero – não é contra o capitalismo (tanto que a
assessoram alguns de mais destacados intelectuais orgânicos do
financismo bancário), mas contra a “sociedade industrial” – isto é, a
Embraer, as siderúrgicas, as metalúrgicas…
É dos que odeiam hidrelétricas e acham construí-las na Amazônia
um crime contra os “povos da floresta”. Como termelétricas poluem e
usinas nucleares são perigosas, sugerem iluminar e mover este país de
200 milhões de pessoas com cata-ventos, quando o vento sopra.
Tirando o criacionismo, o horror aos transgênicos (não ao
patenteamento de novas espécies obtidas em laboratório, mas à ciência
que permite criá-los) e o uso abusivo dos conceitos em ciências humanas,
nada propõe em áreas do conhecimento.
Não tem suporte político além do aglomerado que se forma
conjunturalmente para colocá-la no governo ou atrapalhar o “inimigo”. É
contra “tudo que está aí”, pela gestão do Estado com a graça de Deus,
espada da Justiça, a confiança da Fé, a pureza da Inocência e iluminação
da Sabedoria. Fernando Collor, em 1989, era candidato bem mais
consistente.
Muitos dos eleitores de Marina que conheço, principalmente aqui
no Sul do país, vêm nos últimos anos buscando na história da família
algum avô que lhes possa garantir uma “outra nacionalidade” . Pode até
ser, então, que tenham oportunidade de usá-la.
Não há nada a acrescentar ao que diz Lage.
Mas não é demais completar o que isso significa com a observação do
amigo que me enviou seu texto: Há horas em que certas posições políticas
são inocência ou cinismo.
“A inocência é prima da boa vontade, da ingenuidade e da ignorância. O
cinismo tem parte com a má-fé, a astúcia e a arrogância. Em outras
palavras: apoiar Marina é iludir – a si mesmo ou aos outros; dependendo
apenas de como se é, se inocente ou cínico.”
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