247 – Juan Delgado, médico, cubano e negro foi
escolhido, pelas circunstâncias, como o homem do ano no Brasil em 2013.
Não houve eleição, pesquisa ou enquete, assim com a escolha, pela
revista Time, do Papa Francisco como Homem do Ano no mundo foi exclusiva
de editores - e reconhecida consensualmente como acertada.
Para destacar o dr. Delgado, o que valeu para 247 foi a reflexão do
que ele simbolizou como resumo sem açúcar do que foi batido no
liquidificador político, social e econômico do País nos últimos doze
meses.
Entre todas as polêmicas levantadas contra o governo no debate
nacional, o Mais Médicos foi a verdadeira mãe de todas as batalhas.
Apostou-se, na virada de 2012 para 2013, no apagão de energia. Mas
rapidamente esse espirro de desinformação editorializada se dissipou
frente a realidade de abastecimento normal. Os fantasmas da inflação e
do estouro das contas públicas assombraram apenas as páginas da mídia
familiar, não tendo se materializado até agora, vésperas do Natal. No
ano que vem, a propaganda a favor dos fantasmas irá continuar.
Quanto ao Mais Médicos, foi atacado por um setor da sociedade de
bastante peso e grande capacidade de articulação. Estudantes de
Medicina, médicos e suas entidades uniram-se como nunca se vira, para
atacar com todos os argumentos a iniciativa do governo federal,
igualmente inédita no País - a de povoar os rincões com baterias de
médicos nacionais e estrangeiros encarregados do primeiro combate aos
sinais de doença entre a população.
Como o fantasma que juntaria o apagão, a inflação e o desemprego não
se materializou, não se pode elegê-lo "homem do ano". Até porque, para
tanto, teria ele de ser mesmo homem – ou mulher.
DILMA? - Neste caso, a escolha poderia muito bem
recair sobre a presidente Dilma Rousseff, o que não seria nenhuma
escolha pelo critério chapa branca.
Afinal, quem estava com a face na vidraça quando as manifestações de
massa de junho tomaram as capitais? Quem estava em Brasília como alvo
certo no momento em que houve até mesmo incentivo midiático para um
quebra-quebra às instituições? Quem mais pelejou em eventos e
entrevistas, dia após dia, para garantir a política econômica, evitar
crises institucionais, ora assopradas pelo Supremo ora pelo Congresso,
ou pular as cascas de banana jogadas às pencas aos seus pés? Dilma.
Por muitos motivos, e sobretudo pelos resultados de gestão alcançados
num ano tão longo e de difícil travessia – com o saldo espetacular das
concessões em infraestrutura, a inflação na meta e o saldo recorde de
empregos -, a presidente pode ser vista, no Brasil, como a Mulher do
Ano.
Mas para apontar um primeiro de ranking, vamos de Juan Delgado.
As circunstâncias, repita-se, escolheram o médico cubano para ser a face mais representativa de 2013 no Brasil.
Entre os mais de quatro mil médicos estrangeiros que desembarcaram no
Brasil para tomar lugar no programa Mais Médicos, perto da metade é
formada por cubanos. Desse contingente, principal alvo dos médicos e
estudantes descontentes com o programa em razão de sua origem cubana – e
cor da pele negra -, Juan Delgado virou destaque. Em Fortaleza, a
exemplo de todos os seus colegas que chegavam para a primeira
ambientação no País, ele foi recebido por um corredor polonês.
"Escravo!", gritava a horda de médicos e estudantes de Medicina do
Ceará, numa tentativa de humilhação que ganhou adeptos entre colunistas
que se consideram civilizados. Inacreditável. Num primeiro momento, Juan
Delgado, cuja foto percorreu o País num recorde de publicações, ouviu o
coro contra si ganhar a simpatia de muita gente.
REVIRAVOLTA - Logo depois, porém, mais gente ainda
armou a solidariedade a ele, aos profissionais e ao programa Mais
Médicos. Uma a uma, todas as provocações e impasses levantados pelas
entidades médicas com a colaboração da mídia familiar caíram em
instâncias judiciais. O preconceito das críticas tornou-se claro até
mesmo quando escondido pela ideologização do debate. A manifestação de
racismo de um punhado de cidadãos do Ceará vestidos de branco foi
reproduzida por inúmeros setores, mas suplantada pela reação coletiva de
uma sociedade que, goste ou não a elite, acabou com a escravidão em
1888.
Além das circunstâncias, o dr. Delgado agiu efetivamente como um
homem referencial em 2013. Posicionou que jamais sentiu-se escravo por
viver no regime socialista de Cuba. Ele deixou claro considerar-se um
construtor de um mundo mais fraterno e apoiador de um regime que também
tem como marca a solidariedade internacionalista. Relevou as críticas,
não devolveu nas mesmas moedas as ofensas que recebeu, mas
transformou-as em riqueza para a sua causa. Com uma postura que marcou a
diferença, ele confirmou a crença de muitos na evolução da sociedade e
deu uma lição de comportamento e correção.
A noite de Natal, Juan Delgado passará ao lado de seis outros médicos
e dos índios da aldeia para a qual ele foi enviado, a 316 quilômetros
de São Luís, no Maranhão.
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