A aposta em Marina Silva é de alto risco por várias razões.
Dilma Rousseff e Aécio Neves representam forças claras e explícitas e são personalidades racionais.
Dilma defende um neo-desenvolvimentismo com uma atuação proativa do
Estado e Aécio a volta ao neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso.
Em 2011, o pânico em relação à inflação tirou Dilma do prumo. Mas ela
tem ideias claras sobre o país e sobre o que quer: política industrial,
investimentos em infraestrutura, aprofundamento do social.
Podem ser apontados inúmeros vícios de gestão, mas também tem feitos
consagradores, como a própria política do pré-sal, a construção da
indústria naval, o Pronatec, Brasil Sem Miséria e um conjunto de obras —
especialmente na área de energia.
Mesmo sua teimosia mais arraigada não chega perto do risco da
desestabilização — apesar do terrorismo praticado por parte do mercado.
* * *
Com Aécio, a economia será submetida novamente a uma política de arrocho
fiscal. Haverá refluxo na atuação do BNDES, fim das políticas de
incentivo fiscal, redução da ênfase nas políticas sociais, interrupção
no processo de reaparelhamento técnico do Estado. Se venderá novamente o
peixe da “lição de casa” e do pote de ouro no fim do arco-íris.
Assim como FHC, Aécio estará ausente do dia a dia. Mas certamente se
cercará de um Ministério de primeira grandeza e há uma lógica econômica
por trás de suas propostas.
Até onde pretenderá chegar com o desmonte do Estado social, é uma incógnita. Mas age com racionalidade.
Já Marina é uma incógnita completa.
Primeiro, pelos grupos que a cercam e que querem um pedaço desse
latifúndio. E ela não tem um grupo para chamar de seu, a não ser para o
tema restrito do meio ambiente.
Haverá uma disputa dura para saber quem a levará pela mão: economistas
de mercado, os grandes empresários paulistas, ambientalistas radicais,
os egressos do PSB e — se Marina se consolidar — os trânsfugas do PSDB
paulista.
O segundo dado é o mais confuso: a personalidade de Marina que nunca foi de admitir ser conduzida por ninguém.
Os que conviveram com Marina no governo reforçam algumas características:
Dificuldade em entender economias industriais.
Baixo pique operacional. Praticamente não conseguiu colocar de pé
nenhuma de suas propostas à frente do Ministério do Meio Ambiente.
Jogo de cintura nenhum.
Tudo isso seria contornável, não fosse um aspecto de sua personalidade:
teimosia e voluntarismo exacerbados. No governo Lula era quase
impossível a outros Ministros definir pactos com Marina. Nas vezes em
que era derrotada, costumava se auto-vitimizar.
Os empresários paulistas que apoiaram sua candidatura estavam atrás do
símbolo político, o Lula de saias, o Avatar dos novos tempos. Vice de
Eduardo Campos seria o melhor dos mundos, pois o presidente asseguraria a
racionalidade do governo.
Colocaram como seus porta-vozes economistas, importaram o brasilianista
André Lara Rezende, que encontrou a melhor síntese para casar o livre
mercadismo com as propostas ambientalistas de Marina: o país não pode
crescer para não comprometer o equilíbrio do meio ambiente mundial. Quem
chegou, chegou, quem não chegou não chega mais.
Experiências recentes do país indicam que o componente pessoal, a
psicologia individual é um ponto relevante na análise de figuras
públicas.
Resta saber se o país está disposto a pagar para ver.
Para os mercadistas: aguardem um mês de campanha antes de iniciar a
cristianização de Aécio, para poder entender melhor a personalidade de
Marina.
É preferível um Aécio na mão que duas Marinas voando.
Luís Nassif
No GGN
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