247 – Os principais personagens da política
brasileira deram uma prova de respeito não apenas à memória do
ex-governador Eduardo Campos, mas também à própria democracia, durante o
velório dele, em Recife. Na manhã deste domingo 17, quando autoridades e
políticos estiveram reunidos à volta da viúva Renata, dos seus cinco
filhos e do caixão do ex-governador, a convivência entre contrários foi
pacífica, mesmo que muito emocionada. Houve, no entanto, um ponto fora
desta cena: o senador Jarbas Vasconcellos.
Pela tevê, o que o Brasil inteiro pode ver foram cenas de convívio
amistoso entre líderes que pensam diferente, cujas divergências foram
deixadas de lado num momento de choque nacional. Nem a tensão e a
incerteza introduzidas na sucessão presidencial pela morte de Campos
abalaram o respeito existente entre os adversários presentes.
A viúva Renata Campos recebeu de braços abertos a solidariedade que a
presidente Dilma Rousseff foi prestar à família. Também a companheira
de chapa de Campos, Marina Silva, foi alvo do respeito da presidente.
Como maior autoridade do País, ela não poderia deixar de comparecer a
uma cerimônia fúnebre com estas características, de um homem público
duas vezes governador de Estado, candidato a presidente e, no caso
específico, seu ex-colega de ministério no governo Lula. O
ex-presidente, que estava no campo político oposto ao de Campos quando
ele morreu, pranteou o amigo acima de qualquer divergência do momento.
Como só poderia se esperar de figuras públicas polidas e sensatas, o
presidenciável tucano Aécio Neves e o ex-governador José Serra, que
igualmente trabalhavam para vencer Campos nas urnas, igualmente foram
até o Palácio do Campos das Princesas no intuito de amparar a família e
manifestar seus pesares pela perda do ex-governador. Todos deram uma
demonstração de que os sentimentos humanos estão acima das diferenças
político-partidárias.
Só foi diferente o senador Jarbas Vasconcelos. Com um histórico de
ferrenha oposição à família Campos em Pernambuco, desde os ataques que
desferia sobre o ex-governador Miguel Arraes, a quem sucedeu, até o
embate direto contra o Campos, em duas eleições. Jarbas perdeu as duas, a
segunda em primeiro turno. Nessa fase, dizia que Campos "fazia o povo
pernambucano de idiota" e praticava o "mau-caratismo". Diante da maior
liderança dele, no entanto, procurou se reaproximar até que admitiu seu
lugar como político de expressão menor do que a dele em seu Estado.
Com esse passado, o senador era a última pessoa presente ao velório
que poderia discriminar a presença de alguém ali. Mas foi logo ele que,
pensando na eleição presidencial, antes mesmo de o caixão de Campos
baixar na sepultura, quebrou o protocolo. A crítica à presença da
presidente Dilma, que nunca, ao longo de toda a campanha, atacou Campos
frontal ou mesmo indiretamente, foi descabida. Típica de quem exibe
sentimentos em público que não correspondem aos verdadeiros. Jarbas
Vasconcelos perdeu uma grande chance de ficar calado num momento tão
especial.
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