Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A
declaração de guerra de Eduardo Cunha lançou uma pergunta que pode
definir o futuro do governo. Afinal, o PMDB vai abandonar a presidente
Dilma Rousseff?
É
cedo para responder, mas os primeiros sinais não foram bons para o
presidente da Câmara. Minutos depois de ele anunciar seu rompimento com o
Planalto, o partido informou à praça que continua na base aliada.
Em
nota redigida por Michel Temer, a sigla classificou o rompante do
deputado como a mera "expressão de uma posição pessoal". Uma decisão
coletiva, esclareceu o vice, só poderia ser tomada "após consulta às
instâncias decisórias do partido".
Tido
como aliado fiel de Cunha, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo
Picciani, também evitou endossar sua radicalização. Cauteloso, tratou a
fala como "posição expressa de forma pessoal" e acrescentou que a
bancada debaterá o tema em agosto, após o recesso parlamentar.
O
presidente do Senado, Renan Calheiros, foi mais um a deixar o deputado
falando sozinho. Desmarcou uma entrevista e deixou o Congresso por uma
porta lateral, em silêncio.
O
PMDB comanda nada menos que sete ministérios no governo: Minas e
Energia, Agricultura, Turismo, Pesca, Portos, Aviação Civil e Assuntos
Estratégicos. Além disso, controla centenas de cargos em estatais,
autarquias e superintendências.
Para
se juntar à cruzada contra o Planalto, os peemedebistas teriam que
abrir mão de todas as verbas e benesses. Seria uma guinada brusca para a
sigla, escorada há mais de duas décadas na máquina federal.
Alvejado
pelo delator Julio Camargo, que o acusou de cobrar propina de US$ 5
milhões, Cunha também termina a semana abandonado pela oposição, que
apoiou sua escalada como tática para desgastar o PT.
Perito
na arte de retaliar adversários, o presidente da Câmara conserva os
poderes do cargo e ainda pode mobilizar sua tropa contra o governo. Até
aqui, no entanto, parece ter iniciado uma guerra de um homem só.
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