O amigo de Charlie Brown está desolado. Depois de 34 anos, o cantor
Benito Di Paula terá que deixar o casarão onde vive no Morumbi, bairro
nobre da zona oeste de São Paulo. Motivo: o imóvel será desapropriado
pelo Metrô.
"Gostei dessa casa desde a primeira vez em que a vi. Meus filhos
nasceram aqui, tudo da minha vida aconteceu aqui", diz Benito, 71.
A casa, um sobrado de cinco dormitórios, sala de discos e piscina, foi
comprada em 1979 com o dinheiro obtido com "Charlie Brown" e "Mulher
Brasileira", dois dos seus sucessos em meados dos anos 1970, auge da
carreira.
Agora, o Metrô quer o terreno, de 537 metros quadrados, para erguer ali
(e em casas vizinhas) a estação Américo Maurano, parte da segunda fase
da linha 17-ouro, servida por monotrilho.
Pois o tormento do cantor começou no ano passado, quando o governo do
Estado informou que iria desapropriar o imóvel. Em março último, veio o
passo seguinte: o Metrô entrou na Justiça para obter a posse da casa.
IMPASSE
Deu-se o primeiro impasse com o valor do imóvel. O Metrô ofereceu R$ 549
mil na casa do cantor, montante que, diz a empresa, se baseou no valor
venal do imóvel, sempre menor que o de mercado.
Benito reagiu: "Querem me dar um preço na minha casa que não dá nem para comprar uma quitinete, meu irmão".
O cantor contestou o valor, segundo ele incompatível com o tamanho da casa e as melhorias que há no entorno.
Como é praxe nesses casos, um perito nomeado pela Justiça foi até o
imóvel e fez nova avaliação: R$ 1,1 milhão. O profissional escreveu que a
casa está em "razoável" condição, mas com pisos rachados na sala e
fissuras.
O Metrô aceitou o novo valor. Benito --que preserva a cabeleira, os
brincos e anéis de décadas atrás e vive de shows pelo Brasil--, não:
"Minha casa vale pelo menos R$ 2 milhões. Minha sala tem 100 metros. Só
na cabeça desses caras é que não vale...".
À Folha um especialista estimou a casa em R$ 1,2 milhão.
SÓ O JUSTO
Se lhe pagarem o justo, ele sai: "Quero um preço para comprar uma casa
igual ou parecida. Se eu fosse milionário, dava minha casa para o Metrô.
Mas não sou". O advogado do cantor irá encomendar uma outra perícia.
A saída é questão de tempo. Tudo dependerá de o Metrô depositar o valor
em juízo (parte já foi depositada, a outra será em breve).
Quando isso acontecer, a Justiça dará a posse para o Metrô --e a Benito
será estabelecido um prazo para deixar a casa, em cujo portão estão
grafados um "U" e um "V", iniciais de Uday Vellozo, seu verdadeiro nome.
Triste, diz, é deixar uma casa com tantas lembranças.
Não que tenha recebido tantos amigos ("sou muito solitário"), mas a casa
lhe traz recordações da família e da carreira, como mostram discos na
parede, o piano Fritz Dobbert na sala e músicas que compôs ali -como
"Amigo do Sol, Amigo da Lua", trilha da novela "A Gata Comeu", de 1985.
"Eles querem tomar minha casa. Fica difícil, meu irmão."(Da folha de são paulo)
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